Martin Booth foi um escritor britânico muito celebrado entre 1967 e 2004 (ano em que veio a falecer), professor, autor de poemas e livros que infelizmente não chegaram ao Brasil com excessão de Um Homem Misterioso (A Very Private Gentleman, 1990) lançado pela Editora Record em outubro e adaptado para o cinema em 2010 com George Clooney no papel principal.

Nesse thriller somos apresentados ao Signor Farfalla, ou seja, o Sr. Borboleta, um reservado britânico que passa seus dias pintando borboletas e que está em uma pequena aldeia italiana em busca de uma espécime rara. Todavia, esse artista esconde outra profissão pela qual é famoso: um artesão de armas para assassinatos.

O anti-herói, cujo nome verdadeiro é Clark, permanece no anonimato e a única pessoa que sabe sobre sua identidade é o Padre Benedetto – a figura de seu melhor amigo e confissor, com quem divide às noites entre um copo e outro de  Armagnac. Apesar das confissões não surtirem tanto efeito à principio, Farfalla conhece Clara, seu novo refúgio dentro do refúgio na pequena aldeia. Com todas as personagens apresentadas o terrível “habitante das sombras” está pronto para acabar com o sossego do personagem.

Nos momentos com Clara, a pieguisse chega a irritar. A personagem faz alusões entre o apelido Farfalla, a metamorfose da lagarta em uma borboleta e o medo do envelhecimento e do amor. Ou mesmo quando eles citam o destino entre ficar naquele fim de mundo ou conhecer o que há fora de lá – uma disputa entre quem quer fugir da vila e quem quer fugir do resto do mundo.

Como todo bom assassino em um thriller psicológico, o Sr. Borboleta quer se aposentar depois de anos auxiliando assassinos – quase que diretamente – em seus crimes, ou seja, ele vive atormentado por fantasmas do passado e do presente – moldado pelo último trabalho encomendado a ele: uma arma para acabar com Yasser Arafat.

Todo o conhecimento de Clark sobre armas, sua explicação das diferenças entre munições, montagens e tudo que envolve um bom armamento – reconhecendo seus maiores erros e seus maiores acertos nesse trabalho – é um dos detalhes mais ricos e fortes da trama.

Apesar de pequenos deslizes (que acontecem mais nos diálogos), as criações dos personagens e o mistério do livro conseguem carregar o leitor sem cansá-lo graças ao ritmo cadenciado. Nesse ritmo de paranóia e perseguição é que notamos o trunfo de ler Um Homem Misterioso: o apoio em pequenos detalhes para prender o leitor do começo – onde tudo parecia calmo – até o fim eletrizante, num jogo de gato e rato que se inverte e que atingi pessoas inocentes de diversos círculos.