Pela 85°vez na história do Cinema, no Dolby Theatre Los Angeles, os Oscars foram para…
Filme: Argo
Direção: Ang Lee (As Aventuras de Pi)
Ator: Daniel Day-Lewis (Lincoln)
Atriz: Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida)
Ator coadjuvante: Christoph Waltz (Django Livre)
Atriz coadjuvante: Anne Hathaway (Os Miseráveis)
Roteiro original: Quentin Tarantino (Django Livre)
Roteiro adaptado: Chris Terrio (Argo)
Animação: Valente
Filme estrangeiro: Amour (Áustria)
Trilha sonora: As Aventuras de Pi
Canção original: “Skyfall”, de Adele (007 – Operação Skyfall)
Fotografia: As Aventuras de Pi
Figurino: Anna Karenina
Documentário: Searching for Sugar Man
Curta de documentário: Inocente
Edição: Argo
Maquiagem: Os Miseráveis
Direção de arte: Lincoln
Curta de animação: Paperman
Curta-metragem: Curfew
Edição de som: empate entre A Hora Mais Escura e 007 – Operação Skyfall
Mixagem de som: Os Miseráveis
Efeitos visuais: As Aventuras de Pi
…e pela 85° vez os Oscars provocaram polêmicas, deixaram fãs indignados, cometeram injustiças possivelmente irreparáveis e foram acompanhados por milhões de pessoas ao redor do mundo.
O Oscar é um prêmio passional. Torce-se por ele assim como se torce por um time de futebol ou a um candidato nas eleições, para alguns, é até fonte de renda, através das bancas de aposta. Até os cinéfilos blasés, que tentam passar incólumes à cerimônia, não resistem e em algum momento perguntam: E aí, como foi a premiação ontem?
Bom, vou contar como foi a premiação de ontem pelo meu ponto de vista:
Nessa que talvez tenha sido a cerimônia mais longa da história, os Academy Awards 2013 demoraram para decolar – e quando voaram, voaram baixo. A apresentação de Seth McFarlane mostrou logo de início que não teria a plateia a seu favor (pelo menos não a parte vip) e literalmente teve que rebolar para arrancar algumas risadas. Sobre sua apresentação, acho que o resumo de toda sua ópera malsucedida pode ser dado pelo comentário do veterano Christopher Plummer, vencedor do careca dourado do ano passado, ao subir no palco: Vá brincar com alguém do seu tamanho.
As quase (ou mais? não sei, perdi o senso do tempo durante o show) cinco horas de apresentação foram preenchidas por um bocado de musicais, alguns desnecessários e outros espetaculares. Seth anunciou no começo do show que a edição seria uma celebração aos musicais, mas se algo foi celebrado foram os parcos musicais contemporâneos, pois quase nenhuma menção se fez aos grandes clássicos da era de ouro. No palco, apresentações de Catherine Zeta-Jones em Chicago (2002), Jennifer Hudson, aos berros, por Dreamgirls (2006) e o elenco de Les Miserables (2012), fechando muito bem e compensando o injustificável desânimo com que o filme foi visto.
Destaque para a homenagem aos 50 anos de James Bond no Cinema, coroada com a apresentação de Goldfinger, do filme de 1964, por Shirley Bassey. Senti, contudo, a ausência de um duo Sean Connery (o primeiro Bond) e Daniel Craig (o Bond atual) no momento da celebração. Se Bond apareceu até nas Olimpíadas, por que não no Oscar?
Outro belo momento foi a apresentação de Barbra Streisand – sumida da grande tela, mas vencedora de dois Oscars (1969 e 1976) –, cantando The Way We Were na sessão In Memorian, relembrando os mortos do ano que passou.
E basta que Barbara suba no palco para que haja empate no Oscar (em 1969, ela dividiu o prêmio de atriz com Katharine Hepburn, por O Leão no Inverno): pela terceira vez em mais de oito décadas houve empate e o prêmio de Edição de Som ficou com 007 Skyfall e A Hora Mais Escura. Coisa raríssima.
