Coincidências. Não vejo nenhum sentido oculto, nada de místico ou sublime nelas, mas gosto quando algumas acontecem. É o caso do lançamento da nova coletânea de poemas de Rainer Maria Rilke pela Companhia das Letras, em tradução de José Paulo Paes.
Explico: quando o livro saiu, eu acabara de redescobrir o poeta. Já o lera há muito tempo, e percebia sua importância – mas ele ainda era só o “alemão que mandava cartas pra Tsvetaieva e para o Pasternak”. Foi esse ano que descobri que existiam várias facetas de Rilke. E que, inclusive, comecei a traduzir – de forma modesta – algumas coisas que me pareciam inusitadas ao que havia sido publicado por aqui (como seus poemas escritos em russo).
Eis que, pouco tempo depois, tenho as novas traduções de José Paulo Paes em mãos: um tradutor excelente, com bastante experiência e que, como confessa no estudo que serve de introdução ao livro, também teve de redescobrir Rilke para apreciá-lo. Quiçá justamente por isso, a seleção dos poemas me pareça especialmente interessante.
Rainer Maria Rilke, para quem não conhece, é um poeta alemão nascido em Praga, em 1875. Fez inúmeras viagens ao redor da Europa, em especial para a Rússia e para a França – países que exerceram enorme impacto em sua personalidade e sua poética. É conhecido como um dos principais marcos da modernidade na poesia de língua alemã.
Na coletânea existem, é claro, muitos poemas do Livro das Horas, As Elegias de Duíno e os Sonetos a Orfeu – quiçá as obras mais traduzidas do autor. São justamente esses poemas que consolidaram a fama de Rilke como um poeta de tom simbolista, de uma religiosidade estética e sublime, autor de versos de teor metafísico. Não que seja uma fama indevida – quiçá essa religiosidade estetizada e um tanto mística é parte importantíssima da obra rilkeana, eu me atreveria até a dizer que ela é essencial.
Mas Rilke não é só isso. E o ponto forte dessa coletânea é justamente buscar não apenas o óbvio, que já foi apresentado inúmeras vezes em língua portuguesa, mas também buscar apontar outros aspectos do poeta.
Entre os quais, para mim, se destacam os poemas que ele escreveu em língua francesa. Foram mais de 400 poemas, escritos nos últimos anos da vida do poeta – que morreu de leucemia em 1926, ano do qual data sua correspondência com Marina Tsvetaievna e Bóris Pasternak – e que se afastam um pouco de sua obra pregressa. Parecem-me poemas um pouco menos espirituais e mais concretos – mas ainda assim igualmente reflexivos.
Enfim, o livro é interessantíssimo, não apenas para quem já conhece e aprecia Rilke, mas também para quem vai iniciar-se à leitura do poeta e, especialmente, para quem já o leu e ainda não se agradou: existe, aqui, um Rilke diferente, pelo menos em partes, daquele que é conhecido em nosso país.
Poemas
de Rainer Maria Rilke.
Seleção, tradução e estudo introdutório de José Paulo Paes.
216 páginas.
R$ 35,00.
Saiba mais sobre essa e outras obras no site da Companhia das Letras