A jornada de Dante ao encontro de Deus, passando por todos os círculos do Inferno, Purgatório e Paraíso. Essa é, basicamente, a narrativa de A Divina Comédia, poema de estrutura épica originalmente escrito em língua toscana (próximo ao italiano) por Dante Alighieri no século XIV. A obra possui cerca de 15.000 versos decassílabos, agrupados em terça rima, divididos em 100 cantos e 3 partes. Durante a leitura, nos deparamos com um retrato do que seria cada espaço do além-vida e como cada alma seria condenada de acordo com seus pecados.
Evidentemente, esse clássico da literatura não pode ser resumido da forma como eu expressei no início desse texto sem deixar muitas informações de lado, a começar, pela forte crítica que Dante Alighieri faz à corrupção do papado e ao fato de ter sido expulso de sua cidade, Florença e, a partir daí ter tido que vagar de cidade em cidade da Itália. Além disso, o Inferno, Purgatório e Paraíso são lugares com vários desdobramentos e um destino específico para cada tipo de pessoa. Por exemplo, o Inferno possui 9 círculos, sendo vários subdivididos em regiões específicas e detalhadas pelo autor. Não bastando isso, a forma como se estrutura o poema também o torna uma leitura difícil e exaustiva, repleta de informação.
Contudo, o americano Seymour Chwast parece ter encontrado uma nova maneira de contar A Divina Comédia de forma simples e sem perder todos esses detalhes que eu mencionei. O autor teve a ideia de recriar o poema de Dante em Graphic Novel. Com ilustrações ora explicativas ora irônicas, a HQ consegue entreter e propor uma leitura mais leve, mas não necessariamente menos complexa.
É possível perceber que Chwast se preocupou em preservar informações e dados do poema original, mas não teve medo na hora de inovar e trazer a narrativa para a sua realidade. Virgílio e Beatriz conduzem um Dante vestido de sobretudo, óculos escuros, chapéu e charuto, o que já é, certamente, um apelo visual mais moderno. No entanto, a narrativa continua sendo alegórica, sendo uma história que representa toda a humanidade, uma vez que Dante faz a vez de um cidadão do mundo em busca de ideais e amor, misturados com a fé e busca de respostas.
A seguir, uma ilustração original do livro (em inglês) e seu trecho correspondente na versão de Dante correspondente ao canto IX do Inferno, em que Virgílio e Dante recebem autorização para adentrar no sexto círculo do Inferno, onde habitam os hereges, que ficam em tumbas rodeadas pelo fogo :
Então pelo caminho imundo estende,
Sem nos falar, os passos semelhante
A quem outros cuidados a alma prende,
Daqueles, que há presentes, bem distante.
Nós à cidade afoutos caminhamos:
Deu-nos esforço o seu falar pujante.
Já, removido todo o pejo, entramos.
Eu, que sentia de saber desejo
Quanto o forte contém que franqueamos
(…)
Entre eles chama horrífica serpeia
E os abrasa inda mais que frágua ardente
Que arte para amolgar o ferro ateia.
Alçada a tampa, é cada qual patente.
Dali surgia um lamentar profundo,
De miséreo gemido permanente.
Com tudo isso, posso dizer que A Divina Comédia é, de fato, uma das obras que mais permitem a compreensão do pensamento medieval, revelando dados históricos e informações a cerca da conduta religiosa, política e social do ser humano, isso sem mencionar a relação de moral e princípios em sociedade. A obra já foi inspiração para outras obras de arte feitas por artistas como Botticelli e Salvador Dalí. Agora, Seymour Chwast também contribui de forma muito talentosa com esta HQ, que é seu trabalho de estréia como quadrinista. Recomendo a todos que são fãs de quadrinhos, mas também pra quem se interessa por História.
Autor: Seymour Chwast
Tradução:Alexandre Boide
Editora: Quadrinhos na Cia.
Páginas: 128
Quanto: R$ 33,00
Saiba mais sobre essa e outras obras no site da Companhia das Letras