Não sei se foi por ter assistido muitos filmes do Scorsese ou de qualquer outro diretor que versa sobre o caldeirão de nacionalidades e de conflitos que era o território de Nova York que tive uma impressão ruim de Brooklyn, livro do irlandês Colm Tóibín.

De antemão acho melhor depurar alguns elementos de expectativa que toldaram minha leitura da obra em questão para que não condenemos o autor por obra do resenhista. Quando vi que o livro contava a história de uma imigrante irlandesa que vem buscar novas oportunidades na terra do Tio Sam, já veio a minha mente o Frank Costello, seus comparsas e a tensão dos nacionalismos acirrados, e minha leitura se iniciou ao som (mental) de I’m shipping up to Boston, do Dropkick Murphys, no caudal de rememorações do filme Os infiltrados.

O “problema” é que, desse modo, minhas expectativas foram completamente frustradas e devo grande parte da minha falta de entusiasmo em relação ao livro a isso. Feita a mea culpa, vamos a análise da obra.

O livro se volta para a história de Eilis Lacey, uma jovem irlandesa que mora com a mãe e a irmã numa cidadezinha da Irlanda, onde trabalha em uma mercearia pequena com uma patroa não muito amistosa, sonha com a possibilidade de poder estudar contabilidade e trabalhar no setor administrativo ou adjacente em uma loja ou empresa. Ou seja, Eilis leva uma vida pacata e até certo ponto prosaica.

Desse plot que não anuncia grandes reviravoltas é que surge o primeiro percalço do livro: a possibilidade dela deixar o velho mundo e ir para a “terra das oportunidades”, ainda que, para tanto, ela precise deixar sua mãe, irmã e outros irmãos que moram na Inglaterra.

Com muito pesar e expectativa, Eilis deixa a Irlanda e parte para Nova York, onde passa a morar em uma espécie de pensão, propriedade da sra. Kehoe. Lá ela é amparada pelo padre Flood e começa a perseguir seus sonhos através do emprego de vendedora em uma loja de roupas, a Bartocci’s.

Ela conhece um italiano, Tony e passa a vivenciar as incertezas e felicidades do amor e toca sua vida, alternando o trabalho com os estudos de contabilidade, que lhe prometem melhorias salariais e de carreira, conflitos com suas colegas de moradia etc.

Como a .Izze disse, o livro trata de uma “problemática monótona”, e quanto à narrativa, acho que não se pode imputar a ela falhas quanto à fluidez e capacidade de traduzir sentidos em palavras, mas o problema é justamente que o autor fica tão preso ao enredo, que não transcende ou aprofunda. O que quero dizer é que Brooklyn é um livro agradável de se ler mas como narração de uma história quase por si mesma.

O fato do autor se preocupar tanto com o encadeamento de eventos de forma lógica de modo a formar uma trama coesa deixa pouco espaço para reflexões. Brooklyn é aquele tipo de livro que não reverbera longamente, embora trate sua problemática com sensibilidade.

Brooklyn é uma história que traduz os dramas de muita gente, não duvido disso, ainda mais no século XX, onde a quantidade de migrações e movimentos de pessoas alcançou cifras nunca antes vistas; mas, ao fazê-lo, se pauta na constância mais do que nas reviravoltas, nas situações-limite, nas reflexões, o que faz com que sua narrativa tenha um ethos que não aprecio muito, o que não quer dizer que ele não deva ser lido.