O Natal é comemorado anualmente no dia 25 de Dezembro (para os ortodoxos que seguem outro calendário é no dia 7 de Janeiro e para os japoneses em 22 de Novembro) para celebrar o aniversário de Jesus de Nazaré, o messias dos Cristãos. Apesar de ser feriado específico de uma religião, muitos não-religiosos abraçam a data – que é feriado em grande parte do mundo. Há o Hanukkah, ou Chanukkah, que é uma festa judia, também conhecida como Festa das Luzes (24 de Kislev a 2 ou 3 de Tevet),  comemorada em data próxima ao Natal de acordo com o calendário do Judaico. Além do significado religoso existe uma figura que ficou conhecida como Papai Noel (Pai Natal em Portugal) que traz presentes para as crianças na virada do dia 24 para o dia 25. É por essa data ser tão conhecida e, para muitas pessoas, época de trocar presentes que indicamos livros para cada membro da família.

Pips para o irmão caçula: Se você quer que seu irmão caçula comece a usar a imaginação e se empolgar com alguma história que realmente mexe com as emoções, compre a série Fronteiras do Universo de Philipp Pullman. Composta pelos livros A Bússola Dourada, A Faca Sútil e A Luneta Âmbar; no primeiro exemplar seguimos Lyra e seu dæmon – a personificação da alma em forma de algum animal – Pan por mundos gelados, ursos que vestem armaduras e outras dimensões (a nossa inclusive), onde bruxas podem ser boas e religosos são cruéis. Lyra é uma leitora natural de um aletiômetro (um leitor de verdade). No segundo exemplar seguimos Will que, após matar um homem, foge atrás de uma gata e para na dimensão de Lyra que o ajudará a encontrar seu pai. Os dois tem uma ligação muito forte e esquisita. Will porta um artíficio chamado A Faca Sútil que consegue cortar qualquer coisa. No último livro vemos uma guerra iminente entre anjos, espectros, bruxas e muitas outras criaturas, porém essa batalha poderá acabar com todos os mundos e toda a criação. Entre o mundo dos vivos e dos mortos, Will e Lyra tentarão salvar nosso universo. Claro que esse é um pequeno resumo e eu nem falei do (ficou curioso? Então compre para seu irmão e quem sabe ele não te conta ou empresta depois).

Anica para o Pai clássico: o pai clássico não quer invencionice mas também não aguenta mais ganhar meias e perfume. Como agradar? Oras, com um clássico! Vencendo os anos, agradando todo tipo de leitor, um livro se torna um clássico e uma escolha certa para o pai nesse natal. No caso, tente O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde. ((Download Grátis disponível na Biblioteca Meia Palavra)) A história do jovem que faz com que um retrato envelheça em seu lugar já faz parte do imaginário coletivo. Há tantos elementos na história que é impossível que pelo menos um não o agrade: drama, humor, terror. O romance tem boa parte dos aforismos do escritor que vivem repetindo por aí, como o eterno “A única maneira de livrar-se de uma tentação é entregar-se a ela”.

Luciano para o amigo Judeu: O Natal celebra o nascimento de Cristo. Logo, no judaísmo, não temos Natal. Mas temos o Hanukkah, ou Chanukkah, a festa das luzes, em que se comemora a reedificação do Templo de Jerusalém (que depois foi destruído de novo, mas tudo bem), e que acaba sempre caindo em datas próximas. Sem contar que o Natal já adquiriu um sentido secular. Então nada melhor para o seu amigo judeu do que um exemplar de Breve Sexta-Feira, de Isaac Bashevis Singer. Se ele for um judeu religioso os elementos de cultura popular ídiche devem agradar. Caso ele não seja, sem problemas: além de também incorporar muito da cultura secular judaica, Singer é um bom autor per se, independentemente de qualquer outra coisa.

Tiago para o amigo ateu: Se você tem aquele amigo meio ambíguo que não vê sentido no Natal, mas, por mais contraditório que isso possa parecer, não larga mão de participar do amigo secreto, um bom presente é “Porque não sou cristão” de Bertand Russell, que depois de muitos anos, voltou às estantes pela L&PM. Filósofo e matemático britânico, ganhador do Nobel de Literatura de 1950, Russell teve uma longa e produtiva carreira no campo da ética e da lógica, que acabou rendendo-lhe uma série de acusações públicas por atentar “contra os bons costumes norte-americanos” (lecionou por vários anos na Universidade da Califórnia), crime pelo qual foi inclusive julgado e condenado (mais de um livro seu, inclusive o aqui em questão, foi proibido), não só pelo seu ateísmo furioso e irônico (bem ao estilo inglês), mas também por tocar em assuntos como a pertinência do casamento, a educação sexual infantil e os efeitos psicológicos (dos quais ele destaca a esquizofrenia, mas a lista é mais longa) do celibato. Hoje, em que o exercício do ateísmo vem sendo recuperado, esse livro de Russell, não sem razão, vem sendo recuperado por autores como Stephen Pinker e Richard Dawkins.

