Nada melhor que um título para contradizer o que vou falar… ou não. Na verdade não se trata de uma contradição com relação às frases que vão compôr esse texto, mas uma contradição com o que eu penso.
Há duas semanas, se não me engano, houve uma Feira do Livro aqui em Joinville. Uma semana com exposições de livros, bancas com livros a R$3 e outras com descontos de 20 a 50%. Além disso, vários autores nacionais foram trazidos para falar de suas obras, da experiência no mundo das letras, para se aproximarem dos leitores… que leitores?
Sim, eu pergunto pois em entrevista com a presidente do Instituto Feira do Livro, ela me disse que pedia pelo amor de Deus para as pessoas que passavam, que parassem e ficassem ali pelo menos dez minutos para dar volume e não decepcionarem o escritor, porque não havia quase ninguém na conversa…. Outro agravante é a quantidade de livros vendidos. Além de ser baixo, as pessoas que iam à feira só eram atraídas pois se estava dando canetas de brinde… O livro não interessa… a caneta é mais útil…
Mas eu poderia pensar que isso aconteceu pela falta de patrocínio e, conseqüentemente, pela pouca divulgação do evento. Mas o que explica, então, a situação crítica das livrarias da maior cidade de Santa Catarina? Existem aqui três livrarias. Dessas, uma está quebrada e a outra só se sustenta pois é uma rede de lojas que vende, além de livros, CDs, DVDs, jogos etc. e tal. Resta somente uma que vive da venda de livros e papelaria, unicamente.
Bem, mas para não achar que a situação é só aqui em Joinville, eu tenho outro dado: a média de leitura do brasileiro é de 3 ponto alguma coisa livros por ano. Não chega a quatro livros por ano! A Colômbia tem uma média de 7 livros/ano. Agora lembrem do tamanho da Colômbia! Olha a situação política do país! E a gente lê menos que eles! Não menosprezando os colombianos, mas é que o nosso preconceito (pelo menos meu, pra não generalizar) faz com que seja um dado incrível e vergonhoso para nós. O que me deixou um pouco mais feliz é que ainda dentro do Brasil nós temos um estado chamado Rio Grande do Sul que tem uma média de leitura de 9 livros/ano. Isso é muito bom! Não é à toa que eles queriam ser uma nação independente.
O que leva a tudo isso? Desculpem-me qualquer expressão chula que eu use aqui, pois esse assunto me revolta. Justamente porque não há hábito de leitura nas famílias e as pessoas dão desculpa que não tem mais tempo! Purrinholas que não tem mais tempo! Vai ver a média de televisores que ficam ligados nos domingos vendo Faustão e Gugu! Vão conferir a quantidade de famílias vendo a novela das oito. E pior! Vão pesquisar pra ver a porcentagem de brasileiros que ficam viciados em Big Brother Brasil! E ainda dizem que não tem tempo! Faça-me o favor!
Os jornais impressos estão definhando. As pessoas querem as coisas prontas, mastigadas. Economistas internacionais estão convencendo seus empresários a pararem de investir em ações de jornais como The New York Times, The Washington Post, porque estão na pindaíba. Porque as pessoas dizem não terem tempo para ler.
Mas vamos voltar aos livros. As pessoas dizem que livros são caros, mas qual é o esforço que os jovens e as famílias fazem para adquirir um livro? Gastam-se dezenas de reais em filmes (piratas, muitas vezes, porque é mais barato), compra-se celular do último modelo, tênis da marca mais cara, mesmo tendo trocentos em casa, troca-se de piercing toda semana e não tem dinheiro para comprar livro? É caro? Gente, a última vez que saí com meus amigos à noite eu gastei perto de R$100! Um livro você compra por R$20!
Daí eu tiro a conclusão: o livro não é caro. É caro se você não der importância a ele na sua vida. Não será caro um celular cheio de apetrechos se isso você definir como importante pra você. Assim como um livro não será caro se você definir como algo vital para seu intelecto e sua formação como gente e cidadão.
Perdoem-me se deu a entender que eu acho tudo supérfulo e que a gente vai encher a barriga com livro. Mas certamente as pessoas teriam pensamentos diferentes se o Brasil tivesse o hábito da leitura. Investem-se bilhões em alguma revelação do futebol, e eu que há sete anos estou tentando ajuda pra publicar meus livros não consigo! E não sou só eu. Quantas pessoas no país inteiro têm esse sonho e são ignoradas? É porque livro não dá dinheiro. Livro deixa as pessoas inteligentes e isso deve incomodar alguém. Livro ensina a pensar, a questionar e isso não é interessante pra alguns. Só pode ser essa explicação.
