Há mais de um século Bram Stoker publicou o romance que seria a referência para todos os escritores que um dia viessem a narrar uma história sobre vampiros. O autor aproveitou-se das sombras deixadas pelos resquícios do Romantismo europeu e escreveu Drácula, ambientando a história entre Londres e o Leste Europeu, em uma região repleta de lendas conhecida como Transilvânia. Criava assim o maior de todos os monstros que habitam o imaginário popular.
Sua inspiração foi o conde Vlad Tepes, um nobre que viveu nessa região durante o século 15 e tinha uma especial predileção em empalar seus inimigos, entre algumas outras atrocidades que cometia. Justificando o ditado que a vida imita a arte, no começo do século XX, viria exatamente da Hungria, país localizado no Leste Europeu, aquele que iria marcar para seu nome como o ator que interpretou o Senhor dos Vampiros no cinema e teatro.
Bela Lugosi (pronuncia-se Bai-la), tornou-se para sempre o Drácula após estrelar na peça homônima em idos de 1927 na Broadway, em Nova York. O sucesso foi estrondoso, tirou do anonimato o jovem ator húngaro que até aquela época fizera apenas papéis secundários de vilão em filmes mudos do cinema alemão e americano. A Universal Pictures comprou os direitos usando Lugosi para negociar com a viúva de Stoker. Apesar disso ele não era a primeira opção do filme Drácula, que foi exibido em 1931. A vaga era de Lon Channey, que morreu deixando o espaço para Lugosi estourar como drácula vindo diretamente das obscuras e tenebrosas montanhas e castelos da Europa Central.
O diretor Tod Browning optou por não alterar o estilo da história retratada nos palcos. Deu preferência a um ritmo lento, sem trilha sonora, em que o aprofundamento dos diálogos se sobrepunham ao desejo de sangue do vampiro. Lendas dizem que como Lugosi não dominava com aptidão a língua inglesa, ele aprendeu suas falas foneticamente, repetindo-as durante a gravação das cenas do filme.
A verdade é que ele impressionou muito no papel de Drácula, ajudado pela curiosidade de ser húngaro e pela inocência da época, criou um estilo que apavorava a imaginação dos espectadores.
O filme Drácula tornou-se uma referência obrigatória nos filmes de horror. E para Lugosi significou uma marca da qual ele não conseguiu se livrar jamais, indo além de sua vida artística e influenciado até seu comportamento pessoal pelos anos seguintes.
A encarnação de Vlad Tepes que aterrorizou Hollywood nasceu Béla Ferenc Dezsõ Blaskó, em 20 de outubro de 1882, em Lugos, na Hungria, apenas oitenta quilômetros da Transilvânia. Em 1893 abandonou os estudos e a família para se aventurar com uma companhia teatral. Os atores foram embora e Lugosi (que adotou este nome numa referência à cidade em que nasceu) deu duro para viver trabalhando em minas e numa ferrovia. Não abandonou, contudo, o sonho de atuar, aparecendo em pequenos papéis no teatro húngaro já em 1902.
Devido ao início da Primeira Grande Guerra, Lugosi viu-se obrigado a abandonar a carreira de ator, só retornando em 1917. Já era muito identificado para os papéis de vilões, devido ao seu tipo físico sisudo e olhos negros penetrantes. Por conta de sua oposição ao regime político húngaro, em 1920 foi obrigado a fugir para uma desolada Alemanha que vivia a maior inflação do planeta. Não demorou muito por lá, seguindo para a América onde conseguiu asilo político.
Foi nos estados Unidos que Bela Lugosi assumiu definitivamente sua condição de vampiro mais popular até os dias atuais, talvez rivalizando apenas com Christopher Lee, quando representou Drácula: Prince Of Darkness, em 1966. O próprio ator forçou sua ligação com o personagem sombrio, não hesitava em aceitar papéis em filmes pequenos sobre o tema para ganhar alguns trocados.
