Neste domingo, 27 de Fevereiro, acontece a tão esperada cerimônia de premiação do Oscar. Nas duas últimas sextas-feiras, eu falei um pouco de cada candidato que está concorrendo à categoria de melhor filme. (clique para ler o primeiro e o segundo artigo). Para essa semana, restam “Bravura Indômita”, “Inverno da Alma”, “O Vencedor” e “O Discurso do Rei”.
“Bravura Indômita” (True Grit, 2010) é mais uma das obras adaptadas da literatura que estão concorrendo ao prêmio, além disso, também é uma refilmagem: A primeira versão do filme foi feita em 69 e, inclusive, recebeu uma estatueta do Oscar na categoria de melhor ator (com John Wayne). Já essa nova versão, dirigida por Ethan e Joel Coen, é mais fiel ao livro de Charles Portis em alguns diálogos e no espírito sarcástico, no entanto, traz novos contextos, pontos de vista e inovações.
O remake está concorrendo a 10 categorias do Oscar e, apesar de não estar cotado entre os favoritos para melhor filme, acho que tem chances de levar algum prêmio da cerimônia. A direção de Arte e fotografia é impecável: Figurinos, cenários e iluminação recriam com perfeição o ambiente de faroeste do filme. O roteiro possui diálogos que variam entre momentos de tensão, humor e cenas fortes.
O destaque também fica por conta da personagem Mattie Ross, que é muito bem interpretada pela novata Hailee Stenfeld, como uma menina que busca vingar a morte do pai, e, por isso, contrata um assassino mercenário e persegue o assassino. A personagem, apesar de criança, consegue ser bastante firme e determinada em suas decisões, tornando-a até mesmo engraçada, pois não é esperada uma postura e presunção tão grande de alguém com a idade dela.
A história gira em torno da vingança de Mattie, mas outros personagens importantes são o mercenário Reuben “Rooster” Cogburn (Jeff Bridges) e o ranger texano LaBoeuf (Matt Damon), todos em busca do mesmo assassino. Os três personagens têm carisma e conseguem manter a narrativa interessante do início ao fim.
Já “Inverno da Alma” (Winter´s Bone, 2010) surge com 4 indicações ao Oscar e talvez seja a grande zebra dessa edição. A trama acontece praticamente o tempo inteiro em ambientes externos que, há de se dar o mérito, são muito bem fotografados e enquadrados.
A história trata de vida de uma menina de 17 anos de idade, Ree Dolly (Jennifer Lawrence) que precisa encontrar seu pai a todo custo, pois ele, que estava preso, usou a casa de sua família como forma de pagar sua liberdade condicional e fugiu. Nesta busca, a menina passa por momentos de violência e tensão ao redor do mundo do tráfico de drogas.
Na minha opinião, o filme tem cenários, fotografia e uma boa atriz, Jennifer Lawrence, mas não surpreende. O roteiro intercala momentos de grande monotonia com uma tentativa de tensão que, quase todas às vezes, cai num drama deliberado. O mesmo acontece com os diálogos, que também são ora excessivamente dramáticos, ora vazios. Inverno da Alma é um filme distante do público.
A opção de trabalhar com ambientes externos é bonita, no entanto, enfraquece a Direção de Arte, especialmente no quesito do figurino. O filme se passa no inverno e grande parte dos takes são feitos na neve. A cor branca é o tempo todo predominante e, assim, absolutamente qualquer roupa ou objeto de outra cor têm destaque. Mesmo assim, o figurino não foge do básico e da falta de criatividade.
Outro filme que debate a temática das drogas e concorre ao prêmio é “O Vencedor” (The Fighter, 2010), que vem sendo tratado de forma bem simpática pela crítica e concorre à 7 categorias, incluindo Melhor Filme.
No filme, temos a história do boxeador Micky Ward, interpretado por Mark Wahlberg. Ele vive à sombra de seu irmão mais velho, Dicky (Christian Bale), que é ex-boxeador e teve um momento de auge em sua carreira ao vencer Sugar Ray Leonard. Dicky e sua mãe Alice (Melissa Leo) só colocam Micky em brigas fadadas à derrota e o boxeador precisa aprender a fazer escolhas e tentar ajudar o irmão a parar de usar drogas e se reerguer.
“O Vencedor” é bastante regular e cumpre com o que foi esperado. O roteiro não apresenta grandes surpresas e tem ganchos e desfecho óbvios, mas se destaca porque consegue circular entre protagonista e coadjuvante muito bem, fazendo com que ambos tenham suas próprias histórias e objetivos.
Se temos, de um lado, a meta de Micky por conseguir o título de Campeão Mundial, de outro, surge o drama de Dicky para largar o vício do crack. Além disso, ainda há o relacionamento amoroso de Micky e Charlene Fleming (Amy Adams) e o desespero de Alice por querer participar, a todo custo, da vida e formação de opinião dos filhos.
Por fim, o favorito ao prêmio, “O Discurso do Rei” (The Kong’s Speech, 2010) concorre em 12 categorias e conta a história de George (Colin Firth), personagem que é gago desde os 4 anos de idade e já tentou diferentes tratamentos para solucionar o problema, sem sucesso. Este problema se torna ainda maior pelo fato de que ele é membro da família real britânica, que freqüentemente precisa fazer discursos públicos e no rádio, ferramenta que começava a ser usada para comunicar, aproximar e conseguir o carisma dos cidadãos.
