camusNo último dia 4 completaram-se 50 anos da morte do escritor franco-argelino Albert Camus. Foi em 4 de Janeiro de 1960, exatamente às 13h55 que um acidente de carro fez com que ‘O Primeiro Homem’ ficasse incompleto: Camus escrevia seu bildungsroman quando morreu. Um tanto quanto irônico, creio.

Foi uma grande perda: não só um dos maiores escritores do século XX, considerado herdeiro da tradição de Dostoiévisky e Kafka; mas também um filósofo e humanista importante, o ‘pai’ do absurdo. Mesmo Sartre- antigo amigo com quem teve um desentendimento por conta de ‘O Homem Revoltado’- reconhecia que o pensamento e o peso de Camus eram ímpares.

Tanto que no dia seguinte à morte de Camus, publicou um ensaio a respeito. O ensaio de Sartre falava sobre a surpresa que foi a morte de Camus, mesmo que este advogasse que a morte era a condição irrevogável do homem. Até mesmo o suicídio entrava em questão -sendo, porém descartado: a obra do argelino falava da morte, mas era a respeito da vida e, ligada como estava a esta, necessitava que seu criador vivesse. Vivesse para denunciar o absurdo, vivesse para se afirmar e poder, assim, enfrentar a morte futura.

Essa profunda ligação entre o viver e o morrer presente na obra de Camus talvez seja explicada por sua vida- seria explicada em seu livro inconcluso. Camus nasceu na Argélia, colônia francesa, e viveu sob a guerra, a fome e a miséria. Junte-se a isso o sol terrível da região, o descaso das autoridades francesas (na época, a Argélia era uma colônia) para com a população árabe e a influência do pai ausente, que morreu na guerra de Mont-Matre quando Albert tinha apenas um ano.

Ele não teria sido filósofo e muito menos escritor, não fosse a ajuda e a influência de dois professores: Louis Germain e Jean Grenier. Germain no primário e Grenier no colegial. De outro modo ele teria se tornado um tanoeiro- profissão de um tio que morava com ele e que ele inclusive exalta em um de seus primeiros contos. Mas, com o incentivo dos professores, terminou os estudos, formou-se em filosofia.

Uma forte crise de tuberculose sobreveio assim que ele terminou seus estudos, o que lhe impediu de ser professor e de jogar futebol (era uma de suas paixões, inclusive, em visita ao Brasil, a primeira coisa que fez foi assistir a um jogo), mas lhe fez ver a morte com proximidade, o que solidificou a base de sua obra ainda mais.

Tendo problemas com as autoridades da argélia, denunciando o tratamento que davam aos árabes, mudou-se para a França no início da Segunda Guerra. Quando da ocupação alemã, vivia em Paris, onde participou de um movimento de resistência e editou um jornal clandestino, ambos chamados ‘Combat’.

Ele havia sido membro do Partido Comunista, que abandonou. Ainda no partido, começara a dedicar-se ao teatro, atividade a qual deu sequência uma vez fora dele.

Em 1957 Camus foi laureado com o prêmio Nobel de Literatura, “por sua importante produção literária, com a qual ilumina com honesta clareza os problemas da consciência humana em nosso tempo”. Três anos depois, morreria. Em sua maleta o manuscrito de ‘O Primeiro Homem’, em cujas notas Camus dizia que deveria terminar incompleto.

Obras:

Révolte dans les Asturies (Revolta nas Astúrias) ,1936, Ensaio de criação coletiva

L’Envers et l’Endroit (O Avesso e o Direito) , 1937, Ensaio

Noces (Núpcias), 1939 antologia de ensaios e impressões

Réflexions sur la Guillotine (Reflexões sobre a Guilhotina), 1947

L’Étranger (O estrangeiro), Editor Gallimard, Coleção Folio, 1972,ISBN 2-07-0360002-4

Le Mythe de Sisyphe O mito de Sísifo), 1942, ensaio sobre o absurdo

Les justes (Os justos), Peça em 5 atos, Editor Gallimard, Folio teatro,2008,ISBN 2-07-033731-6

Le Malentendu (O malentendido) , 1944, Peça em tres atos.

Lettres à un ami allemand (Cartas a um amigo alemão), publicadas com o pseudônimo de Louis Neuville,Editor Gallimard,collection folio ISBN 2-07-038326-1

Caligula (Calígula) (primeira versão em 1941), Peça em 4 atos.

La peste (A peste, Editor Gallimard, Coleção Folio,1972,ISBN 2-07-036042-3

L’État de siège (Estado de sítio), (1948),Espetáculo em tres partes.

L’Artiste en prison (O Artista na prisão),1952 prefácio sobre Oscar Wilde.

“Actuelles (Atuais) I, Crônicas,1944-1948″, 1950

“Actuelles(Atuais) II, Crônicas, 1948-1953

L’homme révolté (O homem revoltado)

L’Été (O Verão), 1954, Ensaio.

Requiem pour une nonne (Réquiem para uma freira)

La chute (A queda), Editor Gallimard,Coleção Folio,1972, ISBN 2-07-036010-5

L’Exil et le Royaume (O exílio e o reino), Gallimard, 1957 contos (La Femme adultère(A mulher adúltera), Le Renégat(O Renegado), Les Muets(Os Mudos), L’Hôte(O Hóspede), Jonas.

La Pierre qui pousse (A Pedra que brota).

Os discursos da Suécia (publicado juntamente com O avesso e o direito)

Carnets I (Cadernetas I), maio 1935-fevereiro 1942 ,1962

Carnets II (Cadernetas II), janeiro 1942-março 1951 ,1964

Carnets III (CadernetasIII), março 1951-dezembro 1959

La Postérité du soleil, photographies de Henriette Grindat.Itinéraire par René Char (A posteridade do Sol, fotografias de Henriette Grindat.Itinerário por René Char, edições E. Engelberts, 1965, ASIN B0014Y17RG – nova edição Gallimard, 2009

Les possédés (Os possessos) , 1959, adaptação ao teatro do romance de Fiódor Dostoiévski

Résistance, Rebellion, and Death (Resistência, Rebelião e Morte)

Le Premier Homme (O primeiro homem), Gallimard, 1994, publicado por sua filha , romance inacabado

La mort heureuse (A morte feliz)

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