cercasEm 2001 o catalão Javier Cercas lançou ‘Os Soldados de Salamina‘, livro com o qual consagrou-se: foi adaptado para o cinema, traduzido para infinitos idiomas e tornou-se uma sensação literária. Depois disso passaria quatro anos sem publicar nada, até esse ‘A Velocidade da Luz’. Em 2009 lançou ‘Anatomia de um Instante’.

Comprei ‘A Velocidade da Luz’ simplesmente por estar em promoção; apesar de ter gostado bastante de ‘Soldados’ eu tinha um pouco de desconfiança com relação ao autor- havia lido ‘O Motivo’ e não me empolgara nem um pouco, sem contar que a orelha de ‘A Velocidade da Luz’ me fez crer em uma história não muito atraente e cheia de clichès.

Porém, desde ‘Soldados’, Cercas parece ter se encontrado literariamente, como desejava tão ardentemente desde seu debut. Não só é possível reconhecê-lo pelo estilo, mas toda a maturidade presente em seu best-seller foi mantida.

A temática continua sendo a da guerra: dessa vez é a do Vietnã. Um escritor catalão vai aos Estados Unidos, onde conhece Rodney Falk, um veterano dessa guerra. Ambos tornam-se amigos graças ao gosto por literatura. Certo dia Falk desaparece. Seu pai conta ao espanhol sobre o que aconteceu no Vietnã, sobre como Rodney mudou. Havia porém um segredo terrível- que foi o motivo do desaparecimento. O escritor retorna à Espanha e esquece o assunto. Lá ele publica um livro sobre a Guerra Civil Espanhola e acaba se tornando famoso (o protagonista ao mesmo tempo é e não é o autor- existem diferenças essenciais entre os dois, apesar de tudo).

A fama torna-se destrutiva, talvez tanto quanto o passado secreto de Rodney. Por fim o escritor decide que precisa contar a história do amigo. As circunstâncias sombrias da vida de ambos os personagens começam a misturar-se, assim como a guerra torna-se semelhante às pequenas tragédias pessoais.

Enquanto em ‘Soldados de Salamina’ era possível entrever uma luz no fim do túnel, em ‘A Velocidade da Luz’ a guerra é inútil , assassina, e sem esperança, transformando os homens em simulacros sem alma daquilo que deveriam ter sido. De modo semelhante o sucesso e a literatura são transformados em matéria dramática, capazes de destruir a vida de um homem- mais do que possuir essas coisas, os homens tornam-se vítimas deles.

Este é um livro triste e pesado, que carrega certa beleza niilista. Não é a toa que Cercas cita o tempo todo a oração de Hemingway em ‘Um lugar limpo e bem iluminado’: “Ó nada nosso que estais no nada, nada seja o vosso nome, nada a nós o vosso reino e seja nada a vossa vontade, assim no nada como no nada. O nada nosso de cada dia nos dai hoje, e nada os nossos nada assim como nós nadamos a quem nos nada, e não nos deixei nadar em nada, mas livrai-nos do nada, pois nada…

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