Não acredito que o melhor modo de pensar em algum autor sera compará-lo com outro. Mas ao ler Irmã Morte, de Justo Navarro, foi impossível não fazer paralelos com a obra de outro espanhol, Javier Cercas- especialmente em seu debut O Motivo.

Em ambos os casos , afinal, os protagonistas são apáticos, sofrendo de uma anedonia que chega a ser cruel, e ao mesmo tempo não conseguem escapar de suas obsessões . Em Cercas, no entanto, ele é um jovem escritor que, no começo, é um homem um tanto sensível. Já o adolescente de Navarro já começa desinteressado pelo mundo: nem mesmo a morte de seu pai lhe traz qualquer sentimento que não seja o horror, mais movido pela perda do hábito do cadáver vivo que definhava no sofá do que qualquer outra coisa.

A partir dessa morte, aliás, é que toda a história se desenrola. Com a morte do pai o protagonista e sua irmã são abandonados à própria sorte, e a moça passa a prostituir-se para sustentar a si e ao irmão. Enquanto isso ele cria um quebra-cabeça com os clientes dela, cada um deles tendo um pedaço do pai morto, a voz, os ombros, as sobrancelhas.

A questão da prostituição, aliás, é uma das coisas mais bem abordadas do livro. Em nenhum momento ela é mencionada abertamente, apenas sugerida de modo cada vez menos sutil à medida que a trama se desenvolve.

Apesar de procurar o pai nos diversos homens que passam a frequentar sua casa, o garoto encontra neles uma força opositora, pois ele não apenas é um irmão possessivo, como em alguns momentos parece existir algo de sensual em sua relação com a irmã.

O desfecho, no entanto, é algo previsível. Mais um ponto em comum com o livro de Cercas. Mas, do mesmo modo, não chega a estragar o livro pois o importante não é a história, que é até um tanto banal, mas sua execução, esta sim merecedora do prêmio Navarra que a obra recebeu em 1989.

Irmã Morte

Justo Navarro

Tradução de Luis Carlos Moreira

128 páginas

R$ 29,90

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