Vermelho é uma cor de significados fortes. Não importa em qual esfera ela se encontre, sempre que o vermelho aparece, você sabe que tem de ficar atento ao que vai aparecer. Muitas vezes essa condição não quer dizer que os próximos acontecimentos serão bons, mas bom ou ruim depende somente da sua interpretação. Eu mesmo quando fui apresentado à Red, sabia que deveria ficar com os olhos atentos e ficar concentrado no que estava por vir em cada virada de página.
O plot dessa HQ não é o que podemos chamar de “o” mais original. A história gira em torno do ex-agente secreto Paul Moses, que depois de anos em código “verde” (desativado) se vê ameaçado pela entrada de um novo diretor na CIA. O problema é que toda vez que um diretor novo é posto dentro de seu cargo, deve ser informado de todas as operações importantes que já foram executas, ou seja, ele fica ciente de todos os podres da agência.
No universo dessa HQ, todos os assassinatos importantes que ocorreram dentro do mundo político internacional foram realizados por um único agente. É justamente de Moses que estamos falando. Ele foi o responsável pelos maiores e mais importantes assassinatos e por isso, vivo, representa um grande risco para a agência. Se Moses resolver escrever um livro de suas memórias ou contar para qualquer um as missões que executou, pode por o governo em maus lençóis. Com medo da ameaça representada pelo agente, o novo diretor dá ordens para sua execução.
A parte mais empolgante dessa história toda é que Moses, mesmo estando numa idade avançada, ainda é um bom combatente e só desejava ser deixado em paz para viver suas férias. Tudo isso muda quando ele percebe que o governo nunca o deixará em tranquilo pelo que ele sabe. É nesse momento que temos Moses de volta à ativa, agora em código vermelho.
Inicialmente pode parecer que Red seja só mais uma daquelas HQs que são historyboard para futuros filmes. As cenas de ação são construídas para dar fluidez aos movimentos dos personagens, usando ângulos mais explorados pelas lentes. Porém esses elementos não destroem o âmbito mais filosófico da história. Paul Moses é o típico homem máquina, treinado para matar e executar as ordens sem raciocinar, enquanto vive dentro da contradição de ser extremamente inteligente, provando que o conhecimento acadêmico não está ligado a sabedoria. Quando o mesmo governo, que ele servil ser questionar, começou a prejudicar sua vida de forma direta, a sabedoria dos anos mostrou que a melhor coisa a fazer era confrontar seu contratante.
O roteiro é assinado por Warren Ellis, nome que garante uma qualidade indiscutível a qualquer HQ. Claro que nem de longe é o melhor trabalho dele, mas uma obra desprendida e construída dentro de um ciclo fechado e sem possibilidades de continuações claras, pode ser a forma mais ilimitada de um autor expor seu talento. A arte de Cully Hamner também dá um sabor especial, porque lembra muito desenhos dos anos 90 e cai bem com o texto do Ellis, fazendo da HQ um corpo fechado e não uma desconexa junção de elementos estranhos entre si.
O mais legal é que Red chega aos cinemas em 2010 e com participações de Bruce Willis e Morgan Freeman. Moses parece ter sido construído para o Bruce Willis, o que pode fazer desse filme uma das poucas boas adaptações de filmes. Red foi editado pela primeira vez em 2003 pela Homage Comics nos E.U.A.
Sobre o autor: Breno Cavalcante de Souza é o Breno C. lá no Meia Palavra e pode ser encontrado também no blog csides.