Depois de muita dúvida a respeito da cobertura do dia 2 da Flip (afinal, aquilo era glacê ou pasta americana?), decidi começar pela parte séria do evento: o L de literatura.

Poesia pela manhã

Resolvi assistir ao papo de Lázaro Ramos e Angela-Lago logo cedo. Pudera: os poemas de ambos são primorosos; li (e reli) Caderno de rimas do João e O caderno do jardineiro entre um atendimento e outro na livraria e os recomendo enfaticamente a todos. Contudo, as senhas já tinham se esgotado e me restou a alternativa de chegar atrasado para a mesa das poetas da programação principal.

Cheguei no finzinho, mas justo numa das discussões que mais me interessariam: haveria na poesia delas uma dicção feminina? Anitta Malufe declarou esta ser uma questão óbvia e complexa: sim,o gênero seria uma das grandes coisas que a definem, mas há o problema dos estereótipos; a poesia tem que brigar com o clichê. Laura Liuzzi seguiu a discussão apontando críticas de Ana C a Cecília Meirelles e Enriqueta Lisboa pelo que há de etéreo e sensível na linguagem delas; sim, mesmo que haja uma intuição feminina, ela não precisa ser expressa dessa maneira. Marília Garcia concordou que o lugar de onde se fala está presente no texto e também que a desconstrução é necessária para o fazer poético.

Bom ver uma mesa em que não roubaram o protagonismo das mina.

A noite é prosa

Por falar nesse protagonismo, resolvi prestigiar Paula Fábrio e Marta Barcellos na Casa Sesc. O tema era para ser “Mananciais de histórias”, mas se tornou “Seu livro é autoficção?”. O que rendeu boas histórias. Seguem meus destaques pessoais:

* Marta Barcellos contou sobre a desviradora de roupas numa loja de departamentos e sobre como a incomodava esse jeito da classe média agir sem se importar com o outro, em sua normalização do desprezo pelo outro – em suma, sobre a falta de empatia. Não teve como não me identificar nessa questão – principalmente depois de ter trabalhado um ano numa livraria de shopping.

* Paula Fábrio, após comentar as semelhanças entre características suas e as de Isabel (protagonista de Um dia toparei comigo), relatou uma ida à dentista. Esta simplesmente não acreditou que não havia um Luiz na vida da autora – spoiler alert: esse é o nome do amante espanhol de Isabel. Todo mundo riu a valer.

Muito da conversa tangenciou o tema da dificuldade de escrever e eu não podia me identificar mais – aliás, o que estou fazendo aqui? Barcellos passando do jornalismo para a ficção literária, Fábrio contando de sua experiência como dona de livraria e correspondente do Marcos Rey, na época em que ainda se escreviam cartas (novamente a identificação spoiler alert: esse é o nome do amante espanhol de Isabel. Todo mundo riu a valer. mas o meu caso de amor era com Pedro Bandeira).

Mais duas autoras para a lista de leituras obrigatórias.

Fim de feira

Fui ainda à mesa de Irvine Welsh com Bill Clegg, mediada por Daniel Pellizzari. Não sei se o papo anterior me exauriu ou se esse estava chato mesmo, mas as únicas coisas que lembro são: 1. a conversa soava como ruído branco (sabe aquele barulho de tevê não sintonizada?) e 2. o moço bonito ao meu lado parecia desenhar muito bem.

Foi um bom momento para checar os likes no meu Instagram.

@theonlytuca
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