Das posições mais realistas e sinceras acerca da publicação independente que já vi, posso citar a do Albano Ribeiro d’Os Viralata. Resumidamente, a versão anterior do site dizia de modo curto, mas não grosso, que ninguém se iludisse em obter sucesso de público e vendas assim tão simplesmente, por mais fantástica que fosse a obra. E assim é. Mesmo os poucos autores iniciantes que conseguem ser avaliados e publicados por uma editora de peso no mercado costumam percorrer um longo caminho (e incerto também) até que possam colher algum resultado (e não estou falando necessariamente em ganhar dinheiro). Os Viralata trabalhava com versões impressas sob demanda, se bem me lembro, na tentativa de reduzir um dos problemas da publicação impressa, que é a distribuição e a estocagem.
Tenho visto muito debate colocando o e-book como uma solução para todos os problemas e limitações de uma versão impressa independente. Penso que esta é uma visão muito simplista. Certamente o e-book é uma possibilidade tão acessível ao autor que lhe permite disponibilizar seu produto para venda sem nenhum custo além do tempo e da conexão à web muito facilmente, pois há várias alternativas*, nacionais e internacionais, que disponibilizam ferramentas de auto publicação.
Isso, no entanto, não garante aquilo que me parece ser o ponto central para quem escreve: ser lido. Estou divagando sobre tudo isso tendo como foco principal a ficção, que é meu segmento de interesse, mas creio que muito do que aqui está dito vale também para não ficção.
O fato é que ser lido depende, tanto quanto no caso dos livros impressos de muitos outros fatores além da formalização do livro. Vejamos alguns. Brasileiros já saem com certa desvantagem nessa batalha porque o hábito da leitura não está entre os mais privilegiados no nosso país. Não há como ignorar isso.
Segundo (não necessariamente em ordem de importância) parece haver ainda grande carência de um serviço de edição** voltado para o mercado de e-books. Refiro-me aqui àquela função de avaliar criticamente o texto, propor ajustes que não se limitam ao aspecto ortográfico ou gramatical e que podem fazer a diferença na sustentação de uma obra, e cuidar da sua preparação visual e finalização até que seja o produto acabo e pronto para a satisfação da leitura.
Ainda, há a questão, que não pode ser desprezada, da desvantagem que pesa sobre o formato digital. Ele não conta com a aceitação ampla geral e irrestrita dos leitores, possivelmente porque o número de leitores com acesso a e-readers ainda é baixo por aqui, mas também porque há a resistência natural do ser humano a qualquer coisa distinta do costume.
Por fim, mas não menos importante, há o inconveniente da falta de filtro. O selo de uma editora não é, obrigatoriamente, garantia de qualidade, mas pode ser sim um bom ponto de partida. Eu, particularmente, compro de olhos fechados títulos de certas editoras (claro que isso depende de conhecer a linha editorial e o histórico da empresa). As publicações independentes não contam com nenhum tipo de “avalista” que possa dar uma indicação de peso ao “cliente” sobre a obra. Mesmo o esquema de opiniões em blogs e redes sociais, é, no mínimo, suspeito, pois encontra-se prioritariamente opiniões favoráveis angariadas entre leitores-amigos. E mesmo as customer reviews ou resenhas no skoob podem ser parciais, além de pouco frequentes para leitores desconhecidos.
Vem, então, a pergunta: A auto publicação em e-book é um bom caminho? É um caminho, sem dúvida, penso eu. Mas não é uma trilha menos árdua que a da publicação impressa independente. E alguém aí acredita mesmo que se possa alcançar “sucesso” somente por obra do acaso? Certo, um pouquinho de sorte pode ajudar, mas sorte se cava. E lá vou eu com minha pá no ombro.
Sobre a autora: Maurem Kayna é gaúcha, Engenheira Florestal, baila flamenco e tem profundo interesse por literatura desde criança. Além de leitora tão voraz quanto permita o tempo, há algum tempo se aventura na escrita e, por conta de alguns destaques recebidos em concursos na web ou em meio impresso chegou ao atrevimento da publicação independente do e-book Pedaços de Possibilidade. No blog homônimo ao livro tenta provocar a discussão acerca dos e-books no Brasil e divulga contos seus e, eventualmente, outras discussões sobre literatura.
Achei muito interessante seu ponto de vista, Maurem. Tenho feito o mesmo tipo de perguntas à mim e aos meus amigos e ainda não encontrei uma resposta definitiva. Muitas vezes desanimo pensando em quantos escritores brasileiros da atualidade têm o devido reconhecimento e quantos apenas deixam que suas obras se percam no esquecimento, por não haver perspectivas de publicá-la por uma editora.
A publicação impressa independente é um caminho árduo e caro para o escritor. A vantagem que vejo no e-book em relação a impressão, seria deixar o caminho barato, mas não menos árduo.
Por isso tenho apenas publicado minha obra periodicamente em um blog e recebendo as “opiniões favoráveis angariadas entre leitores-amigos” enquanto não encontro melhor solução.
Raul, desanimar jamais! Se minha intenção era desmotivar a crença no e-book como panacéia (acho que esse acento caiu, mas não aderi ao acordo..) também era destacar minha crença no não milagre. risos. Vou conferir tua obra-blog. abraço!
Gostei também, Maurem, destas suas observações e pontos de vistas. O post é de agosto de 2011, mas já via e percebia qual era a situação e para onde caminhava.
Hoje, dia 18/09/2012, qual é a sua visão sobre os eBooks, os eReaders, a Autopublicação, Amazon, Kindle, Leis, etc? O que mudou na sua percepção? Você enxerga ‘bons ventos’ chegando?
Abraço.