Mas se ninguém dá apoio é necessário que parta de nós a iniciativa. Por que, então, as nossas casas não são cheias de coisas para ler? Por que não existem revistas, jornais, livros espalhados pela casa? Por que as famílias não se sentam mais à mesa para ouvir uma boa história? Por que nós não fazemos alguma coisa? Como a gente quer que o Brasil seja um país melhor se nós temos um monte de gente analfabeta em questão literária?
É por isso que cada vez mais estamos perdendo nossa identidade de brasileiros, sendo influenciados por outras culturas. É por isso que a cada dia que passa existem mais pessoas nas drogas, na marginalidade, porque não descobriram o prazer que existe por trás de cada página de um livro. É por isso que as pessoas são enganadas, não sabem votar, não sabem cobrar de quem votam, não dão valor à educação. É por isso que existem tantos profissionais mercenários nas diversas áreas: porque entrou na profissão pelo dinheiro, unicamente, e não também ou somente para aprender cada vez mais. É por isso que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Eu posso ter viajado um pouco, mas… desculpem-me, relevem. É um desabafo de quem acha que as melhores coisas da vida estão tão perto e a gente deixa escapar por entre os dedos. Infelizmente, enquanto não lermos mais, enquanto não endeusarmos mais a leitura e um bom livro, continuaremos sonhando com um Brasil e um mundo mais justo e mais inteligente.
(Esse post é uma colaboração de Juliano Reinert, autor do blog O Andarilho de TL)

Parabéns, disse tudo!!!
Muitos reclamam que livros são caros, masss gastam barbaridades com outras coisas que não precisam.
Puxa..sinceramente fico muito revoltada com esse pessoal que não valorizam os escritores, poderiam aproveitar a situação pra conhecer melhor um escritor a tua visão de mundo, etc…mas, não vão atrás de caneta..wtf!?!?!
Bueno…
Falemos sobre isso, então…
Falei algumas coisas sobre um assunto mais ou menos parecido com esse num post aih atrás…. mas num lembro em qual foi.. enfim…
Começo pelo “tom” deste meu “discurso”: discordo dos teus argumentos, Juliano… não totalmente, mas discordo…. Acho que você tocou em alguns pontos BEM complicados…
Vamos à Jack estripador (é esse o nome do cara neh?):
1- Lemos puco. E isso é fato indiscutível;
2- Lamento profundamente pelo fracasso da feira de livros à qual vc se referiu;
3- Existem 3 formas de mentir: a) contar uma mentira; b) distorcer a verdade; c) usar estatíscas; (não digo que você mentiu ao usar dados estatísticos, mas sim que esses dados não são tão confiáveis e que há muitas coisas nestes dados que não são bem as que parecem ser…)
(tá. paro de enumerar e “escrevo discursivamente”… é menos chato…)
As pessoas têm objetivos/preocupações/vontades/gostos/etc diferentes. Não podemos, nem devemos, impor nossas vontades e nossos gostos aos outros. A imposição não é a melhor forma de revelar o quão maravilhoso algo é para nós. Eu, particularmente, é obvio, acho bacana assistir novela. Assisto algumas. Não as acompanho, mas de vez em quando gosto de dar uma espiada. Gosto também do BB. Me divirto muito com esse programa. Mesmo! E não é isso que me impede de ler. Sou leitor por gosto e por obrigação. Acredito que a questão seja, antes, de prioridades. E meter o bedelho na prioridade dos outro é bem complicado.
A relação entre leitura, postura política e afins também não me parece muito óbvia. Não acredito muito que ler seja pressuposto para tomar partido/posição nesses questões. O que nos faz tomar partido perante isso é uma questão de postura. Isto é, qual é a postura que tomamos perante acontecimentos político-sociais? Engolimos o que já nos vem mastigado ou damos uma mastigadinha nisso? Esse é o problema. Assim, o problema é antes de postura/posicionamento que de (falta de) leitura.
O primeiro ponto BEM complicado que aponto, e que está totalmente relacionado com o que já critiquei até agora, é a relação conhecimento e leitura. Ler não traz conhecimento. Pode, de alguma maneira, ser um dos fatores que gera conhecimento. Mas trazê-lo não (encaro conhecimento aqui não somente no sentido de “saber das coisas”, mas também como “uma entidade metafísica que nos possibilita lançar um olhar crítico sobre acontecimentos e situações”, que está extremamente relacionada com a reflexão). Essa minha segunda “acepção” de conhecimento, melhor, principalmente esse sentido, é gerada(o) (me perdi tudo pra fazer essa concordância) pela experiência e pela reflexão. E uma capacidade de reflexão sobre a experiência não é dada pela leitura. É, novamente, uma questão de postura (que não é gerada tabém pela leitura). Portanto, dar à leitura o status de geradora de conhecimento, novamente naquele meu segundo sentido da palavra, que se relaciona com reflexão, que percebo também no seu texto, é o que me parece BEM complicado.
