Não é novidade pra ninguém que o consumo de literatura muda a cada dia com a tecnologia e internet. Um dos assuntos mais debatidos, nesse sentido, são os e-books. Nessa discussão, há quem seja apocalíptico-exageradinho e diga que os livros de papel vão acabar e, de outro lado, há quem queira martelar todos os e-readers do mundo e sair abraçando e cultuando o amor livre aos sebos e bibliotecas (sem mencionar aqueles que têm uma opinião um pouco menos extremista do que eu citei para ambos os lados). De qualquer maneira, minha ideia na coluna desse mês é tentar abordar outras questões relacionadas ao assunto, contando um pouco sobre o que eu acho dessas novas ferramentas e como elas afetam a minha experiência pessoal de leituras.

Nesses últimos meses, eu me ausentei de publicações aqui no Meia Palavra, além de ter mudado radicalmente a minha rotina (entenda por isso: fiquei sem rotina). Em meio ao caos dos dias passados e de alguns livros largados em um cantinho da minha cômoda, formando o que eu chamo carinhosamente de “pequeno Monte Everest das leituras atrasadas”, pude perceber melhor como a internet é, para mim, uma extensão dos livros de papel. O livro não é mais limitado ao seu número de páginas, também é possível experenciar uma obra de incríveis novas maneiras, sem necessariamente ler ela em sua forma original (e olha que eu não estou falando de procurar resumo, ok?)

Para começar, percebi que o Twitter se tornou minha rede social favorita quando o assunto é literatura. Organizado em listas, eu consigo filtrar tudo que é informação relevante nesse âmbito, acompanhando, assim, atualizações de blogs que eu leio, autores e notícias em geral. É o canal mais rápido para ver o que está sendo produzido e receber boas indicações. Com isso tudo, pode até ser tentador pensar em literatura de 140 caracteres, não? E, de fato, já tem gente editando e publicando as melhores twittadas de alguns famosos nomes dessa rede. Também existe pessoas que conseguiram agradar tanta gente na hora de twittar, que virou autor. O mesmo acontece no Tumblr, vlogs e blogs. Aí vai do gosto de cada um.

Ah sim, não podemos esquecer de citar os twitters dedicados somente a citações de alguns autores. Atualmente, Clarisse Lispector e Caio F. de Abreu são os mais ploriferados nos 140 caracteres. E, com isso, entramos em mais uma situação de amor e ódio, similar a que eu mencionei na introdução da coluna: há aqueles que adoram espalhar ainda mais essa cultura e há os que acham isso extremamente brega. Minha opinião é que uma citação (ou um conjunto delas) não se equipara a um livro. Se você leu o livro e gosta daquele trecho, que mal há em compartilhá-lo? Contudo, achar que você conhece um autor porque sabe suas citações mais conhecidas não é tão válido assim.

Mas essa proposta de literatura de 140 caracteres acabou me inspirando, então resolvi me arriscar em uns micro resumos de clássicos para checar se a minha opinião é coerente. Deixo por conta de vocês:

“Every Breath You Take, Every breath you take, Every move you make, Every bond you break, Every step you take… I’ll be watching you ” (Police para resumir 1984 – George Orwell)

“My Precious!” (O Senhor dos Anéis – J.R.R. Tolkien)

“Todo mundo é louco, Alice. E você está sonhando” (Alice no País das Maravilhas – Lewis Carroll)

“Cordei KD ultraviolência?” (Laranja Mecânica – Anthony Burgess)

“Zoom in + Zoom in + Zoom in. Ai meu deus um assassino!” (As babas do diabo – Julio Cortázar)

Enfim, para mim, nesses meses de correria, a internet foi o espaço para continuar a estar em contato com os meus autores favoritos e notícias. A facilidade dos e-books também permitiu que eu pudesse ler algumas coisas entre uma folga e outra. Vale ainda lembrar do aproveitamento da internet para a produção e compartilhamento de conteúdo. Graças a ferramentas como blogs e fóruns, assim como o Meia Palavra e Skoob, podemos ter um espaço de discussão. Além disso, a internet vêm possibilitando a maior publicação de autores desconhecidos e iniciantes em formato digital, já que dessa forma eles não precisam de editoras. No mais, a produção com a licença Creative Commons permite que diversas pessoas alterem e construam novos enredos juntos. Atualmente, uma das coisas que mais estou curiosa para ver é o Pottermore, que foi lançado em versão beta em outubro e promete ser um importante espaço virtual para fãs de Harry Potter e, mais do que isso, pode nos mostrar ainda mais como a produção literária online não se limita aos e-books.

Por fim, não sei se os e-readers vão se popularizar, ou se as pessoas vão se revoltar e queimar todos os livros de papel do mundo, mas o que eu posso dizer é que a internet se tornou uma extensão praticamente natural e que eu espero que a criatividade e tecnologia permitam, cada vez mais, a produção de novos conteúdos, bem como o aproveitamento e extensão do livro de papel.