Quando me mudei pra São Paulo, um dos primeiros lugares que passei a freqüentar foi o CineSESC, situado na Rua Augusta. Por lá, assisti muitos filmes cults de raríssimas exibições (e, acredite, me sentia mais inteligente depois de vê-los), fiz alguns cursos básicos de cinema, assisti palestras, conheci pessoas que viraram amigos, além de usar o lugar pra jantar, já que ele ficava há praticamente um quarteirão da minha casa e vendia salgadinhos ótimos e baratos. Durante esses 3 anos de vida na capital, criei um carinho muito grande por esse lugar.

Lembro que um dos primeiros cursos que fiz no CineSESC foi sobre Cinema Documentário. Antes disso, confesso que me interessava muito pouco pelo assunto, aliás, nem sei direito que tipo de impulso me fez ir parar nesse curso. Sempre fui uma pessoa voltada pra ficção quando o assunto era cinema, a arte visual para  as batalhas intergalácticas, animação, dramas psicológicos e guerras épicas.

Pra mim, o cinema permitia uma nova “realidade” que devia ser aproveitada, então não fazia muito sentido produzir qualquer coisa que tivesse obrigações  de fatos e com a verdade para as grandes telas.  No cinema, a gente pode fazer um recorte do real, usar o que nos interessa pra base de algo mais.  É a possibilidade de novas luzes e cores, enquadramentos detalhadamente pensados, cenários articulados e personagens criados para uma profunda empatia com o público. Mesmo que um filme fosse baseado em fatos reais, a ficção deixava tudo mais romântico e interessante. E mesmo que eu soubesse que um documentário podia ser bem diferente de uma grande reportagem ou jornalismo, eu continuava achando o formato engessado e muito frio para o público.

É, posso dizer que esse curso mudou muito minha posição. O que eu tinha até então era um preconceito de quem ainda não havia tido contato com filmes suficientes. O curso me apresentou um leque muito grande de referências, passando desde Dziga Vertov até Michael Moore. Uma aula em questão me chamou mais atenção do que as outras, pois falava de documentários musicais.  De todos os filmes apresentados, um sobre o Rolling Stones me fez ficar encantada diante das telas. O nome do filme era Gimme Shelter e o diretor era Albret Maysles. Esse curso e esse filme foram um primeiro passo para eu querer saber cada vez mais do gênero.

E então, anos-Luz depois, o In-Edit 2011 (Festival Internacional do Cinema Musical Documentário) que aconteceu até ontem, 08/05, em São Paulo e vai até o dia12 no Rio de Janeiro me proporcionou conhecer, ao vivo, o diretor que me fez gostar de documentários, Albert Maysles. E em que lugar aconteceu esse encontro? Justamente no CineSESC. (É, bota mais um na conta de motivos pra eu gostar tanto desse lugar).

Posso falar que ele esbanjou simpatia, respondeu as perguntas de todo mundo que estava na sala e ganhou ainda mais a minha admiração. (traduzindo: O cara é um figuraça).  Gimme Shelter continua sendo um filme vibrante, desses impossíveis de ver só uma vez. Talvez não tenha os melhores enquadramentos ou imagens muito claras em vários momentos, mas consegue provar que o documentário merece seu espaço, reconhecimento e pode ser tão marcante quanto qualquer ficção. O filme mostra um assassinato em meio ao show do Stones, que aconteceu por conta da “segurança” dos Hells Angels.  Não bastando isso, o documentário também sofre uma “meta-linguagem” no momento em que são filmadas e mostradas as reações da banda ao assistir trechos do filme. É uma boa indicação para quem mora ou vai estar no Rio por esses dias, afinal, esse filme só pode ser exibido com a presença do diretor, tornando o momento ainda mais raro.

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