Todos morreremos. Todos envelheceremos. E todos perderemos as pessoas que amamos. É sobre estas certezas que Péter Esterházy escreve em Verbos Auxiliares do Coração. Ou melhor, talvez seja com essas certezas que ele escreve sobre um fato bastante específico: a morte de sua mãe. Ou a morte de uma mãe (que tem exatamente o mesmo nome da de Jorge Luís Borges).

Se, em uma livraria qualquer, o livro for aberto em uma página ao acaso, é impossível não reparar no fato de existirem dois textos, um no topo da página e um em caixa alta na parte inferior, muito espaço vazio e uma moldura preta, aprisionando juntos os dois textos e o vazio.

Cada texto desses possuiu um conteúdo diferente. O do alto de cada página talvez corresponda a história em si. A história de um filho que vê os últimos dias e a morte da mãe e sente com isso. No meio – depois de uma página toda preta, com uma única linha de texto em branco, uma declaração de ódio, porém, a história muda e passa a ser a de uma mãe que enterra um filho.

Enquanto isso, na parte de baixo, letras em caixa alta anunciam algo de perturbador. É um texto que, à primeira vista, parece mais poético e mais desconexo do que o resto, mas que, conforme Esterházy prende o leitor, adquire mais e mais significado. Muitas vezes esse texto é construído a partir de citações.

Talvez sejam essas citações – explicitadas pelo autor em um breve e enigmático prefácio – que emprestem ao livro seu subtítulo “Introdução à Literatura”. Uma infinidade de escritores húngaros aparecem – muitos dos quais de difícil identificação para o leitor brasileiro, haja vista nossa indisponibilidade para a literatura desse país – mas não são os únicos. A referencia mais presente, aliás, parece ser “Wunschloses Unglück” (traduzido para o inglês como A sorrow beyond dreams) do austríaco Peter Handke – que trata sobre o suicídio de uma mãe.

A literatura húngara é, hoje, uma das mais criativas e contundentes de todo o mundo – ainda mais considerando-se o alcance relativamente limitado desse idioma, tão estranho de todos os outros. E Esterházy é um de seus principais expoentes. Verbos Auxiliares do Coração certamente não é sua maior obra, mas é indubitavelmente uma das mais penetrantes e mais dolorosas.

Os Verbos Auxiliares do Coração

de Peter Esternázy,

tradução de Paulo Schiller.

72 páginas

R$ 35,00

 

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