O segundo ponto BEM complicado é o que eu leio na seguinte passagem:
“É por isso que cada vez mais estamos perdendo nossa identidade de brasileiros, sendo influenciados por outras culturas.”
Não quero aqui discutir a viabilidade da relação causa e consequência que você introduz com esse “é por isso que”. Fiquemos, por ora, com a questão de “perca da identidade ‘brasileiros’ pela influência de outras culturas”. O que nos torna identificáveis como “brasileiros”? (além da questão política?) Isso não é tão fácil de se responder quanto parece. Somos brasileiros através do samba? Do futebol? Do carnaval? Da bossa nova? Da literatura? Somos estereotipados como brasileiros por conta desses fatores. Estereótipo não é identidade cultural. Ou seja, não pode ser utilizado para a identificação cultural. Acredito (digo acredito por entrar numa área da qual eu não tenho nada mais do que impressões) que a identificação cultural é mais complexa do que isso. E espero que os antropólogs de plantão possam dar uma força nessa questão, já que eu não posso. Agora, se formos falar de “formação cultural”, já me sinto mais à vontade para dar uns pitacos (que podem não passar de meros pitacos). As culturas são formadas pelo contato, pela relação com outras culturas (nem vamos nos preocupar em definir “cultura”). A cultura romana foi FORTEMENTE influenciada pela cultura grega, que provavelmente já havia sido influencia por outras. Basta olharmos para o início da literatura latina, que começou com “traduções” da literatura grega antiga e clássica – mais precisamente com a tradução da Ilíada, acontecimento taxado como marco inicial da literatura latina -, e para a religião latina, em que tanto o panteão dos deuses quanto suas características humanas são altamente correlacionáveis com a religião da grécia antiga. O movimento romântico alemão (acredito que o idealista também), lá pelos séculos XVIII e XIX, que é caracterizado como o movimento mais preocupado com a formação (Bildung) da cultura alemã, pregava uma tal formação, a Bildung, através do contato direto com o estrangeiro, i. e., com outras culturas. Uma excelente “leitura” desse fato está presente na obra “A Prova do Estrangeiro”, do tradutor/crítico/teórico francês Antoine Berman, que sintetiza isso dizendo que, para os alemães, a formação (Bildung) da sua cultura havia necessariamente que passar por uma tal “prova do estrangeiro” (que podemos entender tanto no sentido de provar, experimentar o estrangeiro, quanto no sentido de ser pôsto em prova perante o estrangeiro). Uma relação, “influência”, com o estrangeiro não deve atrapalhar uma formação de cultura, mas antes ajudá-la. E me refiro à formação de cultura por julgar que uma cultura não pode ser vista como acabada, completa(da) (salvo as culturas que já “não estão vivas” (multipliquem as aspas por 100), como a latina, por exemplo).
Bom. Espero que me desculpem pela prolixidade.
E, Juliano, espero que entenda o “tom” desta minha “discordância” que, em momento algum, foi o de “querer provar que você está completamente errado e que só falou bobagens”. Quero antes que possamos discutir sobre o assunto.
São esses os meus argumentos.
Té mais.
Bem, Leandro. Valeu mesmo pelas críticas, elas são boas para que nós possamos adquirir conhecimento que, concordo com você: não vêm somente através da leitura, mas por diversos outros modos, como por exemplo, discussões e discordâncias como essa.
Bem, eu faço jornalismo e no curso a gente estuda um pouco de antropologia. O que posso lhe dizer acerca de alguns meios de comunicação e mais especificamente certos programas, a forma como eles afetam o pensar das pessoas, sugiro-te um livro excelente: Simulacro e Poder: uma análise da mídia de Marilena Chauí.
Quando você lê, reduz-se a quase zero as possibilidades de você ser manipulado. Não é compeltamente nula, mas é bem mais baixa do que se acompanhado de imagens, principalmente as em movimento e mais ainda se tem música na coisa. Porquê eu estou falando isso? Para explicar o motivo pelo qual eu defendi a literatura como detentora de uma boa fonte de conhecimento. Mas qua não é só ela, concordo com você.
