Continuando com as resenhas dos indicados à Melhor Filme do Ano no Oscar (para ver a primeira parte do artigo, clique aqui). Desta vez, o assunto é “A Rede Social”, “127 Horas” e “A Origem”.
O primeiro filme, A Rede Social (The Social Network, 2010), se baseia em fatos reais e conta a história de Mark Zuckerberg (interpretado por Jesse Eisenberg), que desenvolve uma das redes sociais mais populares do mundo – o Facebook. Estudante de Harvard, o aluno passa a ter reconhecimento entre os amigos, mas, por outro lado, com o crescimento do site, precisa enfrentar conseqüências e processos judiciais.
Com 8 indicações ao Oscar e 4 premiações no Globo de Ouro, fica impossível dizer que A Rede Social não é um dos favoritos a levar prêmios da cerimônia. A produção, dirigida por David Fincher (de Clube da Luta), é muito bem feita, em uma narrativa que se estrutura muito bem no roteiro.
O filme trata sim do surgimento do Facebook, porém, ele se foca na vida de Mark, desde o momento em que ele tomou um fora da namorada e teve a idéia de implantar um site na faculdade para se vingar. Depois disso, ele é convidado a criar um site para um clube da faculdade e acaba desenvolvendo o “The Facebook” paralelamente, junto com o seu companheiro, Eduardo. O roteiro é feito através de longos flashbacks. Tem-se o presente, que é o julgamento da ação entre Eduardo e Mark, e os flashbacks nos mostram a ação judicial de plágio movida contra Mark por dois irmãos de Harvard, bem como todo o processo de criação do site.
Normalmente, flashbacks são considerados clichês e soluções, em extremos, fracas ou confusas para um filme. Mas no caso de A Rede Social, temos a clareza do que está acontecendo e, ao mesmo tempo, não é se trata de uma solução clichê, mas sim toda uma estruturação da história, feita propositalmente assim, de forma que mantém o espectador preso à narrativa. Outro ponto bom para o roteiro são os diálogos, muito bem desenvolvidos e naturais. Mark é um perfeito nerd, mas não cai em um estereótipo.
Outro filme que também concorre ao prêmio e é baseado em fatos reais é o 127 Horas (127 hours, 2010), dirigido por Danny Boyle. Talvez tenhamos personagens retratados de forma mais estereotipada neste caso, mas a narrativa, com certeza, é bem diferente da maioria. O filme é daqueles poucos em que uma idéia simples cria toma proporções. Posso resumir toda história em algumas palavras: Um alpinista escala um Canyon de Utah, sofre um acidente e fica preso entre as rochas.
E como é que um longa-metragem consegue manter um público interessado durante 90 minutos tão somente com isso? Tudo bem, o personagem (interpretado por James Franco) está lutando contra o tempo para salvar sua vida. Ele está com o braço preso em uma pedra e tem alguns objetos na bolsa que podem ser a solução para sua escapada, mas é preciso muito mais do que isso para desenvolver uma narrativa tão longa. Por isso, são acrescentados delírios e memórias (que entram em forma de flashbacks, nesse caso, bem mais óbvios e simples do que os vistos em A Rede Social). A receita parece ter dado certo.
Uma coisa que eu não gostei tanto foi a edição, que, apesar de ser bem dinâmica em geral, é um pouco clichê em alguns detalhes, por exemplo, no momento em que o personagem tira fotos ou rebobina a fita. Talvez tenha sido uma opção do diretor em mostrar que o filme se passa em 2003.
Mas o filme é, em minha opinião, muito interessante. Destaco como pontos positivos: Aproveitamento muito bem feito do ambiente sonoro, que, por vezes, é usado pra marcar tempo (através de estações de rádio), além de ser indicador de como o personagem está se sentindo (podemos ouvir, em vários momentos, cada gole que ele toma de água, ou as batidas de seu coração).
Os enquadramentos, com câmeras subjetivas e planos muito bem escolhidos, também contribuem para dar o efeito de aflição, isso, sem mencionar, os planos do final do filme (vou me conter pra não dar spoiler nesse momento), não é por acaso que várias fontes estão noticiando desmaios nos cinemas.
O último filme que eu vou falar hoje não causou desmaios no cinema, mas, com certeza, tanta ou mais perturbação do que 127 horas – A Origem (Inception, 2010). A narrativa gira em torno de Dom Cobb (Leonardo DiCaprio). Ele interpreta um profissional capaz de fazer extração de informações secretas e preciosas, invadindo o sonho das pessoas e pegando-os em seus inconscientes. A habilidade de Cobb faz dele uma importante chave para um empresário industrial. Realizar o trabalho para esse homem poderá levá-lo de volta para seus filhos, que estão longe dele porque os Estados Unidos acreditam que Cobb matou sua mulher. No entanto, dessa vez, ele não terá que roubar uma idéia, mas sim implantá-la na cabeça de uma pessoa. Ele reúne uma grande equipe, que precisará chegar ao mais fundo da mente e, para isso, entrarão no sonho do sonho do sonho (é isso mesmo) da vítima, Robert Fischer . Cada sonho é tratado como uma “camada” da mente humana.
A Origem é dirigido por Christopher Nolan, de O Grande Truque, filme que também trabalha com a temática da ilusão. Quem assistir A Origem vai poder sentir uma certa semelhança com Matrix, ao levar o público a questionar o que é realidade e o que é uma projeção, além, é claro, das cenas de luta e perseguição.
A edição rápida, sem falar nas distorções de tempo-espaço em que os personagens realizam ações, podem causar muita confusão e dificuldade de entendimento para o público. O filme é, com certeza, daqueles em que, se você perde uma cena, é melhor começar do início novamente.
Como qualquer grande produção, que trabalha com realidade versus ilusão ou roteiros complexos, o filme foi criticado por alguns, por conter alguns erros conceituais. Mas, na minha opinião, a temática abordada na narrativa é difícil e abstrata e gostei bastante dos desfechos e ganchos do roteiro. Isso sem mencionar as cenas, que são realmente impressionantes e vão, desde o slow-motion, até a construção instantânea de cidades.
Para mim, o filme, além de trabalhar com uma temática que eu já me identifico, conseguiu ser surpreendente e muito imaginativo. Cobb traça duas lutas: Uma contra a mente de Fischer e outra contra seu próprio inconsciente e memória. As proporções em que esse duelo chega são impressionantes. O looping de diálogos, objetos e cenas ajudam o público a identificar e até mesmo temer a Mal, (ex mulher de Cobb, que é a forma personificada inconsciente do personagem). O filme é a mistura de ciência, ficção, psicologia e um toque de inspiração.
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