Está acabando… No penúltimo dia dei com a cara na sessão esgotada de Ilo Ilo, candidato de Cingapura ao Oscar de melhor filme estrangeiro e que ao meio-dia já tinha formado uma fila respeitável na bilheteria. Não vi, mas deve ser consideravelmente melhor que o candidato da Eslováquia, cuja sessão talvez tivesse dez pessoas.

Meu Cachorro Assassino – O candidato da Eslováquia ao Oscar fez um barulho considerável em Roterdã e chegou com fama de pesado, violentíssimo, daqueles filmes indigeríveis. Como boa fã de Michael Haneke que eu sou, fui feliz da vida para tomar um soco no estômago, que infelizmente não veio.

Marek vive com seu pai após sua mãe ter abandonado a família para viver com um cigano. O ponto forte do filme é a forma como o racismo perpassa toda a história, não como um tema enunciado, mas como o grande motivador dos eventos retratados. O isolamento de Marek, sua ligação com seu cachorro e o fim um tanto chocante da história são todos, de alguma forma, motivados pelo fato do protagonista ter um meio irmão cigano. Contudo, o roteiro solto demais tira a contundência do filme e embora ele realmente tenha um final violento, mais crueza e mesmo mais brutalidade o tornariam melhor.

Las Horas Muertas – De todos os (muitos) filmes em que nada acontece que eu vi nessa Mostra, esse, junto com Todos os Gatos São Brilhantes, é o que melhor utiliza os tempos mortos. Sebastian é convocado para cuidar do motel do tio quando esse precisa se ausentar para um tratamento, seus dias são monótonos, longos e solitários e sua única diversão poderia ser acompanhar o vai e vem de pessoas do estabelecimento, mas o tio lhe ordenou discrição.

Ainda assim, ele acaba se envolvendo com uma moça que espera horas sem fim pelo amante, e ambos passam a compartilhar o tédio e a solidão. Embora tenha alguns diálogos artificiais e as atuações não colaborem para melhorá-los, o filme consegue representar o tédio sem tornar-se entediante. É agradável e mesmo engraçado, os personagens bem construídos o suficiente para existirem de forma convincente no ambiente em que estão confinados. Para um filme passado em um motel, lhe falta sensualidade, mas é um alívio ver finalmente um filme que tem sucesso ao apresentar a tal “banalidade da existência”.

Amar – Nos primeiros minutos, Amar dá indícios que será um drama sobre relacionamentos e a miséria da natureza humana ao estilo Ingmar Bergman ou um melodrama cheio de gritos, sofrimento e de gente perturbada. Acaba não sendo nenhum dos dois.

A história de Tomek e Maria peca por apontar para todos os lados e não conseguir decidir em qual dos personagens quer focar. Eles são um casal jovem, prosperando na carreira e que espera o primeiro filho, até que um dia o prefeito, e chefe de Maria, a estupra por estar completamente obcecado por ela. A princípio ela fica perturbada e parece que acompanharemos a sequela da violência na mulher, entretanto, Maria subitamente se sente melhor e o filme decide mostrar o orgulho ferido do marido.

Com um roteiro desconexo e personagens superficiais, Amar não se sustenta como drama, reflexão sobre relacionamentos conjugais, ou o que quer que se proponha. Ao final é um filme tão sem sentido quanto as escolhas estéticas de seu diretor.