o mesmo marNádia morreu de câncer. Rico, seu filho, parte então para o Tibet. Para fugir ou encontrar – sabe-se lá do que ou o quê: é o que ele próprio gostaria de descobrir. Ao partir deixa aqui sua namorada Ditta e seu pai Albert – que, entregues aos cuidados um do outro por Rico, acabam se envolvendo de modo tão perturbador quanto singelo. Ao mesmo tempo Bettine, amiga de Albert, tenta salvá-lo da desgraça eminente, obedecendo seus ciúmes.

E isso não é tudo. Apesar da complexidade envolvente, não é esse o principal trunfo do israelense Amós Óz nesse O Mesmo Mar, que é considerado por muitos como sua obra-prima e pelo autor como o livro que teve mais dificuldades para escrever.

Levou cinco anos para isso. Porque, segundo disse, queria romper certas barreiras literárias. O que conseguiu de modo um tanto quanto curioso: seu romper de barreiras consistiu justamente em ficar aquém de todas as barreiras. Não chega a ser prosa, mas também não é poesia; cada capítulo é um curto relato em forma de poema, com frases curtas e poucos adjetivos. Do mesmo modo a ficção e a autobiografia se misturam, impedindo uma definição exata: ao mesmo tempo em que conta a história ele fala de sua vida, chegando mesmo a conversar com as personagens, aconselhá-las.

Como na maior parte de sua obra, Óz explora assuntos complicados de modo erudito, mas sem deixar de ser acessível. Solidão, amor, fé, a literatura e mesmo a política – assunto delicado para o autor, fundador de uma organização pacifista que não é exatamente consoante com o governo de seu país natal – unem-se e distanciam-se inúmeras vezes, tecendo uma trama bastante bela, mas por vezes confusa.

Acredito, porém, que o grande trunfo do livro é o seu vazio. Poucos fatos são realmente narrados, a maioria deles aparece de modo reflexivo; um tanto joyceano talvez; os fatos palpáveis são deixados à interpretação do leitor.

Sem sombra de dúvida, uma das melhores obras de Oz, mas também a mais difícil. Justamente por isso, um livro essencial.

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