Mari é uma jovem nipônica de apenas 17 anos, que vive em um mundo um tanto quanto limitado: desde a morte de seu avô sua única ocupação é ajudar a mãe, que é um tanto quanto superprotetora e dominadora, a cuidar do hotel da família (que, a essa altura, resume-se apenas às duas).
O hotel, chamado Hotel Íris, não é nenhum estabelecimento de luxo. Não fica perto da praia- atributo de todos os hotéis minimamente chiques da pequena cidade- e, na verdade, tem apenas alguns poucos quartos a partir dos quais se pode ver o mar, da maioria vê-se apenas uma peixaria.
Tudo muda, porém, quando um hóspede leva uma prostituta para o hotel e acaba causando confusão. Em meio à improperios proferidos pela prostituta, a indignação dos outros hóspedes e da mãe de Mari, surge a voz do homem, imperiosa e imponente, pronunciando com firmeza a ordem: ‘Cale a boca, sua puta!’.
E é a partir dessa frase que a autora, Yoko Ogawa- escritora japonesa cujo trabalho psicológico nos personagens é tido em alta conta por Kenzaburo Oe-, faz com que a heroína comece a interesar-se por esse homem bem mais velho, sobre o qual sabe tão pouco.
A sorte, porém, lhe sorri, e Mari o encontra em uma mercearia, perseguindo-o. Ela descobre que o homem é um tradutor de russo- via de regra apenas receitas e bulas de remédio, mas traduz um romance em que a heroína apaixona-se por seu professor de equitação- e existem rumores de que tenha matado sua esposa. Os dois, porém, aproximam-se e começa uma história de amor tão singela quanto perturbadora.
Contrastando com a timidez e os modos extremamente corteses do tradutor, uma vez que encontram-se sozinhos, ele mostra-se um pervertido, sádico e dominador, amarrando-a, humilhando-a, chutando-a e dando-lhe ordens que devem ser cumpridas a risca. Isso, no entanto, faz com que Mari se apaixone, no que é correspondida.
Usando de uma sutileza impressionante para descrever cenas da mais pura pornografia, Yoko Ogawa pode ser considerada uma grande esteta. Apesar da perversão das relações entre Mari e o tradutor, elas são cobertas por um sutil matiz amoroso, que não desaparece nem mesmo quando Mari é punida e o ódio parece tomar conta de seu companheiro.
Hotel Íris é uma história sobre descobertas e sobre segredos. Ao mesmo tempo que Mari descobre seu corpo e sua sexualidade, algumas coisas devem permanecer escondidas.
É a primeira obra de Ogawa a ser publicada por aqui, mas ela já é bem famosa lá fora, inclusive tendo recebido diversos prêmios no Japão e até um nos EUA, além de ter duas de suas mais de vinte novelas adaptadas para o cinema.
Hotel Íris
de Yoko Ogawa
208 páginas
R$ 34,90
Saiba mais sobre essa e outras obras no site da Editora Leya
Impressão minha ou existe um “quê” de Vladimir Nabokov em Lolita, neste livro?
Me atenção essa escritora, e que capa linda, diga-se de passagem. Parabéns a LeYa.
Tem uma pitada de Nabokov sim, Gustavo, apesar de ter um espírito totalmente diferente. Aqui o ponto de vista é feminino e a coisa é mais visceral, eu acho.
Verdade, parece ter um “quê” de Lolita..
Hum, mas deve ser legal. Eu vi esses dias em uma livraria, e me interessei principalmente pela autora ser japonesa (HIHI’), mas acho que vou comprar. 🙂
Li este este livro no mesmo dia que o comprei… o fato de ser perturbador e ao mesmo tempo sutil no desenrolar da história, fez com que eu não conseguisse parar de ler, tipo um vício como que parecido com o da Mari pelo tradutor, personagens da história…
Provido de várias interpretações a respeito das intenções dos personagens, este livro foge de ser um romance tradicional e apresenta um final trágico, onde permanece a angústia para entender o que levou a personagem a viver, ansiar e esconder os acontecimentos pelos quais passou.