Como se começa uma coleção? Que tipo de interesse, apego e história ela pode despertar em uma família, quando é passada para novas gerações? O ceramista Edmund de Waal, um dos mais importantes em atividade na Inglaterra, escreveu sobre isso no livro A lebre com olhos de âmbar. A narrativa é uma pesquisa sobre uma coleção de 264 netsuquês, que começaram a ser colecionados pela família do autor, o clã Ephrussi, no século XIX.

Os netsuquês, explicando melhor, são pequenas esculturas talhadas em madeira ou marfim, geralmente de algum animal, ser humano e, em alguns casos, figuras eróticas. A coleção é arrematada de uma vez só por Charles Ephrussi, em Paris, por volta de 1870. Ele a compra em uma loja de artigos colecionáveis de Philippe Sichel, juntamente com outros itens japoneses. Os motivos para Charles realizar essa aquisição são muitos, dentre eles, o fato dele ser um crítico de arte, e a recente abertura do mercado japonês, que causa uma verdadeira euforia entre os entusiastas da arte. O Japão traz a possibilidade de novos materiais e cores nunca antes vistos nas obras europeias.

Além disso, os netsuquês convidam as pessoas ao toque. Se antes os trabalhos artísticos eram para ser admirados de longe, em quadros e esculturas, agora eles podem e devem ser sentidos pelo tato. A coleção de Charles é também uma forma dele se aproximar de sua amante, Louise. Ambos possuem interesse em arte japonesa, tornando netsuquês e caixas de laca, uma forma secreta e erótica de demonstrarem seus sentimentos publicamente. Isso acontece, por exemplo, quando Charles publica um texto na Gazette des Beaux citando uma caixa de laca da amante.

Charles é um personagem apaixonante e, me atrevo a dizer, a chave para toda a importância dessa coleção, não só porque é ele quem a compra e gera o primeiro significado dela, mas sim porque ele consegue com que 4 gerações continuem a mantendo. Se, no início do livro, até Edmund de Waal acredita não gostar do antepassado, ao decorrer de sua pesquisa ele muda completamente de opinião. Charles é um jovem desimpedido, de família judia dona de banco. Ele passa a se dedicar à arte. No início, ele parece ser afoito e imaturo, mas, com o passar dos anos, ele se torna um verdadeiro expert, editor da Gazette de Beaux e “padrinho” de muitos artistas e pintores impressionistas. O poeta Jules Laforgue, por exemplo, foi grande amigo e trabalhou durante anos para Charles. Além disso, por exemplo, Manet chega a pintar uma surpresa para Charles, em sinal de gratidão por um pagamento maior no quadro A Bunch of Aspargus.

Os netsuquês passam, como presente de casamento, para Viktor e Emmy, em 1899, Viena, onde terão que, junto com a família Ephrussi, sobreviver ao nazismo. Anos mais tarde, depois de muito tempo “desaparecidos”, a coleção retorna a Iggie, que os leva para Tóquio. Com a sua morte, Edmund de Waal herda os objetos e inicia a pesquisa que dá origem ao livro.

É possível conhecer parte da coleção de Edmund de Waal clicando aqui.

Título original: The Hare with the Amber Eyes
Preço: R$29,90
Páginas: 317
Tradução: Alexandre Barbosa

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