Ivo Barroso nasceu em Ervália, MG, em 1929. É um amante da Literatura desde a mais tenra idade, foi aluno da Faculdade Nacional de Filosofia no Rio de Janeiro, e tendo escolhida voltar-se às Letras, logo passou a traduzir poesia, contribuindo com suplementos e revistas da época. Foi encarregado pelos trabalhos da Coleção dos Prêmios Nobel de Literatura, ajudou Houaiss na Grande Enciclopédia Delta-Larousse e Carlos Lacerda na Enciclopédia Século XX. Ganhou diversos prêmios por suas traduções inclusive o Prêmio Jabuti pela tradução de O Livro dos Gatos, de T.S. Eliot, e o Prêmio da Academia Brasileira de Letras, pelos esforços tradutórios em Teatro Completo, também de T.S. Eliot e Seu notável trabalho com a tradução inclui Shakespeare, Rimbaud, Eliot, Hesse, Calvino, Kazantzakis, Eco, Svevo e diversos outros. Além disso, pode ser encontrado no Gaveta do Ivo, seu blog.

01. Como a tradução chegou para você? Através da escrita, do amor a literatura, por necessidades financeiras…

Creio que pela curiosidade. Antes mesmo de ter conhecimentos linguísticos já tentava adivinham o sentido de palavras estrangeiras, um pouco assim como quem resolve enigmas ou mata palavras cruzadas. Mais tarde, já engatinhando em dois ou três idiomas, passava horas catando as palavras em precários dicionários de bolso que frustravam boa parte das minhas ilusões.

02. Quais as armadilhas e as benesses da tradução da poesia? Ser poeta ajuda a traduzir poesia?

Não posso imaginar um tradutor de poesia que não seja poeta. Poemas traduzidos em prosa deixam de ser poemas. Na tradução, em geral, as armadilhas são muitas e, em poesia, a principal é a frustração de nunca se alcançar a reprodução da totalidade do poema. Quanto às benesses, agrada-nos às vezes produzir um belo verso que poderia ser nosso.

03. O que representa para você de ter seu nome associado com gigantes da literatura como T.S. Eliot, Hermann Hesse, André Malraux, Arthur Rimbaud?

Uma grande responsabilidade e muito exercício de estilo para não frustrar o leitor.

04. No blog LendoWalden, Denise Bottmann tem mostrado como o processo de tradução mergulha fundo no universo do autor, tanto em relação ao contexto histórico como quanto a língua estrangeira bem como referências, informações biográficas, idiossincrasias etc. Que tipo de informações costuma levar em conta ao traduzir?

Como em geral só traduzo livros propostos por mim, fica implícita desde logo uma certa familiaridade com a(s) obra(s) do autor, inclusive com sua época, seus contemporâneos e sua biografia.

05. No que a tradução mudou sua experiência de leitor? Alguma tradução o fez mudar de idéia em relação a algum autor ou obra?

De idéia em relação a um autor, não; mas houve  uma que me fez mudar de vida. Quando li, primeiro em espanhol, o Demian, de Hermann Hesse, determinei-me a traduzi-lo para que outros, como eu, pudessem se beneficiar com minha experiência – o livro me ajudara a libertar-me (em grande parte) de uma timidez obsessiva, que me incapacitava  inclusive  para a literatura.

06. Quando o ato de trazer ao vernáculo se torna uma arte?

Quando o tradutor consegue transpor o que está dito da maneira em que foi dito, ou seja, reproduzir integralmente o estilo do autor.

07. O que pensa sobre a discrepância encontrada entre obras traduzidas e obras de escritores nacionais no mercado editorial brasileiro? Isso é um problema ou apenas questão de proporionalidade?

Em geral as obras traduzidas são bestsellers já consagrados em outros países e adquiridos por nossos editores já com essa garantia de vendas; daí o número de traduções superar grandemente o das obras produzidas no país, as quais, salvo algumas exceções, são sempre uma incógnita de vendagem. Observe que não me refiro à qualidade.

08. Das “tendências” literárias atuais: qual sua opinião? A Internet é mocinha, vilã ou algo não tão dicotômico assim?

A Internet é uma ferramenta que pode ser muito útil e estimular inclusive, através da pesquisa (que é o seu forte), a leitura do livro-objeto. Mas acho ocioso pensar-se que ela será capaz de acabar com o livro, ou algo assim.

09. Das traduções que tem no currículo, alguma pela qual tem algum apreço ou orgulho em especial? Alguma tradução na qual gostaria de ter seu nome?

A tradução em que, por necessidade do próprio texto, mais tive que interferir, numa espécie de criatividade paralela, foi Os Gatos (Old Possum´s Book of Practical Cats) de T. S. Eliot. A que me deu mais trabalho foi  A Vida, modo de usar, de Georges Perec. E a de que mais gosto são os (agora 50) Sonetos, de William Shakespeare.

10. Você foi escolhido como um dos responsáveis pelas traduções das obras da Coleção dos Prêmios Nobel de Literatura, o que pensa que o Nobel representa para a Literatura Contemporânea? E sobre os últimos laureados, algum comentário? Apostas para 2011?

Representa, antes de mais nada, uma grande divulgação; o laureado passa a ser um escritor internacional, o que sem dúvida despertará a curiosidade dos leitores. Não entro na questão dos méritos, pois eu próprio tive algumas decepções. Quando morava na Suécia, fiz tentativas de promover a obra de Drummond junto à Academia Sueca, mas a grande frustração foi que ele morreu no ano em que teria sua maior chance de ser o escolhido.

1/2 – Entre a prosa e a poesia… Fico com ambas.

(A equipe agradece a atenção e cordialidade de Ivo Barroso)