O físico teórico Stephen Hawking é, possivelmente, o nome científico de maior prestígio da atualidade. A história de sua vida, se ele tivesse enveredado por qualquer outro caminho profissional a que nós, simples mortais, servimos nessa vida, já seria de grande triunfo e inspiração, por causa de sua grave condição de saúde. Todavia, Stephen tornou-se um dos nomes mais proeminentes da física moderna, catedrático de Cambridge, onde ocupa a mesma cadeira outrora pertencente a Sir Isaac Newton, e um dos maiores difusores de informação científica, através de best sellers como Uma breve história do tempo (1988) e O universo numa casca de noz (2002), produzidos quando a síndrome degenerativa que o acomete já impossibilitava sua escrita e fala.

Parece apenas lógico que esse homem, autor de teses revolucionárias sobre buracos negros e buracos de minhoca, ganhasse uma cinebiografia. Assim sendo, A Teoria de Tudo, dirigida por James Marsh, com Eddie Redmayne e Felicity Jones como protagonistas, é a empreitada de contar uma breve história sobre uma vida incrível. Todavia, A Teoria de Tudo não é um filme sobre física, e quem vai ao cinema esperando assistir a algo como um episódio de Cosmos, pode sair bem decepcionado. Já quem espera saber mais sobre esse nome tão relevante à história moderna, terá à frente uma bem conduzida história de amor, de força e inteligência.

Ancorado na relação de vinte seis anos que manteve com Jane Wilde, que conhecera nos tempos de universidade e com quem teve três filhos, o filme parece destacar a importância do suporte humano diante das dificuldades. Sua esposa, lindamente interpretada pela jovem Felicity Jones (indicada ao BAFTA, ao Globo de Ouro e ao Oscar pelo papel), enfrenta a descrença de amigos, familiares e do próprio Hawking quando decide manter a relação, mesmo depois do físico ser diagnosticado com ELA (esclerose lateral amiotrófica), ainda aos 21 anos.

O mais interessante aqui, contudo, é que ao invés de apenas explorar a degradação do corpo de Hawking, a trama também traça um paralelo com a decadência do relacionamento do casal; nesse sentido, a superação torna-se uma característica de ambos.

O viés da história indica que Jane foi fundamental para que a mente de Hawking, aprisionada num corpo inerte, decolasse rumo às fronteiras do espaço-tempo e desenvolvesse suas famosas teses, mesmo se às custas de suas próprias pretensões profissionais. Cuidando de três filhos pequenos e de um marido totalmente dependente, Jane vai, paulatinamente, enfastiando-se com a rotina maçante, mas nos momentos finais da vida de casados, ainda que melancólicos, não há raiva, apenas gratidão e amor (é linda a cena em que eles decidem se separar e ambos caem em prantos).

Nesse filme, Hawking é epicamente encenado por Eddie Redmayne, o outrora insosso coadjuvante do musical Os Miseráveis (2012). Torna-se, assim, a grande surpresa da temporada, conseguindo reproduzir todos os tiques, poses, gestos e contrações de seu memorável personagem. Pelo papel, o jovem ganhou o Globo de Ouro de melhor ator dramático, além das merecidas indicações ao BAFTA e ao Oscar (onde disputará muito apertadamente com Michael Keaton, de Birdman).

Com uma fotografia ousada de palhetas múltiplas que pintam a tela de azul, vermelho, branco e amarelo, o trabalho técnico cria um filme impecável, que não esmorece na narrativa, nem faz malabarismos para prender o espectador. Não se trata da história triste de um homem doente, mas de uma história de vida de um homem genial, com seus momentos de melancolia e felicidade, como qualquer outra pessoa. Assim, A Teoria de Tudo torna-se um dos filmes mais interessantes entre os indicados, e um verdadeiro tributo ao seu biografado.