Marjane Satrapi nasceu no Irã no ano de 1969, e cresceu na monarquia do Xá, um governo ditatorial e opressor. Com 10 anos de idade, entre 1979 e 1980, sofreu as mudanças drásticas do regime, que passou a ser liderado por grupos islâmicos fanáticos. Ainda na adolescência, viu o seu país entrar em guerra contra o Iraque. Persépolis, graphic novel  da autora, é a autobiografia que nos conta seu trajeto em meio a política e pensamentos interiores até a sua vida adulta.

A história, que inicialmente foi publicada em quatro volumes no Brasil  pela Companhia das Letras, ganhou uma versão completa em um único volume. Após um pequeno e esclarecedor prefácio de David B., contando as principais guerras e invasões do Irã desde os primórdios persas em 642, somos apresentados à narrativa de Marjane, que se encontra com 10 anos de idade no Irã pós queda do monarca Xá.

Nessa fase, o Irã começa a sofrer com a opressão do islamismo. Mulheres são obrigadas a usar o véu, enquanto homens precisam vestir camisas de manga comprida e deixar a barba crescer. Na época, Marjane estudava em uma escola francesa, que foi fechada. Ela passa então a estudar somente com meninas em uma escola adequada aos novos costumes do país.

Com uma família moderna e que lutava pela liberdade, a personagem principal dessa narrativa se vê integrada com a política desde cedo. Isso fica claro até mesmo em seus pensamentos infantis, como em suas conversas com Deus, em que mostra a vontade de se tornar profeta e mudar o mundo. Além disso, ela ajuda uma empregada da família a se envolver com um dos vizinhos e se sente envergonhada por andar de Cadilac com o pai, isso porque, para ela, ninguém deveria ter o destino traçado de acordo com a classe social em que nasceu.

Escutando as conversas dos pais e pessoas que frequentavam sua casa, Marjane começa a querer exprimir sua opinião. Para fundamentá-la, começa a ler histórias em quadrinho e livros sobre política. Algum tempo depois, sem que os pais saibam, ela vai ao seu primeiro manifesto, junto com a empregada da família.  Até mesmo as brincadeiras de rua com seus amigos são influenciadas por esse contexto político-social.

Algum tempo depois, Marjane atinge a idade para poder participar, junto dos pais, nos protestos pela liberdade. Nessa época, a opressão aumenta e vizinhos e familiares começam a desaparecer.  Na volta de uma viagem pela Europa, Marjane e seus pais descobrem que o país iniciou uma guerra contra o Iraque. Dali em diante, a situação só piora, até que a autora parte para Viena. Longe de seu país, ela encontra a liberdade ideológica que precisava, mas, por outro lado, as saudades de sua terra e familiares é algo que carrega constantemente consigo.

Com tudo isso, Persépolis carrega uma mistura de humor de pensamentos da infância com a dura realidade que o país vive em sua história.  A narrativa também foi adaptada para os cinemas em forma de animação. Em 2007, estreou no festival de Cannes e foi indicado ao Oscar de 2008. O filme contou com a direção de Vicent Paronnaud e da própria Marjane. Assim como o livro em quadrinhos, a animação, de traços quase infantis, se mostra uma narrativa adulta que retrata não somente a vida da autora, mas revela sim a realidade de um país que sobrevive há anos entre confrontos e ocupações, além de um povo, que ao contrário do que muitos podem pensar, não se mostram resignados a um destino e   não são tão diferentes de nós.

Título: Persépolis
Tradução:  Paulo Werneck
Páginas: 352
Preço: R$46,00

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