Escrever sobre religião, fé e dogmas é uma batalha árdua, primeiro por se tratar de um assunto que mexe com pessoas que acreditam cegamente e aqueles que a negam, sem contar em diversas teorias filosóficas que tentam provar os benefícios e os malefícios, todavia, todas tem um ponto em comum: posicionar o homem em um papel fundamental na Terra. E desse ponto partem, se tudo é criado quem criou o tal do criador? É nesse ponto que vemos um cenário construído por Paulo Rosenbaum, médico e poeta, entrelaça acontecimentos entre os séculos XIX e XXI, onde filosofia, religião e segredos se chocam.
É interessante notar que de um contexto totalmente religioso da primeira parte possamos partir para uma segunda parte que mistura dois caminhos perigosos: Yan e Sibelius estão presos nos alpes e o resgate parece impossível e nesta situação extrema temos um choque entre acreditar que ainda existe Alguém acima do poder do homem para salvá-los e sobre o sentido que a vida tomou para chegarem até lá. Nesse ponto temos o problema de um diálogo truncado, de difícil associação com a realidade, afinal, em uma situação extrema, é bem difícil que duas pessoas conversem de maneira civilizada ou racional.
Esses temas universais, por mais que as religiões destoem uma das outras – muitas tenham suas similaridades – o homem ainda tenta superar seus poderes (ou dogmas) através dos seus questionamentos. Porém esses levantamentos podem chegar ao fim com a descoberta de Zult Talb, um rabino filósofo, que guarda um segredo secular que ensina um novo estado de espírito, chamado de Devekut, onde a energia de Deus pode chegar ao corpo humano. Esse segredo será mantido em manuscritos que serão descobertos numa época onde a fé não é mais questionada, mas pior: ela foi esquecida e seu único descendente (aquele que pode saber do segredo) é um médico afastado das tradições judaicas.
Paulo Rosenbaum pretendia escrever um livro tão complexo? Creio que não, apesar de toda a beleza estética e uma narrativa singular, as sentenças mais racionalizadas fazem com que o livro perca sua força, não pela mensagem que tenta passar, mas pelo simples fato de não se deixar as mensagens e questões filosóficas moldarem seus personagens que apesar de tudo apresentam características admiráveis só que pouco tangíveis. Suas metáforas e as ligações inevitáveis, por outro lado, são bastante agradáveis para segurar o leitor até a última e mais bela parte desse romance.
Contudo, questionar Deus já é admitir a sua existência, para ser ateu é necessário perspicácia. Seja racionalidade ou fé, os personagens de Rosenbaum procuram algo para acreditar em imanência numa época em que a própria ciência tem seus dogmas e as tradições ficaram tão ramificadas que precisam ser unidas e estudadas para seu melhor entendimento ou sua total negação.