“Esses dias eu vejo um indivíduo colocando em sua tapioca apresuntado, queijo e coco. Eu digo: não. Não eshtrague a minha cumida”.
Tapioca, segundo o Elio de Souza, taxista, paraense, nativo de Marabá mas morador de Belém há 14 anos, tem que ser simples: quentinha e só com coco. “Junto cê toma 1 litro de açaí com farinha e bala! Pronto pra um dia de trabalho”.
Foi ele que me deixou na 18ª Feira Pan-Amazônica do Livro, que acontece entre os dias 31 de maio e 10 de junho, em Belém.
Algo que nós, paulistanos, poderíamos de chamar de “Anhembi” do livro, o evento reúne centenas de editoras em um mesmo centro de convenções, o Hangar 1, e um público de quase 500 mil pessoas – pude notar que, em sua maioria, crianças. Um contingente impressionante, ainda mais para uma cidade de 2 milhões de habitantes.
Conversei com a coordenadora do projeto, Ana Catarina Brito, que o realiza há 18 anos. Segundo Ana, o evento é temático – cada edição homenageia um país e um autor. Dessa vez escolheram Qatar e Milton Hatoum, amazonense de ascendência árabe. Ficou um clima meio Sheherazade indígena – bem exótico.
O sucesso da feira se dá, em grande parte, por causa do investimento estatal. Muitos dos professores municipais, de várias regiões do Pará, se organizam para trazer os alunos à capital. A viagem é garantida com a ajuda da Secretaria da Cultura.
“Mas as pessoas compram os livros, ou vem mais para passear?”, indaguei. “Ô se compram! Aqui no Pará a gente tem uma política pública que se chama Cred-Livro. O governo disponibiliza R$ 200 para professores das redes municipal e estadual para gastarem só aqui. Os professores universitários ganham R$ 300”, disse.
“Que tipo de autores eles compram?”, quis saber. “Os locais. Os escritores daqui costumam visitar, durante o ano, várias escolas da capital e arredores como parte de um projeto de educação do governo de estímulo à leitura. Assim ficam conhecidos antes da Pan-Amazônica. Aqui eles promovem o Encontro Literário com Escritores Paraenses, fazem rodas de leitura e inclusive lançamentos. É o caso, por exemplo, do Alfredo Garcia, Franciorlys Viana e Míriam Hanna”.
Ser árvore
Ser árvore;
Amanhar
entre as manhãs
os musgos, os mênstruos
da seiva, em si,
cipós
de sóis
estendidos ao
porto do ser.
Ser árvore, entre-lugar
algum onde pousam
asas indecifradas
de pios roufenhos
e um rio sopra
uma ária breve
emaranhada
de manhãs.
Do livro “Frutos Diáfanos”, de Alfredo Garcia, Prêmio Max Martins de Poesia, IAP, 2013