Suicídios, homicídios, acidentes e pequenas tragédias são os componentes básicos de O Imitador de Vozes, do famigerado autor austríaco (mas nascido na Holanda, como bastardo) Thomas Bernhard.

Famoso, aliás, por motivos bastante diversos. Na maior parte do mundo ele é conhecido como um dos mais importantes escritores de língua alemã do século XX e, talvez, de todos os tempos. Na Áustria, ele é persona non grata, um Nestbeschmutzer – ‘aquele que suja o próprio ninho’ – por conta de seus veementes ataques ao país em que viveu.

É de se esperar que todos os acontecimentos que eu citei como sendo o centro de O Imitador de Vozes tenham, então, relação com a Áustria. A grande maioria realmente tem. Mas fica patente que os problemas de Bernhard não eram apenas com seu ninho, mas sim com sua época, com a sociedade como um todo.

Prolífico escritor de novelas e dramas, dessa vez ele despejou seu desalento através de contos. Ou, quiçá, nem isso: são relatos extremamente breves, de concisão extraordinária – em no máximo uma página ou duas ele conta vidas inteiras – talvez mais próximos de chamadas na primeira página de um jornal ou de anedotas contadas em um bar.

Mas isso não quer dizer que falte força aos relatos. Muito pelo contrário, já que é justo essa concisão, essa densidade e a falta de um final verdadeiro para os contos que desnuda os fatos que Bernhard ambiciona criticar.

Não os assassinatos, homicídios e outros. Esses são apenas uma justificativa. Ou melhor, consequência. O principal é a falta de sentido, a falta de coerência que o mundo em que vivemos apresenta. A estupidez dos governos e do senso comum, a idiotia que reina no cotidiano.

Ainda que não seja a obra mais representativa de Bernhard, O Imitador de Vozes é um livro poderoso. Não é tão vigoroso e nem tão elegante quanto um Extinção, por exemplo, mas consegue ser ainda mais cruel.

O Imitador de Vozes

Thomas Bernhard

tradução de Sergio Tellaroli

160 páginas

R$ 43,50

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