LIVRO ULTIMO AMIGOUma amizade extremamente profunda nascida na infância e entre dois homens extremamente diferentes é, repentinamente e sem explicação alguma, rompida. O lado que tomou a iniciativa da ruptura pode até ter seus motivos, mas são obscuros demais para que o outro os aceite, os entenda- e que deixe a amizade simplesmente morrer.
Esse enredo que soa como alguma auto-ajuda bonitinha, na verdade, serve para dois livros bastante pesados e amargos: ‘O último amigo’, de Tahar Ben Jelloun; e ‘As Brasas’, de Sándor Márai.

Jelloun é marroquino e escreve em francês. Seu estilo é bastante direto, mas profundo. Em ‘O último amigo’ o professor Ali e o médico Mamed se encontram no colégio e convertem-se em amigos inseparáveis, mais do que irmãos. Até para a cadeia- por motivos políticos- vão juntos. Mais tarde Mamed muda-se para a Suécia para trabalhar, mas a amizade continua. Certo dia, porém, ao visitar o Marrocos ele rompe com Ali, deixando-o destruído. No livro a história nos é mostrada duas vezes, na versão de cada um: é essencialmente a mesma mas os detalhes são diversos.

Em ‘As brasas’ a ação desenvolve-se 41 anos depois de Konrad ter abandonado o amigo Henrik- um general do Império Austro-Húngaro- sem explicação nenhuma, e nunca mais tê-lo procurado. Conheceram-se ainda no colégio militar  onde, apesar das diferenças de caráter e de condição social, tornaram-se como amigos. Estiveram juntos desde então, até o dia em que algo acontece durante uma caçada, e Konrad vai embora- ambos sabiam, porém, que voltaria. E no fim de suas vidas finalmente reencontram-se para exigir e dar explicações, além de se verem uma última vez.

A amizade é a tónica em ambos os livros. Essas amizades- aparentemente indestrutíveis- são perturbadas por alguns dos piores sentimentos de que um homem é possível: o ciúme, a inveja, o rancor. Essas coisas, entretanto, misturam-se com um amor fraterno mais profundo do que qualquer outro, configurando a complexidade das relações humanas. E o resultado nem sempre é o que se espera.

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