imagesEste post é, na verdade, uma cópia de vários trechos de uma conversa travada entre mim e o Tiago. É o segundo texto, em que discutimos os nomes que achamos mais prováveis e fazemos nossas apostas. Ainda falta mais um, quando falaremos do laureado- que será revelado pela Academia Sueca no próximo dia 08.

Luciano R. M.

É difícil pensar em nomes para o Nobel. Tudo aquilo que já dissemos é certamente importante, mas ainda assim não sei qual a visibilidade de certos autores no cenário literário europeu. Escolhi, então, cinco autores que parecem-me plausíveis ao menos de uma indicação, e expliquei o porque disso.

Adonis– o poeta sírio não só não é europeu como nem escreve em um idioma europeu: seus poemas são em árabe. E os árabes estão entre os principais alvos da onde de xenofobia que varre a Europa, incluíndo ai o marido da cantora Carla Bruni.

Andrei Voznezensky– o russo é um nome de peso no cenário literário internacional. E, sendo russo, seria um modo de a academia contornar o europocentrismo sem, no entanto, realmente abandoná-lo (afinal a Rússia fica em sua maior parte na Ásia, mas é muito mais próxima- literaria e culturalmente- da Europa do que dos outros países asiáticos). O destaque que a Rússia, sob o domínio do Tzar Putin, vem assumindo também trabalha a seu favor.

Bahman Sholevar– Iraniano de uma família politicamente notória e consciente, vive em exílio nos EUA. Escreve seus poemas e romances em persa, inglês, frances, italiano e espanhol, e alguns deles são banidos em seu país de origem. O fato de que os herdeiros do governo que o levou ao exílio terem protagonizado o incidente eleitoral que levou a população iraniana às ruas o favorece frente à academia.

Amós Oz- Um autor israelense me parece um bom palpite. Desde que não apóie a ocupação dos territórios palestinos. Inicialmente pensei em Sutzkever, mas, além de ser originalmente polonês, não sei como ele se posiciona quanto a essa questão. Amos Óz, por outro lado, nasceu em Jerusalém e é co-fundador do movimento pacifista Shalom Akhshavat (Paz Agora). Já recebeu diversos prêmios pela organização e por sua obra literária, inclusive tendo sido candidato ao Nobel em 2002.

Paulo Coelho- Uma aposta feita com um misto de sarcasmo e medo. Seria cômico que o primeiro Nobel do Brasil fosse dele. Mas, ao mesmo tempo, ele é um de nossos autores de maior renome internacional -dizem as más línguas que fora do Brasil ele é realmente respeitado- e a posição política do país é favorável. E, como Você (Tiago, no caso- o post são pedaços de conversas nossas) disse antes, o quesito político e a pressão podem fazer com que as escolhas da academia recaiam sobre escritores de qualidade duvidosa…

Tiago

Ernesto Cardenal– naquela minha expectativa de que o laureado deste ano seja um poeta latino-americano, Cardenal (1925) me parece o autor mais próximo do Nobel. Sua biografia contribui para isso: é nicaraguense, fez parte da revolução popular e anti-americana sandinista, é padre (foi um dos participantes da Teologia da Libertação)  sendo silenciado pela Igreja Católica, inclusive recebendo um sermão público do próprio João Paulo II!). Tem um importante papel político ainda hoje. Some-se a isso o fato de ter uma forte ligação com Honduras (inclusive nos seus poemas – vide “Hora 0”), país cujo estado político reflete bem as contradições dos novos governantes latino-americanos. Ganhou vários prêmios, como o Rúben Dario(1965), o Pablo Neruda (2009) e o Prêmio da Paz dos Livreiros da Alemanha (1980). Seus poemas são muito espirituosos (com o perdão do trocadilho): “Oração para Marilyn Monroe” é genial!

Mario Vargas Llosa– o romancista peruano (1936) que já foi candidato a presidência é um dos latino-americanos (junto com Carlos Fuentes) mais óbvios que a Academia poderia premiar. Como ela tem adotado um padrão ‘conservador’ nestes últimos anos, concedendo o prêmio a escritores que já estão há algum tempo no páreo,  é possível que Llosa seja escolhido…

Luis Goytisolo – escritor espanhol (1931), que tem uma relação muito próxima com o mundo islâmico, e que retrata muito bem a ‘invasão’ imigrante na Europa (lembram-se que a Espanha tem adotado algumas das medidas mais radicais para expulsar os trabalhadores estrangeiros de seu país), por exemplo, em “Paisagem Depois da Batalha” (1982). Também tem uma longa história de rebelião contra o franquismo, que segundo ele, começa desde os seus seis anos de idade, quando sua mãe morre devido a um bombardeio durante a Guerra Civil Espanhola.

Adonis – É realmente um dos grandes favoritos… E, apesar do prêmio ter levado em consideração a ‘alteridade’ nestes últimos anos, nenhum árabe levou de fato o Nobel (ainda que Pamuk tenha levado o prêmio e para alguns de lá da Europa- e daqui também- seja tudo a mesma coisa…). Além disso, seus poemas são muito conhecidos na França (eu até cheguei a dizer que ele escrevia em francês…)

Ferreira Gullar – quem sabe, quem sabe…

Fico triste em deixar de fora escritores como Cees Nooteboom (Holanda), Nicanor Parra (Chile) e Fazil Iskander (Abhazia/Rússia), mas acho que as chances deles diminuíram nos últimos anos…

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