Uma das minhas coisas preferidas da Mostra é poder sair falando por aí “eu vi um filme filipino, mas falado em tailandês, com uma atriz húngara” como se fosse a coisa mais normal do mundo. Islândia já é normal, Indonésia já vimos alguns, Azerbaijão e Cazaquistão já teve também, então a Mostra inova: filme ucraniano, falado em libras, sem tradução.

Juana aos 12 – Juana é uma menina de 12 anos, tímida, isolada e com dificuldades na escola. O filme é de uma sensibilidade incrível ao aproximar-se da personagem, captar sua angústia e comunicar implicitamente a gravidade do que se passa em sua cabeça. Porém, mais uma vez, a ausência de um bom roteiro, ou uma linha narrativa qualquer, esvazia o filme.

Juana aos 12 é apenas uma sucessão de episódios, um exercício em construção de personagem, que é excelente, mas seria mais bem aproveitado em uma história.

Paris do Norte – Nunca vi um filme islandês que não fosse tragicômico. O isolamento, o pessimismo e uma certa autoironia parecem ser correntes no cinema do pequeno país. Paris do Norte é uma comédia deprimente sobre Hugi, um homem de 37 anos que deixa a capital após um término terrível para se isolar no interior, em uma cidade de apenas 169 habitantes. Mas quando seu pai chega para visitá-lo, o isolamento do personagem se mostra muito pouco útil.

Paris do Norte é repleto de personagens patéticos, deprimidos e deprimentes, mas jamais descamba para o melodrama. É irônico, leve, com uma linguagem pop e trilha sonora excelente. É um filme bastante simpático, interessante e faz desejar que tivéssemos mais acesso a filmes islandeses por aqui.

O Círculo – Na década de 50, em Zurique, O Círculo era uma associação de homossexuais que editava uma revista e promovia bailes onde seus membros pudessem se conhecer e relacionar livremente, sem o medo de ser quem eram. Em uma época em que diversos países consideravam a homossexualidade um crime, O Círculo promovia uma área de respiro.

Misto de documentário e ficção, o filme retoma as histórias de alguns membros e da aceitação da diversidade. É forte e dolorido, mais dolorido que tudo pelas coisas que ainda estamos discutindo.

A Gangue – Um novo aluno chega em um internato especializado em adolescentes surdos-mudos. Lá, descobre uma rede de crime, tráfico e prostituição. O filme é todo falado em libras e sem legenda.

Confesso que, às 10 da noite, quando vi o anúncio, pensei em sair da sala. De início a experiência é um choque e o incômodo por não compreender os diálogos quase insuportável. No entanto, conforme o filme avança e se percebe que é perfeitamente possível compreender a ação tudo se torna uma experiência intensa e interessante, além de um ótimo filme. A Gangue é uma incrível investigação sobre linguagem, compreensão e matéria cinematográfica e também um filme excelente.