A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado a acontecer na América do Sul. Durou seis anos (de 1864 a 1870) e envolveu os países que, atualmente, são os membros permanentes do Mercosul: Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai (cuja posição no momento é delicada, é verdade). Resultou em milhares de mortos, endividamento dos países participantes e definiu o mapa da região.

Apesar disso a maioria das pessoas sabe muito pouco a respeito dessa guerra. O lugar comum me parece ser a crença de que o Paraguai era uma potência local e os ingleses motivaram os outros países a atacá-los, pois temiam perder influência. O historiador André Toral, porém, aponta para outra direção – bem mais crível: a de que o Paraguai tentava se firmar em meio a dois vizinhos perigosos e poderosos, o Império Brasileiro e a Confederação Argentina. E estes sim temiam perder sua hegemonia.

André Toral, aliás, é também o autor de Adeus, Chamigo Brasileiro – uma história da Guerra do Paraguai, quadrinho publicado pela Companhia das Letras. Utilizando como base a pesquisa que Toral realizou a respeito dessa guerra, a história da obra gira em torno de Silvino, um soldado baiano que foi alistado à força e só quer voltar para casa; Jorge, um jovem carioca de família endinheirada, que se lança à guerra por causa de um amor não-correspondido; e Ladislao, um paraguaio bastante culto que é chamado a voltar de seus estudos na Europa para lutar por seu país. As histórias correm em separado durante a maior parte do livro, tangenciando-se em alguns momentos iniciais e fundindo-se apenas perto do desfecho.

Apesar de ter esses vários focos, a história não é exatamente complexa. A narrativa estrutura-se mais como pequenos episódios em que situações do presente e do passado das personagens vem à tona. Com isso não apenas faz com que seu conto prossiga, mas também explora (às vezes de modo bastante sutil) diversos aspectos históricos da Guerra do Paraguai, falando do resultado de batalhas, da opinião pública nos vários países envolvidos e dos jogos políticos que se escondem por trás de todos os movimentos das tropas. Aproveita, ainda, para mostrar como era (ou deveria ser) a vida nos acampamentos das tropas e nas cidades afetadas pela guerra.

Confesso que, fosse apenas pela história das personagens, eu não me interessaria tanto: não são lá histórias muito incomuns de se encontrar na literatura, quadrinhos ou cinema. Mas acredito que elas nem sejam o foco principal de Toral, que me parece mais interessado em reconstituir o dia-a-dia da guerra, as generalidades do que as especificidades. E isso ele faz muito bem.

Aliás, no final do livro existe um breve estudo a respeito da Guerra do Paraguai, bastante esclarecedor, no qual além de explicar os motivos e o desfecho da guerra, ele traça uma relação dela com as imagens – pinturas, desenhos, gravuras e até a fotografia.

Falando sobre imagens, é essencial falar a respeito das que compõe o quadrinho. Não entendo muito a esse respeito, mas duas coisas me saltam aos olhos: uma plausível influência do manga (bastante sutil, no entanto) e o trabalho realizado com as cores, que dá um ar um tanto antiquado ao quadrinho – e , enquanto a segunda característica me soa adequada, a primeira me parece bem utilizada.

Talvez não se trate de nenhuma obra-prima, mas Adeus, Chamigo Brasileiro é um trabalho interessante sobre um tema um tanto quanto obscuro – e que deveria, ainda mais nas conjunturas atuais, ser conhecido mais e melhor.