Andrej Vermski, também conhecido como Forte, é um dresiarze– jovem pertencente a uma subcultura urbana da polônia pós-comunista que tem seu nome derivado da palavra ‘dres‘, que significa moletom ou jaqueta esportiva, pois usam esse tipo de roupa a todo momento. Como tal ele é violento, um tanto obtuso intelectualmente e abusa de drogas. Namora Magda- representante de outra subcultura polonesa, as solaras, garotas fúteis que tem um bronzeado artificial laranja e vestem-se, via de regra, de modo bastante vulgar.

Mas Magda termina com Forte. E assim começa o ‘Branco Neve, Vermelho Rússia’, da jovem Dorota Masłowska- que publicou o livro com apenas 18 anos e dividiu a opinião do público e da crítica na Polônia. Alguns o viram como o livro que era esperado desde 1989, um livro que traduzisse as angústias do país depois da retomada da independência completa, e que ao mesmo tempo fosse ousado. Para outros, porém, o livro é apenas linguagem vulgar e tolices da juventude. Mas, de qualquer maneira, ninguém ficou indiferente.

O livro desenrola-se na forma de um veloz fluxo de consciência, em que Andrej está completamente chapado de anfetaminas e tem delírios dos mais variados tipos, desde a chegada de tanques até idéias como vender a areia polonesa- simplesmente porque ela é a melhor areia do mundo.

E, enquanto isso, ele encontra diversas garotas- Angelika, a gótica bulímica engolidora de pedras, Ala, a nerd que namora o rapaz que lhe tirou Magda, a manipuladora Natasza e mesmo uma jovem ‘interessante, original que tem dotes artísticos, cria, escreve’ e se chama Dorota Masłowska.

Dorota criou uma linguagem peculiar, misturando neologismos, palavrões e expressões eruditas. Além disso, em alguns, momentos, a linguagem dos quadrinhos imiscui-se no livro- sendo que existem algumas páginas ilustradas e organizadas como uma HQ.

Lançado no Brasil pela editora Record, o livro não causou tanto furor aqui quanto em seu pais natal- apesar da excelente tradução de Marcelo Paiva de Souza, que conseguiu preservar (ou quiçá recriar) as complexidades da linguagem do original.

Lá fora, no entanto, o livro (e a autora) tem sido bem recebido: além de ter ganho os prêmios Nike, Paszport Politik e Deutscher Jungendsliteraturpreis foi traduzido- além do português- para francês, russo, checo, alemão, lituano, húngaro, inglês e italiano. Em 2010 foi lançado um filme baseado no livro, dirigido por Andrzej Zulawski- que retém muitas das características absurdas do livro.

Um livro que desperta as mais diversas reações e, por isso mesmo, um livro que deve ser lido. Mesmo aqueles que não se agradarem com o estilo rápido, raivoso e ao mesmo tempo vulgar e erudito de Dorota, ainda podem obter um vislumbre de como a juventude daquele país tão distante e, as vezes, considerado tão exótico vive hoje, depois de 50 anos de dominação estrangeira e 20 de uma liberdade questionável- em que a vida ocidentalizou-se, os políticos continuaram corruptos e as perspectivas ainda parecem um tanto limitadas, ao menos para a parte menos abastada da população.

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Branco Neve, Vermelho Rússia

Dorota Masłowska

Tradução de Marcelo Paiva de Souza

272 páginas

R$ 37,90

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