Dividindo o mundo em três tipos de pessoas e suas relações com a culinária temos: Aquelas que são as grandes mestras e soberanas da gastronomia, aquelas que se viram e sabem cozinhar o feijão com arroz e bife e, por fim, as que só vivem de delivery e restaurante.

Pra mim, somente o primeiro grupo encararia com prazer a leitura sobre culinária. Mesmo não se tratando de um livro de receitas, achava que só o público que realmente enxerga a culinária como arte e se dedica horas a cozinhar um prato, teria prazer e paciência para consumir literatura acerca do tema. Mas isso foi antes de eu conhecer a Nina Horta.

E ela sempre esteve ali, presente na minha vida, perdida entre os cadernos e páginas do jornal Folha de São Paulo. Mas nunca tinha lido até o meio desse ano, quando uma amiga (que se encaixa no grupo e mestras e soberanas da gastronomia) me veio toda entusiasmada com um recorte do jornal. Decidi então encarar o livro “Não é Sopa”, que reúne as crônicas publicadas no jornal ao longo do tempo. Além disso, também trás algumas receitas (que, confesso, ainda não me arrisquei em preparar).

A leitura surpreendeu. Acho que, até aqui, pelo meu modo de falar sobre o tema, todos vocês já perceberam que eu não sou a grande cozinheira do século. Já Nina Horta entende muito bem do assunto, e consegue trazer, em sãs crônicas, personagens variadíssimos que, não necessariamente cozinham, mas, como todo ser humano, se alimentam. E podem fazer isso de inúmeras formas: Sozinhos, em rituais, para celebrar, pela pressa, pela necessidade e enfim, são infinitas as possibilidades. Todos nós temos uma boa história pra contar em algum momento em que estávamos comendo, seja num churrasco familiar, num happy hour com amigos ou na praça de alimentação de um shopping. E é essa realidade que Nina Horta abrange.

As crônicas vêm divididas em temáticas, que passam desde opiniões, jejuns e festas, até escritores e livros. Gostaria de dar destaque, aqui, para três crônicas que me chamaram mais a atenção. A primeira chama-se “Comedores solitários e suas batatas” é logo a segunda do livro, inserida na parte de “opiniões” e fala sobre ir a um restaurante e comer sozinho. Ler essa crônica foi divertidíssimo porque lembrei de tantas vezes que eu passei pela mesma situação: Pegar um livro pra fazer o tempo passar mais rápido enquanto a comida não chega, desconfiar que todo mundo está notando que você está sentado sozinho ou se perguntar porque diabos as garçonetes do restaurante do shopping mudam toda semana.

A segunda, que também gostei bastante, chama-se “Natais” e, como o próprio tema diz, fala sobre a data comemorativa e como a tradição e comida se misturam na data, como os anos mudam e a religiosidade embarca em meio a isso tudo.

Por fim, a crônica chamada “Chá das cinco”, em que temos a história de um grupo de velhinhas e uma conversa após o tão conhecido chá das cinco dos britânicos. A história começa com uma discussão e em poucas linhas, o chá das velhinhas se transforma num navio, com lembranças e riqueza de narrativa. “Foi só naquele dia, em meio a revoada de velhinhas entupidas de doces, obsessivas, que entendi o chá inglês com toda a sua enormidade”

Saiba mais sobre essa e outras obras no site da Companhia das Letras

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