Haruki Murakami é, indiscutivelmente, um dos mais importantes e populares escritores contemporâneos. Nascido em Kyoto, o autor japonês já publicou doze novelas, além de uma série de volumes de contos e de ensaios- muitos dos livros traduzidos para idiomas tão peculiares (para um autor japonês) quanto português, lituano e grego.

Não é de se estranhar, então, que inúmeras adaptações cinematográficas de sua obra tenham surgido ao longo dos anos. Além de seu primeiro romance (inédito em português) Kaze no uta o kike (algo como ‘Escute a Canção do Vento’) , inúmeros contos foram transformados em filmes de durações variadas. Recentemente somou-se à essa lista a adaptação de Norwegian Wood- quiçá a mais ousada de todas.

Para quem não conhece o livro, a estória se passa no Japão dos anos 60 e se foca no jovem Toru Watanabe, cujo melhor amigo, Kizuke, suicida-se. Watanabe parte para a universidade em Tóquio, em parte para afastar-se da perda. Lá ele reencontra Naoko, a namorada de Kizuke e, apesar de não falarem nisso, é seu passado em comum que os aproxima e faz com que se apaixonem. Naoko, porém, não consegue superar o passado e surta. Enquanto espera que ela se recupere, Toru conhece conhece Midori. A partir daí ele convive com a incapacidade de Naoko de entregar-se a ele e com a própria dificuldade pare deixar Midori se aproximar.

O roteiro do filme foi escrito a partir do livro homônimo, em uma parceria de Murakami com o diretor do filme, o franco-vietnamita Trần Anh Hùng. Apesar do autor ter dado total liberdade a Anh para adaptar como quisesse a estória, Hùng primou pela fidelidade- tanto que, apesar de não dominar o idioma japonês quis que o filme fosse filmado em japonês e nas cidades em que a trama se passa.

As atuações de Ken’ichi Matsuyama (Watanabe), Rinko Kikuchi (Naoko) e Kiko Mizuhara (Midori) são extremamente convicentes- Kikucho chegou a ser indicada para o prêmio de melhor atriz no quinto Asian Film Awards.

A trilha sonora é um espetáculo a parte, contendo a música dos Beatles homônima ao livro e ao filme, algumas músicas da banda Can e algumas faixas originais compostas por Johnny Greenwood, membro da banda Radiohead.

Apesar disso é justamente a trilha sonora que traz o maior defeito do filme. Anh dirigiu de forma excepcional, e que se torna ainda melhor se considerarmos que ele só podia falar com seus atores através de intérpretes. Mas a trilha sonora- apesar de ter grandes músicas- foi usada de modo que causa certo incômodo.

Explico: a música é bastante importante nos livros de Murakami. Por isso mesmo o silêncio cresce em importância e é essencial para o resultado que seus contos e romances causam no leitor, via de regra um sentimento estranho entre o vazio e o desolado. No filme a trilha sonora parece tentar forçar o espectador a sentir o que o diretor deseja, tolhendo-lhe a liberdade. Isso causa certo incômodo, especialmente para quem já é familiarizado com a obra do escritor japonês.

Apesar disso é um filme que vale a pena ser assistido- é uma boa adaptação de uma grande obra de um grande escritor.

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