Certo dia, Elizabeth (Helena Bonham Carter) consegue fazer com que George se encontre com um terapeuta da fala”, Lionel, (Geoffrey Rush). Os métodos de Lionel são incomuns e, num primeiro momento, absurdos. Mas, com o passar do tempo, George e Lionel conseguem, além de resultados práticos, uma amizade.
O Discurso do Rei conta com somente o diálogo para manter o roteiro. Não há tiros, não há ações emocionantes com mortes e massacres. Há sim, em uma grande maioria de tempo do filme, conversas entre George e Lionel. No entanto, a história não deixa em nada há desejar.
George e Lionel são completamente diferentes em suas personalidades, no entanto, seus diálogos se desenvolvem de forma não estereotipada. Suas vivências e realidades, tão diferentes, vão sim fazer com que eles falem e ajam de maneiras distintas, mas nada escrachadas. O cômico surge de forma leve e sutil. Esses diálogos não somente são interessantes, mas entram como a base toda para as cenas que se passam em outros ambientes. Não é só uma amizade que surge entre George e Lionel, mas sim, como o próprio diretor, Tom Hooper menciona “é uma saga de cumplicidade”.
O Discurso do Rei é favorito para essa edição do Oscar, mas existem boatos de que ele pode não ganhar por ter omitido as relações de amizade entre George VI e Hitler. No filme, Hitler é tratado de forma distante, quase como um desconhecido que George admira pela boa pronúncia em discursos. Acredito que, fatos à parte, uma narrativa tão sutil e delicada como “O Discurso do Rei” realmente não precisava enfocar em uma questão política como essa.
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Eu sei, isso é um blog, ninguém se importa, mas os supostos argumentos que você apresentou contra Winter’s Bone não fazem O MENOR SENTIDO, Ingrid. NENHUM deles.
– Primeiro, se o filme não te surpreendeu *nem* em termos de trama, você possivelmente não entendeu a resolução (o que é compreensível: trata-se de uma progressão de revelações tão sutis que são quase subliminares, algo basicamente inédito em indicados ao Oscar).
– Segundo, o que você despreza como “monotonia” (eu argumentaria a validade do uso pejorativo desse termo, tendo em vista Antonioni etc, mas sejamos pragmáticos), por exemplo, é um esforço contemplativo, não apenas solidificando o realismo da narrativa, mas também refletindo a estagnação social dos personagens *E* explorando a dialética ambiente-indivíduo em uma sociedade patriarcal (filosoficamente um paralelo poderia ser feito com os Westerns de Anthony Mann, embora não em termos formalísticos).
– Aliás, “patriarcal” é o termo-chave aqui; o filme é basicamente sobre uma mulher confrontando um mundo de homens. E por falar em estagnação social, a direção de arte faz um excelente trabalho em refletir isso. Afinal, trata-se de um neo noir, um mood-piece, e atmosfera no caso é claramente tão importante quanto eventos (se não mais) em termos de explorar os temas. Sim, é tudo meio igual e monocromático. Assim como a vida dos personagens. Lembre-se: estilo às vezes É substância.
– Eu tive que destacar isso: falta de criatividade nos figurinos? É um filme sobre hillbillies traficantes que vivem no meio do mato. Os figurinos são completamente autênticos, i.e. roupas velhas, deselegantes, compradas em brechós ou herdadas de parentes. “Moda” praquela gente não é só algo secundário, é algo que existe basicamente em outro mundo. Essa teria sido a reclamação mais estapafúrdia, não fosse…
– Não é questão de opinião: os diálogos *não são*, definitivamente, de forma alguma, de qualquer ângulo que você olhe “ora excessivamente dramáticos, ora vazios.” Não há sequer informações nesta frase. Seria frustrante ter que explicar o conceito de naturalismo, e porque não é em termos de “drama” e “profundidade” que bons roteiristas escrevem diálogos, então tudo que eu posso fazer é observar que os diálogos em Winter’s Bone são, a priori, *autênticos*. Eles são extremamente naturalistas, e toda e qualquer poesia ou insight parecem totalmente incidentais. Aliás, “incidental” é outro termo importante, porque ele pode ser considerado o oposto de “deliberado”. Todo o drama nesse filme é extremamente incidental, e no entanto a resenha diz que ele é deliberado. Será que é a minha definição de “deliberado” que está errada? Ou será que a Ingrid não entendeu Winter’s Bone? Mistérios…
P.S.: Nada pessoal.
Eu queria saber qual é o melhor filme desses, é uma coisa para o habbo, e preciso saber.
A presença de Inverno da Alma dentre os indicados à estatueta de melhor filme é, na minha opinião, uma ponta de esperança de que a academia um dia venha a espandir sua visão para além do espetáculo Hollywoodiano (não que eu não reconheça o mérito dos brokebusters). Discordo completamente do que escreveu Ingrid, mas respeito tua opinião! Concordo com sua posição “V”, e acrescento que é uma pena que o grande público ainda não tenha desenvolvido a sensibilidade necessária para reconhecer uma grande obra!