“Ele viu, o russo. o astronauta, viu isso cá embaixo, hoje de manhã, como nenhum homem viu antes dele. E disse: azul. A Terra é azul. Então o que a gente aprendeu até agora nas aulas de geografia está errado.”
Eduardo e Paulo são dois meninos de 12 anos, que crescem em meio a um Brasil da ditadura. Um dia, são expulsos da sala de aula e, para fugir da suspensão do diretor, decidem pegar suas bicicletas e nadar em um lago da região. A narrativa é uma memória contada, anos depois, sobre esse dia, que marcou os amigos.
“Mesmo aqui, hoje, mesmo nesta cidade estrangeira onde vivo de tempos em tempos, mesmo hoje, às vezes, o mesmo vento frio que pareceu soprar naquele dia morno, balouçando, levemente, de um lado para o outro, suavemente, o capim alto que havia em volta do lago onde a gente foi se refugiar naquela manhã, longe dos adultos, como tínhamos feito durante todo o verão.”
“Se eu fechar os olhos agora, ainda posso sentir o sangue dela grudado nos meus dedos. E era assim: grudava nos meus dedos como tinha grudado nos cabelos louros dela, na testa alta, nas sobrancelhas arqueadas e nos cílios negros, nas pálpebras, na face, no pescoço, nos braços, na blusa branca rasgada e nos botões que não tinham sido arrancados, no sutiã cortado ao meio, no seio direito, na ponta do bico do seio direito”.
“Paulo ficou sozinho na sala. A dor foi aumentando, tomando conta de suas pernas, seus braços, seu peito, até chegar aos olhos e ia se transformar em lágrimas quando ele mordeu o lábio inferior, com força, cada vez com mais força, tentando transferir uma dor para outra. Mas as lágrimas correram assim mesmo, finas, pelos cantos dos olhos, descendo pelo rosto que já começava a inchar. Paulo correu para o banheiro, fechou a porta sem trinco torcendo para que nem o pai nem o irmão entrassem naquele momento, pegou a toalha de rosto e enfiou na boca. Assim, abafadamente, secretamente, chorou e gemeu enquanto o som de algum rádio, em alguma casa vizinha, trombeteava mais uma vez o primeiro voo que um ser humano tinha feito no espaço”
Se eu fechar meus olhos agora
Edney Silvestre
304 páginas
Preço sugerido: R$34,90
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