Quando começamos o projeto blog, site, portal, whatever do Meia Palavra éramos apenas leitores comportados que queriam transpor suas opiniões além do fórum – que já era um lugar muito bom para discussões acirradas sobre nossos livros favoritos – para algo mais acessível para quem não estava acostumado com listas de discussões pela internet. Não sabíamos com que frequência atualizaríamos e, muitos menos, os assuntos. No ínicio queríamos colunas com assuntos pontuais onde cada um falaria daquilo que considerava ser a sua “área”: literatura estrangeira, literatura brasileira, cinema, música, HQ, etc. Acabou tornando-se um site que agrega opiniões e resenhas da equipe e dos colaboradores – usuários do fórum ou visitantes – que tem o que falar. Abrimos espaço para diversas vertentes culturais sem nunca esquecer o seu principal pilar: a literatura e com parcerias, resenhas, entrevistas e análises de obras através do Meia Palavra Explica e Indica.

No meu caso foi um espaço que ajudei a criar para expandir meu olhar crítico e, claro, também virou uma escola que toda vez que olho para trás noto como minha escrita evoluiu e minha visão sobre o mundo literário tornou-se mais aguçada com a ajuda de todos que escrevem aqui e dos muitos amigos que nunca imaginei fazer. Antes eu era uma pessoa totalmente cinéfila, ia ao cinema de duas a três vezes por semana e tentava manter um blog sobre a sétima arte, mas como se não bastasse, abri um blog pessoal para escrever textos diversos inspirados nos escritores que inocentemente eu acompanhava. Com o crescimento do Meia Palavra e o meu como leitor, a minha paixão pela literatura aumentou e deixei o cinema em segundo plano, só que nunca esquecido, tomando um caminho oposto aos muitos amigos que mudaram seu foco da literatura para o cinema. Acontece.

Voltando ao crescimento do Meia Palavra, creio que estava mais do que na hora da nossa equipe expandir seus horizontes criativos, retornando a questão das colunas, e dar uma voz forte e ativa aos seus textos, mas nossas resenhas já tinham um forte apelo e um público bem fiel – isso soaria como um tapa buraco? Longe disso. Sugeri que cada um, se fosse de sua vontade, criasse uma coluna mensal para falar da literatura, das influências em suas vidas e sobre outros assuntos que nos movem, e assim as colunas do Meia Palavra foram criadas, um espaço além das resenhas e para que nossos visitantes se aproximassem mais do nosso mundo e da nossa visão dele, seja com o apoio da literatura ou sem ela. Afinal, no livro de Vila-Matas, Bartleby e companhia, ele fala sobre o Mal do silêncio e a Síndrome de Bartleby, aquela em que o autor, ao chegar em um êxito literário, desiste por vez de  escrever, mesmo que o escritor em questão não se ache digno de um ápice.

Por isso, a partir dessa quarta-feira (e toda primeira quarta-feira do mês), a minha coluna, Gatos Empoleirados, estreia como uma nova aposta do Meia Palavra – de tantas outras que espero que venham -, mas antes explicarei o porquê desse título curioso. Meu amigo Gabriel, um músico “natural” com uma inteligência fora do normal, é um grande admirador de Chris Marker, um documentarista francês que dirigiu Sans Soleil – um filme que mistura documentário através de suas imagens de diversas parte do mundo e uma narrativa filosófica aparentemente desconexa -, La Jetée, curta-metragem que inspirou Os 12 Macacos de Terry Gilliam, e Chats Perchès que dá título a essa coluna. O título veio a mim, pela primeira vez, quando mochilei por Paris com Gabriel e ele citou o tal diretor num dia em que caminhamos pelo Louvre, e por quê não lá?, e com sua fiel câmera mini-dv registrou os gatos mumificados do museu. Quando voltamos ao Brasil, meu amigo mostrou as filmagens que fez na nossa viagem e do documentário de Chris Marker, a incrível semelhança, a coincidência ou o destino – como queiram chamar. Eu, por minha vez, escrevi uma crônica, de mesmo título, romanceando os dias em que passamos na capital francesa.

Coincidências e cotidiano, essa coluna talvez seja sobre isso, talvez!, mas também sobre outras curiosidades que chamem minha atenção pelas ruas de São Paulo, pelos labirintos da literatura, pelas salas de cinema ou num simples domingo balançando numa rede sem pensar em nada. Seja qual for o futuro dessa coluna, espero usá-la como um campo de batalha entre as palavras e o silêncio, evitando, de certa forma, contrair a Síndrome de Bartleby, porque prefiro textos fracassados – longe da preguiça felina – a não ter mais que escrever.