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Perdão e arrependimento são, assim, conceitos-chave para a África do Sul das últimas duas décadas, sendo parte do próprio sistema de valores da sociedade e o passo necessário para a expiação de David Lurie, personagem principal de “Desonra”, de J.M. Coetzee, livro de 1999 relançado agora numa coleção especial que comemora o 25º aniversário da Companhia das Letras.
David Lurie, professor universitário sul-africano acomodado numa vida sem muitas emoções, morador da Cidade do Cabo, duas vezes divorciado, é um tipo bastante comum, mas sua vida está acomodada de tal maneira que não suporta a mínima alteração. Quando a prostituta que visita semanalmente passa a se recusar a vê-lo, é capaz de causar perturbação a ponto de levá-lo a ter um caso com uma aluna, a razão de sua “desonra”.
O que, senão a razão, faz Lurie perder a chance de escapar impune mesmo quando o caso com a estudante é descoberto? Basta manifestar arrependimento, oferece a comissão que investiga o caso, e tudo será acomodado numa punição menor e considerado uma fraqueza. Mas, para ele, há aí uma questão incontornável: pode a universidade exigir dele um sentimento?
O arrependimento, afinal, é questão pessoal. A recusa em cumprir o ritual, já que não está arrependido, sela seu destino. Lurie perde o emprego, a carreira, a reputação, a aposentadoria e então viaja para visitar Lucy, que luta para conseguir manter uma fazenda no interior, onde sua percepção do mundo será continuamente testada e frustrada. Como em outro livro de Coetzee, “A vida e o tempo de Michael K.”, no fim é um personagem que perdeu praticamente tudo.
Desonra
J.M. Coetzee
Tradução: José Rubens Siqueira
264 Páginas
Preço sugerido: R$56,00
Saiba mais sobre essa e outras obras no site da Companhia das Letras
Sobre o autor: Alexandre Rodrigues nasceu no Rio de Janeiro, em 1967, mas mora desde os trinta anos em Porto Alegre. É jornalista e, como repórter, durante dez anos cobriu crimes na Baixada Fluminense e Rio de Janeiro. No Rio Grande do Sul, trabalhou como repórter esportivo no jornal Zero Hora e como editor no portal Terra, além de escrever para as revistas Galileu, Superinteressante e Piauí. Escreve ficção desde sempre, tendo colaborado com o extinto e-zine Cardosonline e a revista eletrônica Fraude. Também publicou uma coluna semanal no site Popular, do Terra, entre 2002 e 2004. Não tem ilusões quanto a si mesmo, é vascaíno e detesta cebola. Em 2010, lançou pela Não Editora Veja se responde essa pergunta, seu primeiro livro de ficção.
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