Ele tentou novos papéis no teatro, mas estava estereotipado, e quando o dinheiro faltava ele tornava a encarnar o chupador-de-sangue em alguma produção cinematográfica de segunda categoria. Durante a década de 30 e 40 mesmo com o estigma do morcegão o perceguindo onde fosse, atuou em alguns filmes de ótima qualidade, como Murders in the Rue Morgue, de 1932, seu primeiro filme sobre a obra de Edgar Allan Poe. Atuou em Island of Lost Souls (1933), simplesmente a primeira versão do cinema para a história de H.G. Wells, onde o doutor Moreau é interpretado por Charles Leighton, em The Black Cat (1935) faz parceria com Boris Karloff (para quem perdera a vaga em 1932, para Frankstein), repetindo a dose em The Raven, filmado no mesmo ano e mais duas parcerias: The Invisible Ray (1936) e The Bodysnatcher (1945).
Nos anos 40 acontece o total esgotamento do gênero terror para Hollywood. A formula estava batida, repetitiva e o caminho natural foi a reunião de vários monstros num mesmo filme ou comédias satirizando os temas. Lugosi foi envolvido nesta decadência como se fosse parte intrínseca dela. Mesmo assim atuou com destaque em filmes dramáticos e comédias: aqui teve um ponto alto como um militar soviético no clássico Ninotchka, 1939, de Ernst Lubitsh, onde Greta Garbo fez seu último filme. Apesar disso estava marcado demais como vilão, além do fato de não ser propriamente um galã, bem longe de tipos que levavam suspiros às platéias femininas, como Clark Gable, Cary Grant e Tyrone Power.
Com o abandono do gênero por Hollywood, Lugosi ficou desempregado. Ele ainda tentou algumas participações na TV no início dos anos de 1950, ou comparecendo em cinemas de subúrbio para apresentar pessoalmente a reprise de seus filmes de monstros.
Conforme muito bem retratado pelo ator Martin Landau (que levou o Oscar de coadjuvante) no emocionante Ed Wood (1995, de Tim Burton), Lugosi foi resgatado do total ostracismo pelo cineasta Ed Wood Jr. que, apesar de ser considerado o pior diretor do mundo, conhecia cinema e o tinha como ídolo. Usou o velho vampiro com uma oportunidade de chamar a atenção do público para seus péssimos e colocou Bela para estrelar algumas de suas produções, como Glen or Glenda? (1953) e Bride of the Monster (1955).
Sua saúde mental também se deteriorava. Isolado no casarão em que morava em Beverly Hills, Bela Lugosi se vestia como drácula para dormir em um caixão. Alcoólatra e viciado em morfina, foi várias vezes internado, com as despesas pagas por Ed Wood.
Num dos filmes de Wood, Lugosi assinou seu epitáfio. Em 1956, ele interpretou novamente Drácula em Plan 9 from Outer Space, um dos mais criticados filmes de todos os tempos, a despeito de ter uma legião de fãs. Ele e uma vampira deveriam representar um casal retirado do túmulo por invasores alienígenas do espaço. Uma semana depois do início das filmagens, 16 de agosto de 1956, Bela Lugosi morreu. O filme prosseguiu com outro ator fazendo as cenas com a capa de vampiro cobrindo o rosto.
Lugosi é um exemplo triste de como o estigma pode marcar para sempre a vida de um artista. Ele, que é ainda hoje o mais cultuado e aterrorizante drácula da história do cinema americano, e que mordeu e sugou o sangue de tantas vítimas em vários filmes e peças de teatro, levou uma lenta, profunda e derradeira mordida da indústria cinematográfica, que acabou por ceifar sua própria vida. O legado de Lugosi e a lenda que existe em torno de sua figura só aumentou após sua morte, fazendo-o um dos mais carismáticos e importantes atores do horror até hoje.
É uma pena ter que morrer para ser conhecido, gostei de saber da história de um grande vampiro, sou aficcionado por vampiros, um ponto interessante seria colocar o nome dos filmes que ele fez em português, pois assim quem ler aqui vai saber o que pedir na locadora.
Eu assisti Ed Wood antes de ver Plano 9, então eu já sabia dessa história da substituição do Bela, hehe. Se post tivesse trilha sonora poderia ser Bela Lugosi is Dead, ahn? =)
Eu tenho o Drácula com o Bela Lugosi.
Acho hipnotizante o clima, o filme, mas o Bela era muuuuuito canastrão. Mas um canastrão talentoso!
Eu amoooooooo vampirossss