Photo by Jane Cornwell

Mantenho diários e cadernos de anotações desde os 8 anos. Tenho um blog privado onde escrevi dos 15 aos 20 anos. Um incontável número de rascunhos e notas espalhadas por aí. Fora tudo isso, ainda hoje e desde os 19 publico textos em sites aqui e ali. A necessidade de registro sempre me foi uma coisa muito louca e urgente. Era como se eu precisasse escrever para não esquecer da vida. Os anos poderiam passar e eu até poderia me lembrar das coisas todas de forma diferente, mas o registro sempre existiria para me dar um alô caso eu quisesse. Essa foi a minha forma de estar sempre em contato com os tempos e com o que eu era e pensava em cada um deles. Pura bobagem, pensei algumas boas vezes.

Na prática, foram raras-raríssimas as vezes em que reli qualquer coisa que escrevi. Mesmo aqui no Posfácio: acho que só reli textos que foram usados para o meu livrinho e mesmo assim foi difícil. Toda viagem de volta é acompanhada de uma porrada de vergonha bem no meio do estômago. O constrangimento em cada experiência espaçava cada vez mais a próxima. Eu criticava tudo. Das escolhas das palavras às escolhas da vida. Isso atrapalha tanto. Nunca consegui fazer uma narrativa longa por sempre acabar jogando elas fora antes de chegarem ao terceiro capítulo.

Recentemente, me mudei. Isso significa que tive que me deparar de novo com todos os 16 cadernos para empacotá-los. Confesso que quase joguei tudo no lixo. Eu fico constrangida só de olhar pra eles, mesmo que fechados em um canto. Por isso, logo que acabo um, coloco em um lugar onde não posso ver normalmente. Acho que ninguém quer lidar com o passado todo dia, não é? Faz sentido.

Mas sim, peguei os diários e trouxe para a casa nova. Agora vejo que fiz bem. Eles foram a última coisa a ser desempacotada. Antes de irem para fora da minha vista por sei lá quanto mais tempo, resolvi dar uma olhada. Dessa vez, o jab não veio por vergonha do passado, mas sim da ausência que existe hoje.

Uma vez me falaram que minha literatura era muito jovem e que era preciso coragem para publicar aquilo que eu fazia (no caso, a pessoa falava do meu livro). Na época, isso me soou como uma baita crítica. Imaginei vampiros e adolescentes em triângulos amorosos dos mais melosos saindo dos meus textos. Hoje, acho necessário. Aconteceu que eu reli meus textos aqui na casa nova e pela primeira vez achei eles melhores do que qualquer coisa que eu tenha escrito nos últimos tempos. Mesmo que hoje eu tenha feito dois anos de escrita criativa. Que tenha bem mais referências. Que seja mais safa como um todo. Antes eu era mais honesta.

Eu era honesta aos 8 anos, quando queimava a bordinha das páginas para parecerem velhas e hard core (risos). Eu era honesta aos 19, quando escrevia sobre o primeiro término e todas as lamúrias decorrentes. Acontece que eu escrevia para mim. Eu era honesta nas minhas resenhas antigas, que eram baseadas tão somente no que eu achava do livro, sem pensar em estilo literário ou no autor ou no seu “conjunto da obra”.

Nós todos deveríamos escrever, antes de tudo, para nós mesmos. Desculpe o egoísmo, mas esse texto também é para mim. Consegui reler ele hoje e gostaria de reler ele novamente daqui um tempo, para eu me lembrar do que é importante. Que sirva para você também. Vai ser bom. Vai ser ótimo se acontecer. Mas se não, tudo bem. Que alegria que o Posfácio voltou: esse lugar que tenho guardado alguns dos meus textos favoritos.