É só o primeiro dia e nós começamos com calma: sem filmes de nacionalidades estranhas, sem corrida de obstáculos pela Augusta e com tempo para refeições. Mas já enfrentei a legenda dessincronizada de um filme alemão porque Mostra é sempre aquele momento que você pensa que podia ter sido uma boa ideia aprender búlgaro.

Nada de Mau Pode Acontecer O filme de estreia de Katrin Gebbe, acompanha Tore, um jovem cristão que acaba sendo adotado por uma família de classe baixa aparentemente normal. Gebbe começa seu filme de forma surpreendentemente forte, com câmeras na mão, imagens sujas e sutilezas na construção do relacionamento entre os personagens. Porém, o que podia ser um longa delicado sobre fé, miséria e um novo “fundamentalismo cristão alternativo” se perde ao tentar abarcar muito mais do que dá conta.

A diretora tenta transformar  sua narrativa inicialmente despretensiosa em um ensaio sobre crueldade e inocência e, por querer explorar questões muito profundas, acaba não explorando nada. Nada de Mau Pode Acontecer acaba com uma roteiro cheio de buracos, voltas desnecessárias e uma história que não vai para lugar nenhum. Gebbe tem um talento óbvio para expressar coisas no não dito e faz um filme repleto de subtextos, mas que, infelizmente, não tem uma história em que se sustentem.

Somente em Nova YorkArafat é um jovem filho de palestinos nascido no Brooklyn, tem 30 anos, mora com os pais, possui uma boneca inflável e vive sendo levado para encontros arranjados com futuras noivas. Desesperado para mudar de vida, decide arranjar dinheiro se casando com uma israelense que deseja um green card.

Ghazi Albuliwi, diretor, roteirista e ator do filme, é um nome conhecido do stand-up americano e parece querer fazer o mesmo caminho de Woody Allen: dos bares para o cinema através de comédias românticas reflexivas. O filme é leve, divertido, e Albuliwi confirma seu talento como comediante em diálogos ágeis, naturais e engraçados. No entanto, falta-lhe talento, ou experiência, como cineasta: o roteiro tem buracos e o filme faz um esforço desnecessário para fugir dos clichês de comédia romântica, quando poderia simplesmente abraçar a fórmula do gênero e confiar no carisma de seus personagens. Somente em Nova York tem problemas, mas é um filme bastante simpático e Ghazi Albuliwi talvez se mostre um diretor com potencial.

Hopper StoriesOito diretores foram convidados a realizar curtas baseados em pinturas de Edward Hopper. Como toda coletânea, o filme é irregular: há o simpático The Muse, o belíssimo Hope e o interessante (do sempre interessante Mathieu Amalric) Next to Last. Os outros cinco, entretanto, oferecem visões muito literais, ou sem sentido nenhum, dos quadros em questão.