Essa tem tudo para ser a MELHOR Flip DO ANO. Se 2015 caracterizou-se pela Flip da falta, 2016 tem tudo para tirar esse gostinho amargo. Temos pão de mel (amor não tá em falta), temos mais mulheres nas mesas. Gabriela nunca faltou, mas temos também.pão de mel FLIP

Como há anos não acontecia (aliás, desde 2012), cheguei cedo e tive o tempo de esquecer São Paulo e entranhar Paraty. Tempo de descobrir onde fica a sala de imprensa e relembrar onde ficam as casas do IMS e da Folha, da Rocco e do Sesc. Tempo de dar um belo passeio e comer uma coisinha antes de decidir se ia ou não à “sessão de abertura em tecnicolor” com Armando Freitas Filho e Walter Carvalho.

Fui. Após algumas considerações do curador sobre a crise no mercado editorial, o grande Eucanaã Ferraz iniciou a mediação dos dois convidados, sempre se preocupando em relacionar as duas artes ali representadas: poesia e cinema. “O quanto de cinema há em sua poesia?” e vice-versa. Ambos rasgaram seda e se desdobraram em elogios mútuos, antecipando a exibição do curto documentário de Carvalho sobre Freitas Filho.

Talvez por nunca ter reparado direito na abertura da Flip, eu esperava uma espécie de divulgação e enaltecimento do autor homenageado da festa1. Sim, Armando Freitas Filho é um dos grandes entusiastas de Ana Cristina César (e talvez essa até tenha sido a sugestão inicial da conversa), mas parece que lá pelas tantas eles se esqueceram dela e o senhorzinho achou interessante roubar o protagonismo da pupila. Pelo jeito não fui o único a ter essa impressão: “Uma conversa de homens, e apenas homens, sobre homens” foi como resumiu Schneider Carpeggiani para o Suplemento Pernambuco.13553317_1276985078979152_1433711346_n

Sobre o documentário, talvez em outro momento tenha a oportunidade de me tocar. A impressão era a de que a câmera seguia Armando esperando que ele fizesse sua mágica, ressignificando palavras, distendendo a linguagem – em vão. Exemplo: certa hora ele revela ser hipocondríaco e compara isso ao hospital abandonado – “o hipocondríaco é um abandonado” e tenta extrair alguma poesia disso. Em outro momento compara o microfone a um buraco negro e… isso mesmo, não vai a lugar algum.

Como disse, talvez em outro momento tudo soe significativo. Eu só pensei que podiam ter falado mais da Ana e menos do filme que exibiriam na sequência. Saí na metade deste: melhor era buscar os amigos na rodoviária e abraçar Gabriela.

  1. Não fui a fundo nessa pesquisa, mas acho que falta algo que remeta a Ana Cristina César mesmo na decoração da Tenda dos Autores, em especial no painel que fica ao fundo dos autores. Nos anos anteriores, creio, sempre havia algo relacionado ao escritor homenageado ou à sua obra-prima.