Seja amando-as ou odiando-as, todo mundo já deu uma olhadela – nem que fosse bem discreta e com um ou outro suspiro de indignação – em alguma lista de melhores, piores ou afins. Quando se trata de literatura, então, as listas são quase infinitas. Por mais que se negue levá-las a sério, por mais que se conheçam as restrições que as seleções impõem (afinal, cada escolha é uma renúncia) e o caráter incompleto que elas imputam ao seu autor, dificilmente uma lista deixará de ter pelo menos uma boa indicação do que ler (ou não ler, dependendo da lista). Nesse intuito é que o Meia Palavra resolveu convidar personalidades do universo literário brasileiro para eleger as tão controversas e famigeradas listas.
Procurando não restringir a abrangência dessa empreitada, ficou definido que, desde que houvesse relação com a literatura, estava valendo tudo, desde os cinco melhores livros de todos os tempos até os cinco melhores drinks para acompanhá-los. É uma boa oportunidade para recolher boas indicações e conhecer melhor os gostos de pessoas cujas vidas estão repletas de livros e de experiências literárias. Sem mais delongas, vamos ao nosso primeiro convidado, o escritor e pesquisador Braulio Tavares.
Braulio Tavares nasceu em Campina Grande, na Paraíba em 1950. Cursou Cinema e Ciências Sociais, que ele acabou não terminando. Tem mais de vinte livros publicados, incluindo desde romance até poesia, de ensaios a literatura de cordel. Braulio pesquisa a literatura fantástica brasileira, além de já ter publicado livros sobre o gênero e também sobre autores nacionais, tais como Ariano Suassuna e João Guimarães Rosa. Para conhecer melhor o autor e seu trabalho, você pode ler a entrevista que ele concedeu ao Meia Palavra em 2010 e também visitar o blog dele, o Mundo Fantasmo.
Como ávido leitor de Ficção Científica que é, Braulio elegeu aqui cinco obras do gênero que, embora não tão conhecidas, deveriam ser:
1) Limbo, de Bernard Wolfe (1952). Uma experiência de prosa joyceana com um mundo pós-apocalíptico em que as pessoas amputam seus membros e os substituem por próteses, dando origem a uma ditadura da passividade.
***
2) The Embedding, de Ian Watson (1973). Um romance com três narrativas entrelaçadas, todas elas sobre problemas de linguagem e percepção. Índios brasileiros, contato com alienígenas, experiências secretas com crianças em laboratório.
***
3) La Invención de Morel, de Adolfo Bioy Casares (1940). O melhor romance de Ficção Científica da América Latina. Uma metáfora do cinema, da vida, da memória, com uma base de Ficção Científica sólida e elegantemente desenvolvida.
***
4) The Fifth Head of Cerberus, de Gene Wolfe (1972). Três noveletas em tempos e espaços diferentes, mas entrelaçadas, dando três pontos de vista diversos sobre um planeta com história e cultura complexas, que vamos decifrando aos poucos.
***
5) The Calcutta Chromosome, de Amitav Gosh (1995). FC biológica com uma fascinante investigação de História Secreta, por um autor mainstream – talvez por isso mesmo, traduzida no Brasil, onde não despertou muita atenção. Livro cujo teor de Ficção Científica vai crescendo ao longo da narrativa.
***
Fiquem ligados, pois ainda temos várias listas para serem publicadas.
Bacana essa seção nova do Meia! Dessa lista do Braulio eu só conhecia o livro do Bioy, e apesar da descrição ter sido bem sucinta eu me interessei pelo The Calcutta Chromosome, uma F.C biológica deve ser algo muito interessante.
Que bom que gostaste Diego, tem outras listinhas bem maneira à caminho, você não perde por esperar.
Dessa lista já tinha ouvido falar desse do Bioy e li recentemente o Gene Wolfe, que posso dizer que é muito bom, apesar da complexidade que a trama exige para ser bem amarrada na cabeça do leitor. Tenho certeza que todos os livros que o Braulio indicou procuram desmistificar a imagem da FC como um gênero menor (ou sub-gênero menor, dependendo da terminologia que quisermos empregar).
Estou bastante curioso mesmo é pelo livro do Bernard Wolfe, mas quero tirar um tempo mais tranquilo para lê-lo, afinal ele parece exigir essa contemplação mais gradativa e lenta.
Nossa, só conheço (e nem li) a Invenção de Morel…
Adorei a lista! Anotei as dicas!
Adorei essa nova seção do blog *-*
Dessa lista, já tinha ouvido falar de “Limbo”, mas nunca havia prestado atenção! Apesar de a descrição ser bem curtinha, me interessei!
Acho que seria legal, para as próximas listas, alongar um pouco as descrições!
Poxa, o Braulio Tavares fez uma lista bem alternativa mesmo, bem diferentes esses títulos dos que costumam constar nos tops de FC. Mas esse é uma aspecto bem legal dessas listas de favoritos: quando se entra no campo reduzido dos “5 melhores”, acaba emergindo fortemente o lado pessoal, deixa de haver uma impressão do que é “academicamente correto” (seja lá o que isso signifique) e se mostra mais a relação única que cada um tem com a literatura. Claro que, no caso do Braulio, o respeito pelo trabalho dele se transfere para a sua lista. 🙂
Ah eu pegaria para ler o número 3, porém o mais maluco parece ser o 2, 3 histórias bem diferentes até com índios brasileiros!
Tem pessoas que acham que uma lista seja algo tido como verdade, e acabam por levar para o lado pessoal e, assim, começa o bate boca huahahua
Eu gosto de listas, acho uma brincadeira saudável, depois passando os anos algumas listas mudam, isso é interessante.
Nunca tinha ouvido falar desses livros, bem diferente essa lista!
Eu quero ler mais FC esse ano 😀
Parabéns pela coluna !!!!