Há duas semanas, mais ou menos, tenho pensado em um comentário clichê que sempre passou no automático por mim: “envelheceu mal”. O que seria o “mal” empregado junto ao envelhecer? No primeiro momento você e a pessoa do seu lado vão falar de alguém que não se cuidou e deixa transparecer mais do que a própria idade. O certo seria usar o “envelheceu mal” para os doentes ou viciados que desperdiçaram a velhice com bobeiras juvenis. O oposto, o tal do “envelheceu bem”, é para falar exatamente daqueles com aparência juvenil e disposição idem.
(Não quero partir para pormenores para você não perder alguns anos de vida com mais alguns parágrafos)
Vou usar o caso de duas atrizes de Hollywood: Carrie Fisher e Jane Fonda.
Jane Fonda sempre é elogiada por estar intacta para uma mulher de 81 anos. Ela própria adora fazer piadas sobre toda essa “disposição” e sobre “envelhecer bem” (a foto que ilustra esse post não me deixa mentir).
Por outro lado…
Quando a saga Star Wars retornou – e nem pareceu que foi embora, era apenas um hiato -, muitos dos tais fãs (aquela espécie que odeia personagens não brancos, da mesma estirpe que não aceita um Dr. Manhattan negro…) começaram a falar de como Fisher tinha envelhecido mal. A memória afetiva (outro tópico em que quero voltar com calma outro dia) é a da Princesa Leia no biquíni dourado nos anos 1980, e duvido que muitos tenham acompanhado a carreira dela após isso. Apesar de todo o deboche que a força lhe deu, Carrie, à época, foi ao Twitter falar algumas coisinhas sobre estar velha e acabada:
“Juventude e beleza não são méritos. Eles são um alegre produto do tempo e do DNA.”
E completou com: “Homens não envelhecem melhor do que mulheres. Eles apenas têm a possibilidade de envelhecer.”
Creio que as pessoas, quando usam a expressão, querem indicar o real medo de elas envelhecerem. Ao afirmarem o envelhecimento de alguém, elas mesmas indicam que estão mais velhas, pois precisam lembrar-se de quando aquela velha pessoa era mais nova.
Não é exclusivo de celebridades. Nós sentimos o envelhecer em casa quando olhamos bisavós, avós ou nossos próprios pais. Lembro, inclusive, daquele app de envelhecimento que me deixou como uma versão de 80 anos do meu pai – que nunca verei, coisas da vida.
Há o medo de entregar-se à juventude e pagar mais para frente sem ter tomado o devido cuidado para tudo. Apontar para os outros o quanto descuidados fomos é mais fácil para nos livrar do peso da idade, da nossa idade.