Quanto ao BB, às novelas e ao Faustão eu não disse que as pessoas deveriam parar de ver essas coisas para ler. Só disse que as pessoas acusam não terem tempo para ler, no entanto, os picos de audiência que esses programas têm é impressionante! Isso mostra que as pessoas tem tempo sim! Somente nesse mérito que eu queria entrar. Nada de menosprezar o pensar das pessoas que os assistem, embora eu continue acreditando que eles não acrescentam nada. Mas eu não vou dizer que eu nunca assiti novela e Faustão! Só não era nesse assunto que eu queria entrar.
Mas as pessoas não gostam de ler. E eu não culpo as pessoas. E quando eu falo que a leitura está ligada à vida política, está sim! Se as pessoas lessem mais, teriam outras visões além da TV ou da internet para formar a sua opinião acerca de um assunto. E disso eu sei do que estou falando.
Quanto aos dados eles foram ilustrativos. Meramente ganchos para montar o esqueleto da minha opinião. Confesso que não busquei fontes mais oficiais, digamos, mas não acho que está longe da realidade aqueles números.
Bem, não me vem a memória mais nada a esclarecer e valeu mesmo pelas argumentações – todas muito felizes. Qualquer coisa que eu não esclareci sobre meu ponto de vista, só perguntar. Debate é comigo mesmo!
A experiência – observação de “acertos/erros” – parada para reflexão…
Olha, fico pensando o porquê de a experiência alheia ser tão mal vista. Os registros do passado (é assim que eu considero o que está escrito), sejam sensações alheias ou descrição de fatos, podem trazer luz (reflexão), no meu ponto de vista. Vejo (e olha que vivo no Rio Grande do Sul) muita gente repetindo os mesmos erros de nossos avôs, parecem cães correndo atrás do rabo. Caso, você coloque um livro nas mãos dessas criaturas e diga aqui tem sugestões para a sua atual condição, balançam a cabeça negativamente dizendo: preciso de solução não de leitura; não tenho tempo pra isso; tenho problemas; preciso correr atrás, tenho coisas a resolver; não vou ficar sentado lendo um livro. Aí, você pode me acusar de estar cometendo um erro. A pessoa precisa entender livros como diversão e não aprendizado, Cara, você não tentou como eu já tentei e me confesso cansada.
As pessoas no momento atual, em sua maioria são superficiais. Parar para ler é uma forma de treinar deixar de lado tudo o que distrai e estar só, quieto, dirigir sua atenção a um assunto. Aumentar a capacidade de aprofundar, analisar algo como se tivesse utilizando um microscópio e isso ajudaria a capacitar para o discernimento, muito mais do que repetidas experiências sem reflexão.
A Feira do Livro dá certo, a nossa tem 53 ou 54 anos. Espero que não desistam em sua cidade. Hoje em dia é um evento que ninguém por aqui quer faltar. Posso imaginar o quanto os organizadores devem ter ficado vexados diante da situação. O que posso dizer é que os escritores são gente muito boa, pacientes, colaboradores, eles darão outras chances ao público local. Imagina o que passaram os primeiros escritores brasileiros, que tiveram que formar leitores para ter quem lesse o que escreviam.
Olha só, o meu menino Jabô escrevendo por aqui! *__*
Olha muito bom o seu texto. Realmente eh impressionante o numero de pessoas que diz nao ter tempo para ler e fica, entre outras coisas, assistindo uma tv que na maioria das vezes eh de uma qualidade “duvidosa” – para usar um eufemismo.
So discordo do texto quando vc diz que livro nao eh caro. Livro eh caro sim, considerando-se principalmente, que nao ha impostos sobre os livros como ha para outros produtos.
De resto, achei o texto muito bom.
Meu lema sempre foi , celulares aparece um modelo noovo e melhor todo dia, um livro de Dostoievski NAO.
Não tinha visto este tópico ainda! Vc disse tudo Anica! Fico vendo essas pessoas usando droga e dizem que é para fugir da realidade em que vivem – então vão para uma biblioteca! Além de fugir da realidade fica mais inteligente!! Tenho uma estante cheia de livros em casa, de todos os tipos e minha irmã passa longe deles até na hora de limpar! E isso influenciou na nota da prova que fizemos, eu apesar de fazer 3 anos que terminei o ensino médio tirei uma nota muito maior que ela que terminou a apenas 1 ano! Eu só vim a conhecer leitores assíduos após entrar para o Meia, no meio em que convivo não conheço pessoas que tem o hábito de ler!!
Excelente texto .Não Sabia que média de livros lidos era menor que a dos colombianos .É um lastima 🙁