Ilha do Medo, publicado originalmente como Paciente 67 ((aliás, é possível encontrar os dois títulos à venda pela Companhia das Letras)), é um romance policial onde nada é o que aparenta e realidade, delirios e medos se misturam num turbilhão de suspense que prende desde o começo. Escrito por Dennis Lehane (Sobre Meninos e Lobos), somos introduzidos à ilha Shutter pelas memórias do Dr. Lester Sheehan, ex-psiquiatra do manicômio localizado lá.

Ele fala sobre um interessante amigo chamado Teddy Daniels e sua maneira peculiar de observar os pequenos detalhes. A partir daí a narrativa nos leva para o primeiro dia do Xerife Daniels, e seu novo parceiro Chuck Aule, no complexo psiquiátrico à procura de uma paciente que sumiu misteriosamente.

Espantou-se com a beleza notável da mulher ou com a evidente loucura?

A paciente desaparecida é Rachel Solano, acusada de matar seus três filhos num lago e viver presa na ilusão de que nada aconteceu, antes de fugir ela deixa um bilhete com um enigma um tanto curioso (diversas frases e perguntas). Teddy se envolve cada vez mais no caso e revela também ter outros mistérios, de cunho pessoal, para solucionar em seu tempo na ilha. Esse quebra-cabeças recheado de pistas falsas, alimentadas por personagens ambiguos e conspirações no período da Guerra Fria.

A gente emerge sem história. Depois, entre um piscar de olhos e um bocejo, reorganiza o passado, dispondo os fragmentos em ordem cronológica, reunindo forças para enfrentar o presente.

Teddy ainda vive à mercê da perda da mulher, Dolores, em um incêndio, durante seus sonhos a vê diversas vezes dando pistas sobre o caso e muitas vezes enganando sua conscência seduzindo-o para viver num sonho eterno (alias, as descrições dos sonhos são um aperitivo a parte na narrativa de Lehane). Contudo, e para piorar, sofre com incessantes dores de cabeça.

Entre devaneios, verdades, mentiras e um clima sufocante, nos vemos cercados por um personagem clamando por rendenção e justiça. É notável que depois de todo o thriller, o mistério para nós seja deixado de lado para admirarmos a coragem e a psique de Teddy Daniels: um personagem que se descobre humano e comum.