Esse empate nos leva a análise da distribuição dos prêmios nessa noite: menos centralizado do que outras edições, a Academia premiou quase todos os nove indicados a Melhor Filme pelo menos em uma categoria. Lincoln, que acumulava doze indicações, levou apenas dois prêmios, já As Aventuras de Pi levou quatro das onze que disputava.
Nas atuações, todos sabiam que Anne Hathaway levaria por Les Miserables, um papel impecável e emocionante, que me encantou profundamente e, pelo visto, também aos votantes. Christopher Waltz levou por Django Livre, a meu ver, uma interpretação que nada inovou de seu belo (e já devidamente premiado) trabalho em Bastardos Inglórios (2009). Ganhou o mesmo Oscar pelo mesmo papel, assim como Tarantino levou sem grandes méritos o prêmio de Roteiro Original (Ah, se a Academia tivesse coragem de premiar um estrangeiro e dado a Amour…).
Já nas categorias principais, Daniel Day-Lewis (Lincoln) confirmou a certeza de todos e tornou-se o maior vencedor do prêmio de Ator, à frente de Spencer Tracy, Tom Hanks, Jack Nicholson e até, vejam só, Nicolas Cage! Brincadeira, brincadeira…
A Atriz desse ano foi Emmanuelle Riva (Amour). Ops, peraí, isso apenas num mundo de fantasia. A Academia manteve-se conservadora e deu o prêmio-aposta a Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida), um bom papel, mas duvido que mais marcante do que Riva ou mesmo da menina Quvenzhané Wallis (Indomável Sonhadora). Duvido também que a interpretação de Lawrence sobreviva ao tempo, ao imbatível tempo, tão bem retratado no Amour de Michael Haneke, vencedor de Melhor Estrangeiro, com agradecimento sucinto e frio, no mesmo tom de seus filmes.
Oscar é prêmio para se ver com um balde de pipoca em uma mão e um frasco de antiácidos na outra. Foi a partir do prêmio de Lawrence que comecei a ficar com gastrite, pois já sabia: estava se aproximando o Oscar a Argo. Vencedor de Melhor Filme, sua vitória contribui para incentivar um estilo de cinema-certinho-pós-brechtiniano-com-roupinha-de-gordo. O Cinema de Affleck é um menino nerd, com suéter e óculos de aro grosso, que senta na primeira fileira da sala e responde às perguntas da professora.
Não há dúvidas de que Affleck tomou direitinho todas as aulas de direção, mas pena que tenha pulado as aulas de colhão para fazer Cinema – dos professores Abel Gance, Charles Chaplin, Elia Kazan, Stanley Kubrick, P.T. Anderson e alguns outros.
Ben Affleck é o Warren Beatty da Hollywood atual, e nada casou tão perfeitamente com sua vitória do que o anúncio ter vindo diretamente da Casa Branca, por Michelle Obama, ressaltando, assim, que acima de qualquer grande arte, estão os valores americanos.
Passada a cerimônia e acalmado (em partes) os ânimos, me pergunto o que sobreviverá do Oscar 2013? Talvez a bela homenagem a James Bond, ou a delícia de ver a divertida Adele levando uma estatueta para casa (Melhor Canção Original, por 007 – Skyfall). À parte disso, queria continuar meus comentários, mas a música de Tubarão está tocando e o cronômetro encerrou, sinal de que preciso deixar o palc…
Eu também fiquei com a sensação que o Waltz ganhou dois Oscars pelo mesmo papel. Mas é aquilo: Oscar é uma grande brincadeira. E eu me divirto com ela, de um modo geral.
E a cerimônia teve só três horas e meia, vai…. nem foi tão longa (ao menos não perto de como era anos atrás).
Foram trÊs horas e meia?! Nossa, senti o peso de uns cinco horas…. rsrs
Obrigado pelo comentário!