Não sei o que o escritor chileno Roberto Bolaño pensaria a respeito de todo o frisson que existe ao seu redor. Pela natureza de sua obra- com todo o conteúdo que vai contra o estabilishment literário- acho que talvez ele não achasse isso a melhor das coisas. Ou talvez eu me engane.

De qualquer maneira, fosse ele gostar ou não, o que importa é que ele está bastante em voga. Quase todas as pessoas que eu conheço já leram, querem ler ou acham que deveriam ler alguma coisa dele. O que é bastante merecido,  verdade, pois Bolaño realmente é um dos melhores e mais singulares escritores que conheci nos últimos anos- e talvez o melhor dos que ‘explodiram’ recentemente (mesmo que de forma mais modesta se comparado a best-sellers, mas ninguém está contando com isso aqui).

O que me parece um tanto curioso é que não se fale a respeito de sua obra poética no Brasil. Não sei se a poesia não é editorialmente lucrativa ou se apenas ainda não chegou a hora. Mas parece-me uma falta grave, já que mesmo escrevendo majoritariamente obras em prosa, Bolaño sempre pensou em si mesmo como um poeta.

Em 1974 refundou, junto com Mario Santiago Papasquiaro, o movimento poético vanguardista infrarrealista. Essa corrente havia sido criada inicialmente por outro chileno, Roberto Matta, poeta, pintor, arquiteto e filósofo que foi expulso do surrealismo por André Breton. Com a readmissão de Matta no círculo surrealista, o infrarrealismo desapareceu até que Bolaño e Papasquiaro o retomaram.

O movimento, pelo menos na versão mais recente, tinha por objetivo “arrebentar os miolos da cultura oficial”. Aproximavam-se, em sua estética, da poética Beat, mas eram jovens latino-americanos em meio a ditaduras militares e a destituição de seus sonhos esquerdistas (o próprio Bolaño ficara oito dias preso no Chile, após o golpe de Pinochet, por ser parte de um grupo trotskista).

Os poemas de Bolaño carregavam narrativas sobre o cotidiano, sobre a literatura, sobre a condição do jovem poeta que ele era, tudo com uma estética bastante particular, que já evidenciava alguns dos traços dissonantes que estariam presentes posteriormente em sua prosa.

A prosa, aliás, desenvolveu-se a partir de seu afastamento do movimento infrarrealista. O motivo disso, porém, não foram discordâncias estilísticas ou filosóficas, mas a sobrevivência. Bolaño tornara-se pai e, com isso, decidira ‘abandonar sua existência beat‘. Sua prosa não nasceu da preocupação literária, mas da necessidade econômica de sustentar sua mulher e filhos, sua “única pátria”.

Foram publicados, em espanhol, cinco volumes dos poemas de Bolaño. ‘Fragmentos de la Universidade Desconocida’, ‘El último selvaje’, ‘Tres’, ‘Los perros románticos’ e, postumamente, ‘La Universidad Desconocida’, que contém todos os livros anteriores, além de ‘Amberes’, também entitulado ‘Antuérpia’, um texto em prosa poética que o autor afirmava ser o único de seus romances do qual não sentia vergonha.

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