Kika para o padrasto cult: Se você, como eu, tem um padrasto que é uma enciclopédia ambulante, que aparentemente sabe tudo, fez não sei quantas faculdades, fala não sei quantos idiomas, e ainda assim é super legal, indico para este Natal o livro “O Mundo em uma frase – uma breve história do aforismo” de James Geary. De maneira inteligente e divertida, o autor transformou seu hobby de colecionar aforismos num trabalho científico, muito bem pesquisado. Nele, ele conta a história do aforismo através de alguns de seus mais célebres praticantes, como Shopenhauer, Mark Twain, Confúncio e Emily Dickinson. De quebra, ele pode conhecer um pouquinho mais da vida destas belas personalidades e ainda ganha uma mini-biblioteca de aforismos. Aposto que ele vai gostar…

Liv para a Mãe Jovem: Ostra feliz não faz pérola, de Rubem Alves é quase uma versão moderna daqueles livrinhos “pílulas de sabedoria”, mas com um título muito mais peculiar (assim como vários escritos do autor). Repleto de pensamentos sobre crianças, amor, beleza, velhice, vida e morte. Indicado não só para as mães jovens, como para qualquer pessoa que admire um bom livro. Rubem Alves é um sábio e para um bom entendedor, meia palavra ba…

Lucas para os jovens incertos quanto ao porvir:  Qualquer data é motivo para indicar ou ler O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger, mas o Natal, bem como o final do ano, é um momento de fazer a retrospectiva e projetar o ano vindouro. Porém, esse final de uma etapa representa um dilema quanto às incertezas em relação ao futuro, deixando os jovens que terminaram o ensino escolar ou a faculdade a deriva no mar de possibilidades e desafios. O Holden certamente trará um relato de como é estar nessa posição, nesse intermezzo entre um processo e outro, esse limbo que se interpõem entre duas etapas. Não seria necessariamente um alento, mas a oportunidade de perceber que não estamos sozinhos nessa aparente solidão de decisões a serem feitas e incertezas a serem enfrentadas, e que podemos enfrentá-las com sarcasmo e bom humor (negro).

Palazo para o Avô jovem: Nunca tive a proximidade de um avô de parentesco, meus avôs sempre foram “alugados” e com espírito jovem. E para este avô, seja “alugado” ou legítimo, indico O livro perigoso para Garotos dos irmãos Hal e Conn Iggulden. O livro é um resgate ao passado com histórias sobre pescaria,batalhas nacionais e mundiais, piratas, ciência e uma breve história do Brasil (na versão nacional). Além disso explica truques cartas e moedas, ensina a montar aviões, barcos e chapéus de papel, fala sobre jogos como pôquer e futebol de mesa, jogos de papel e lápis como forca, quadrados, adedanha e jogo da velha. Mas não deixe seu avô ler esse livro solitariamente, volte a infância junto com ele jogando jogos de papel, brincando de piratas, montando atiradeiras (estilingues) para acertar em latas ou então em como fazer pedras ricochetearem n’ água. Um livro perigoso por ter o poder de unir avôs, pais e netos no resgate da infância.

Dindii para a ovelha negra da família: Toda família tem aquela pessoa mais diferente, deslocadona, excêntrica e com problemas de comunicação. Talvez o natal seja um dos poucos momentos do ano que ela se reúne ao resto da família pra celebrar. E já que a data é de acolher, não vamos deixar a ovelha negra sem um bom livro de presente, né? Miranda July é autora certa. Cineasta, artista, escritora, e tudo mais que você pode imaginar, ela própria é uma esquisitona, uma pessoa que vive totalmente imergida no seu mundo paralelo. “É claro que você sabe do que estou falando” já tem um título instigante, uma capa mais bizarra ainda (com a foto de uma mulher abraçando vários travesseiros) e a leitura dos contos, reunidos ao longo do livro, mostra os mais diferentes tipos de pessoas com suas neuras, pensamentos e divagações, cada vez mais estranhos (e com uma pontada de drama). Qualquer ovelha negra se identificaria e até, quem sabe, se sentiria uma pessoa mais normal. E só pra vocês sentirem o grau da loucura, os contos passam por casos como o de duas amigas que fogem de casa pra viver com todos os riscos, uma vizinha que conta os dias que deve usar o quintal compartilhado pra não perde-lo, aulas de natação em piscina imagiária e divagações alucinantes envolvendo a corte inglesa.

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