De uns tempos para cá eu tenho lido muito mais literatura brasileira do que de costume. Carol Bensimon, Antônio Xerxenesky, Daniel Galera, J. P. Cuenca são alguns dos exemplos. É notável, porém, a falta de poetas entre essas leituras – uma falta quase que imperdoável, sendo que não só gosto de poesia (colocando-me, assim, em um grupo relativamente pequeno de pessoas, como já escreveu a Szymborska), mas ultimamente tenho versos à prosa.

É claro, não faz muito tempo eu andei resenhando o Piva. Mas um só é pouco, e ele não é exatamente contemporâneo. Eu suspeitava que devesse existir algum outro poeta que valesse a pena ler. Não precisei procurar: o Tiago fez com que Sanguínea, de Fabiano Calixto, viesse parar em minhas mãos.

É preciso dizer que a única referência que eu tinha do livro e do autor eram o próprio Tiago. De resto eu sou, naturalmente, bastante desconfiado de todo e qualquer poeta. Além disso, andei folheando as primeiras páginas e vi uma dedicatória que dizia ‘So I sing a song of love para Juliana, todos os poemas’: Poemas de amor? Que droga! – pensei. Via de regra, só poetas muito bons conseguem escrever esse tipo de poema sem cometer algum tipo de atentado contra a humanidade.

Acabei, no entanto, por me enganar. Existem, no livro, uma infinidade de poemas de amor. Mas eles não são ruins como meu primeiro impulso me levou a crer. São suaves, por vezes um pouco melancólicos – outras vezes otimistas. Mas a grande questão é que mesmo os poemas de amor de Calixto não são somente poemas de amor. São instantâneos da vida, da qual o amor faz parte – tanto quanto qualquer outra coisa – a morte, política, sofrimentos, alegrias, música, literatura.

Tudo está misturado ali. Existem poemas que mencionam os Beatles e Anna Akhmátova. Outras vezes é a própria linguagem que é posta em cena, ou ainda a situação sócio-política do Brasil. A única coisa que nunca abandona os poemas presentes em Sanguínea é uma espécie de autoconsciência sobre o próprio fazer poético, sobre a visão do poeta que empresta, de seus próprios sonhos e anseios, a beleza que quer ver no mundo e imprimir nos versos.

Ainda estou começando a conhecer a literatura brasileira contemporânea. Já conheço uma boa quantidade de prosadores, mas Calixto é o primeiro poeta brasileiro da atualidade que li e que realmente parece merecer uma publicação. Não posso dizer se é ou vai ser um grande poeta – conheço pouco de sua obra e, de qualquer modo, é cedo para afirmar algo assim -, mas de qualquer maneira Sanguínea é uma excelente leitura.