A partir dessa semana já comecei a me sentir um pouco mais em casa. Por mais que conseguisse fazer o famoso turismo de final de semana, eu estava com aquele sentimento de “Posso ir qualquer dia, por que me apressar?”, mas logo esqueço desse tempo de moradia e começo a notar pequenos lugares que pessoas próximas a mim no Brasil gostariam de visitar. É aí que bate a maldita saudade de pai, mãe, irmão, irmã, madrasta, cachorros, amigos e até dos bares – e não adianta tentar substituir com um pub irlandês numa rua chamada Little Brazil onde só existem cubanos e é perto de lugares badalados como o Rockfeller Center e Radio City Music Hall. Aliás, quando se começa a andar pelas avenidas daqui parece que tudo é muito perto (andando sem rumo é possível pensar dessa forma). Falarei sobre isso em outra coluna.

Nessa última semana produzi meu primeiro vídeo para a NYFA e também atuei em outros três, sem precisar falar, mas fazendo caras de espanto e horror igual aos filmes mudos. Lembrando que nos primeiros exercícios não usamos som nas filmagens, de acordo com grande parte dos professores, devemos contar uma história visualmente para depois falar sobre os tais diálogos. Um dos meus professores de roteiro tem parafusos a menos, fala rápido, conta histórias e casos de Hollywood e usou como exemplo filmes como Barry Lyndon, Touro Indomável, O Poderoso Chefão, De Volta para o Futuro e… Os Embalos de Sábado à Noite. Tudo para explicar a famosa montage.

Durante a aula, eu já matutava sobre o que eu iria escrever na minha coluna dessa semana, tendo em mente que muita coisa aconteceu rápido e que muitas informações poderiam faltar ou seriam repetitivas. Como um roteiro, eu deveria saber qual seria a minha motivação para contar aquelas coisas aos leitores do Meia Palavra: para conquistá-los? Para criar inveja? Para falar sobre coisas que ninguém quer ouvir? É uma tarefa complicada demais só de manejar. Pega-se a ideia e logo ela foge, por mais simples que ela seja, não se pode contar sempre com boas ideias sendo bem executadas o tempo todo. É como um remake de um filme extraordinário, tem tudo para dar certo, mas em grande parte falham amargamente. Isso não está em pauta.

Vamos por parte e falar sobre uma história de amor. Eu estava em um bar chamado Heartland, onde se você vai beber não pode sentar na mesa, apenas no balcão, e mesmo que um acompanhante seu vá comer, todos devem comer também. Daniel, Patrícia e eu estávamos tomando um vinho quando um senhor sem dentes veio oferecer uma rosa para o lindo casal (eles dois), dizendo que eles teriam lindos filhos juntos. Para afastar o velhote antes que ele começasse a cantar, Daniel comprou a bendita rosa e deixou em cima da mesa – mais tarde faríamos bem-me-quer com as pétalas. O bar estava abafado e resolvi tomar um ar antes que desmaiasse. Um rapaz, meio turco, veio e me abraçou na calçada agradecendo por seu ser o cara mais legal do mundo. A amiga dele explicou que ele tinha acabado de tomar uma bota de uma tal de Martha – o amor da vida dele. Dei um tapinha nas costas do meu novo “amigo” e disse que tudo ficaria OK, que eu já tinha passado por uma desilusão e toda aquela história de reconforto. Não satisfeito, ele pediu para eu contar como foi perder o “grande amor da minha vida”:

“Eu estava prestes a viajar para a Europa e ficar um tempo longe do Brasil, nos conhecemos dois anos antes e foi amor a primeira vista. Só que com o tempo e a viagem se aproximando ela começou a enlouquecer de ciúme porque não conseguiria falar comigo todos os dias. Pedi para ela terminar comigo, indo contra todos os meus sentimentos, porque não conseguiria imaginá-la sofrer e não estar lá para abraçá-la.”

O roteiro mais medíocre que escrevi na vida. Veja bem, eu escrevi um curta de terror sobre um colchão assassino. Não me dou muito bem com histórias de amor. Contudo, os sentimentos à flor da pele fizeram ele se sentir melhor e eu prometi que tudo daria certo (clichês sempre funcionam nesses momentos). O rapaz deixou o bar dizendo que me amava e amava a amiga dele. Prometeu me ligar para dizer que estaria melhor, só esqueceu de pegar meu telefone.