Fábio Moon e Gabriel Bá são contadores de histórias. Fábio é formado em Artes Plásticas pela FAAP, gosta de dança de salão e músicas cantadas por mulheres. Gabriel é formado em Artes Plásticas pela ECA-USP, não lê jornal e gosta de estar na companhia dos amigos. Fábio e Gabriel são irmãos. Gêmeos. Eles cresceram juntos, sempre moraram juntos e trabalham juntos. Já publicaram no Brasil, Estados Unidos, Espanha, França, Alemanha e Itália. Já ganharam os prêmios Jubuti, Eisner, Harvey, HQ Mix, Angelo Agostini e o Xeric Foudation Grant. Eles sabem que ninguém é uma ilha e a importância que uma pessoa tem na vida de outra e é isso que eles querem contar em suas histórias.
Para isso, eles criaram os 10 Pãezinhos. Juntos. Agora os dois responderam juntos às 10 Perguntas e meia!
1. Como surgiu a idéia de trabalharem juntos com a “nona” arte? E a criação da 10 paezinhos?
Fábio– Somos gêmeos, sempre desenhamos juntos, ao mesmo tempo, crescemos dividindo essa paixão. Acho que, quando trabalhamos juntos, essa paixão pelos Quadrinhos é sempre maior do que quando colaboramos com outros autores, então para nós é sempre mais prazeiroso um projeto conjunto.
Gabriel– Criamos o fanzine 10 Pãezinhos em 97 pra podermos mostrar aos amigos da faculdade o que nós tanto amávamos nos Quadrinhos, todas suas possibilidades. Já havíamos feito outros fanzines com outros autores, mas somente quando fechamos o círculo somente em nós dois é que a coisa realmente alavancou, pois temos uma sintonia muito grande. Foi importante se fechar em um mundo mais restrito e aprender nosso ofício. O fanzine foi nosso laboratório, nosso aprendizado a olhos nus.
2. Muitas pessoas acreditam que existem diferenças mínimas, umas parecem com caneta, outras com pincel… Há diferença de traços entre os dois?
F- Milhões, mas acho que várias são visíveis mais na diferença da técnica. Eu uso pincel e o Bá, caneta. O resto é subjetivo.
3. Entre os dois, quem é o mais criativo? Há uma competição de irmãos?
F– Existe uma competição saudável entre nós, uma busca de superação e de crítica constante. Nossa competição não deixa a peteca cair.
G– Antes de mais nada, existe a necessidade de agradar o outro, o leitor mais exigente. Somos muito críticos.
F– O reconhecimento é o resultado de anos de trabalho e dedicação. Acho que nossa busca por trabalhos mais autorais também cria um reconhecimento pessoal, e não só do trabalho, que acho importante quando trilhamos caminhos menos convencionais, ou menos comerciais, como contadores de histórias. Acho ótimo, me incentiva a continuar sempre em frente.
G– O importante é trabalhar, se esforçar e se superar sempre. Se os prêmios ajudarem a destacar o trabalho, melhor.
5. Graças a esse reconhecimento vocês conseguem trabalhar com diversos artistas, há alguma ambição maior no quesito parceria?
F– a melhor parceria é com o Bá, então estou no topo. Admiro, até idolatro, alguns autores, mas a parceria precisa de mais do que isso, precisa de uma sintonia que não acho que seria melhor do que a que nós dois temos.
G– Toda parceiria depende muito de um projeto que a dê sentido. Pra nós dois, trabalhar juntos é natural. Trabalhar com outro autor, independente de quem seja, depende do projeto.
6. Gostariam que algum trabalho de vocês fosse adaptado para o cinema ou alguma outra mídia?
F– Ainda não.
G– Não tenho este desejo. Se acontecer, espero que seja bem feito, respeitando a história e a linguagem para qual for adaptado.
F– O Alienista foi feito a convite da editora. Fazer adaptações entra na mesma categoria dos trabalhos com outros autores, é preciso haver uma sintonia entre o que queremos contar e a história a ser adaptada. Temos vontade, mas como fazer quadrinho demora muito tempo, estamos agora nos concentramos nas nossas próprias histórias.
F-Tudo depende de qualidade e esforço. O mercado está crescendo, o interesse está aumentando, agora as editoras e os autores precisam acompanhar esse movimento.
G– O mercado nacional é muito pequeno, tá todo mundo no mesmo barco. Publicando com editoras ou independentemente, o esforço maior vem dos autores. Não tem competição.
F– Cada um dos autores era responsável por escrever um apartamento dentro do prédio em que se passa a história, mas depois passávamos horas discutindo os roteiros para manter a história coerente, para decidir como era a melhor forma de misturar os capítulos, essas coisas. Deu muito trabalho, mas esse era o desafio.
G– Primeiro partimos do que cada um queria contar, queria explorar graficamente, decidindo então por uma história de terror. Depois cada um desenvolveu os capítulos de seus respectivos personagens e fomos entrelaçando as histórias pra contruir a tensão. Sabíamos tudo que iria acontecer, mas só fomos ver o resultado final quando a história inteira estava montada.
F– Milton Hatoum, Fernando Meirelles e Laerte, no Brasil. No mundo, Neil Gaiman, Murakami, Cristopher Nolan. Iñarritu, Del Toro, Cuaron, esses cineastas de língua espanhola. E a Pixar.
G– O Saramago morreu. O mundo era dele.
G– Metade é uma medida definida. “Quase” deixa uma abertura que nos agrada, uma incerteza.
—
A equipe Meia Palavra agradece a atenção de Fábio e Gabriel.
Bem legal quase todas as repostas, principalmente da pergunta 6, sintetizou tudo o que penso.
Conheci os dois no FIQ de 2009, e pelo que vi eles nunca terão um reconhecimento decente por aqui.
Pixu (que é ruim, essa é a verdade) só teve as edições esgotadas (no evento) porque a Becky Cloonan e o Vasilis Lolos estavam presentes, então eles deram um certo “peso internacional” e, não sei porque, isso deu um peso maior à obra.
Bem… “maiores” contadores de histórias pelo visto não significa que sejam bons contadores…