Stieg Larsson entregou a sua editora, em 2004, uma trilogia com título de Millenium. Porém logo após a entrega desse material foi vitima de um ataque cardíaco. O que acabou só elevando o status da série a best-seller, e provavelmente, um dos melhores exemplares do gênero policial dos últimos tempos. A trilogia é composta pelos livros: Os homens que não amavam as mulheres, A menina que brincava com fogo e A rainha do castelo de ar (todos eles já traduzidos para o português).

A trama do primeiro livro abre com um senhor de mais de oitenta anos chamado Henrik Vanger que recebe anualmente, no dia 1º de Novembro, dia do seu aniversário, uma flor rara em uma moldura, feita de maneira amadora. Logo em seguida somos levados ao fim do julgamento de Mikael Blowkvist, um ex-respeitado jornalista, que ao acusar um magnata sueco é condenado a três meses de prisão por difamação.

Mikael não recorre e muito menos explica o que acontecera para sua história não dar certo. Enquanto vive as angústias de ver sua revista, a Millenium do título, ter sua imagem abalada e de saber sua inocência, mas sem saber como construir um novo artigo sobre o grupo Wenneström. Antes do dia de natal ele é contatado por um advogado que diz representar um ex-diretor das empresas Vanger. É a partir daí que suas histórias se cruzam. Mikael é contratado para escrever a biografia da família Vanger (um gigante clã com personagens repletos de personalidades distintas) e ao mesmo tempo descobrir o desaparecimento da sobrinha favorita de Henrik, Harriet, que desaparecerá nos anos 60 durante uma reunião de família. Um caso nunca desvendado

Em outro momento, somos apresentados a Lisbeth, uma investigadora freelancer de um grande grupo de segurança, contratado pelo advogado de Vanger para investigar Blowkvist. O estereótipo da Lisbeth parece muito chulo, suas características muito datadas de filmes americanos dos anos 80: pessoas desajustadas que usam jaquetas de couro, piercings e tatuagens. Entretanto o mistério e a química, entre as personagens funciona. E faz muito sentido Lisbeth ter aquela descrição comparando que todos os outros personagens passaram da casa dos 40 anos. É um choque de personalidades contrastantes por diferenças de idade.

Há também diversas cenas fortes (de estupro, abusos sexuais e mortes por tortura), descritas de maneira bem grotesca e simplista, uma falha na narrativa do escritor, pois poderia ser mais explicito do que realmente aparenta ser.

O inusitado da obra é conseguir manter a atenção presa o tempo todo no mistério de Harriet Vanger e depois continuar com o mistério que fora nos apresentado no começo da obra que até então parecia um mero detalhe para o desencadear dos acontecimentos.

O grande mérito de Larsson é conseguir, em primeiro lugar, criar personagens de um carisma ímpar e depois por conseguir cruzar as histórias mantendo o mistério e aumentando a sede do leitor por soluções rápidas. Um jogo de investigação com muita pesquisa que, por incrível que pareça, não remete a ações desenfreadas, mas cria expectativas e embola a cabeça do leitor. Em diversos momentos é possível encontrar clichês inevitáveis só que não chegam a ser pecaminosos.

O primeiro livro da série chegou às telas de cinema esse ano, porém sem data exata para estrear no Brasil (provavelmente será lançado direto em DVD).